Os mercados de capitais e de renda fixa poucas vezes estiveram tão colados como nesta semana. Poucas vezes também acenaram com impactos tão diretos sobre indicadores econômicos e o bolso da população. Nesta segunda-feira, dois setores críticos para a economia brasileira estarão na vitrine em São Paulo e Brasília: energia elétrica e petróleo.

Na B3, a Eletrobras começa a negociar suas ações, após a megaoferta estimada em R$ 33,7 bilhões que diluiu o capital da companhia. E, no Senado, deve ir à votação o projeto que prevê a limitação da cobrança de ICMS sobre combustíveis, energia elétrica, transportes e comunicações.

Em seguida, na terça e na quarta, o Banco Central (BC) e o Federal Reserve (Fed), o BC dos EUA, devem elevar suas taxas básicas de juros – movimentos que sancionam naturalmente o aumento do custo do dinheiro no sistema financeiro com o objetivo de conter a inflação e sob o risco de abater a atividade econômica.

Se o BC cumprir sua própria sinalização, elevará a taxa Selic pela 11ª vez consecutiva, dando curso a um dos mais longos e intensos processos de aperto monetário da história do país. O Fed, ao subir o juro, potencializa o temor de recessão e com consequências em todo o mundo. O dólar se fortalece.

A combinação desses eventos aponta para a privatização da Eletrobras que terá maior disponibilidade de recursos para investimentos; para a queda dos preços dos combustíveis e, portanto, da inflação plantada em dois dígitos há nove meses seguidos em base anualizada; e para o aumento da taxa básica de juros a 13,25% ao ano – nível quase sete vezes superior aos 2% observados no início do atual ciclo monetário há mais de um ano.

A agenda é enxuta, mas sua confirmação importa aos brasileiros e, muito, ao governo porque preços em queda beneficiam diretamente a recomposição de renda dos brasileiros – dilapidada durante meses a fio por forte aumento nos preços dos alimentos, conta de luz e transportes – e favorecem indiretamente a candidatura do presidente Jair Bolsonaro à reeleição.

O BC será o “patinho feio” da história se prevalecer a expectativa majoritária entre analistas do mercado financeiro de Selic resvalando em 14% ao menos até o segundo trimestre de 2023. Porém, o estrago provocado pelo juro elevadíssimo no humor dos brasileiros tende a ser relativizado com a brisa otimista soprada pelo alívio da inflação. Ao menos durante alguns meses.

A inflação cadente não vai durar para sempre se não for alterada sua dinâmica atual. A limitação do ICMS proposta pelo governo e encampada pelo Congresso vale até 31 de dezembro. Entretanto, outros fatores que pesam na inflação, e sobre os quais o governo brasileiro não tem controle, não dão sinal de trégua.

No mercado internacional, o preço do petróleo continua nas alturas, próximo a US$ 120 o barril; as commodities, em geral, não reverteram a alta acumulada no último ano; e a recuperação da China, após pesados lockdowns pela reincidência do coronavírus, está sob avaliação e coloca o mundo em compasso de espera.

Já o dólar no Brasil, embora abaixo de R$ 5, inspira atenção porque há expectativa de alta pelo recrudescimento de preocupações com o comportamento das contas públicas, a polarização – dada como certa – na corrida eleitoral rumo ao Palácio do Planalto e, de quebra, pelo ciclo de alta do juro patrocinado pelo Fed e pelo Banco Central Europeu (BCE) esperados a partir de julho.

Se as propostas que freiam os preços dos combustíveis forem aprovadas neste início de semana mais curta pelo feriado de Corpus Christi na quinta e entrarem rapidamente em vigor, o que muito interessa ao governo, o IPCA de julho poderá exibir a metade do efeito dessa redução. Parece pouco, mas não é.

Até o fim do ano, o governo terá a comemorar cerca de cinco meses de inflação distanciando-se dos dois dígitos no cálculo em 12 meses. Mas 2023 chegará com a fatura da aplicação de um ICMS contido e impostos federais zerados também sobre o diesel e o botijão de gás.

Esses ingredientes potencializam o risco de um financeiramente conturbado início do novo mandato presidencial. O Brasil sobrevive? Certamente. No entanto, um primeiro alerta sobre a intenção do governo de retirar do teto de gastos a compensação a Estados e municípios por perda de arrecadação do ICMS sobre o diesel e o gás de cozinha já foi disparado pela Moody’s Investors Service.

Na última sexta-feira, a agência de rating mandou uma breve mensagem: o expediente das isenções tributárias é “negativo” para o crédito soberano do Brasil – péssimo sinal para os investidores internacionais.