Quando converso com investidores brasileiros, especialmente com famílias, vejo um padrão claro – a busca pelos chamados ativos alternativos virou uma necessidade frente à queda das taxas de juros no país. A classe de ilíquidos, antes menos presente no portfólio dos investidores brasileiros, passou a ser tema obrigatório nas reuniões sobre alocação.

Para aqueles que estão avaliando investir nessa classe de ativos, sugiro uma análise que considere novas demandas globais. Uma dessas demandas é impulsionar negócios que, ao mesmo tempo, oferecem retorno financeiro para o investidor e constroem soluções de longo prazo para os problemas urgentes do país – em áreas como educação, qualificação profissional e saneamento básico. E muitos dos negócios que combinam essas duas vantagens são de porte médio.

Trabalho com médias empresas há muitos anos e vejo como elas são cada vez mais estratégicas para o Brasil. Um dos motivos para isso é que elas se apoiam em tecnologia para buscar soluções que podem ser escaláveis – e, assim, movimentam cidades e pessoas.

Já a chegada de investidores a essas empresas acelera o poder de escalar entregas positivas. Eles organizam a casa, estabelecendo melhores práticas e metas de longo prazo. No entanto, esse é ainda um mercado pouco visível para os brasileiros – nos Estados Unidos, por exemplo, o chamado middle market é há anos o queridinho dos investidores.

Recentemente, a consultoria McKinsey fez um relatório dedicado a duas forças esquecidas e interdependentes na América Latina. Uma delas, a classe média, viveu seu apogeu há alguns anos. Já a outra, as médias empresas, são o irmão do meio dos portfólios de investimento, escondidas entre as sedutoras startups e as consolidadas grandes empresas.

Nos Estados Unidos, o chamado middle market é há anos o queridinho dos investidores

O documento traz uma receita básica para um círculo virtuoso: investir em médias empresas focadas em soluções tecnológicas com o objetivo de criar empregos com melhores salários e, por consequência, impulsionar a classe média.

Como nada funciona isolado, para essa máquina positiva começar a se mexer, são necessárias reformas tributárias (para dar força competitiva às médias empresas) e também a ampliação da capacitação profissional (principalmente em áreas como ciências, tecnologia, engenharias e matemática).

É preciso construir uma nova realidade no país, em que haja espaço para as médias empresas – e que fuja do ambiente de negócios polarizado entre algumas grandes empresas globais e diversos negócios pequenos informais. Para isso, não basta ter investimento disponível, o investimento precisa estar direcionado para ações que realmente provoquem transformações de longo prazo, em seus negócios e países.

Conheço vários médios empreendedores brasileiros que, muitas vezes sem nem se dar conta, entregam com seus negócios saídas para a inclusão digital, o saneamento básico e a educação, entre outras áreas. Eles ajudam a melhorar a vida de milhares de brasileiros. São, juntos, o novo Brasil, com potencial de escalar, a partir de inovação, o que precisa ser resolvido com urgência – e trazem retornos financeiros para os stakeholders.

Luciana Antonini Ribeiro é managing partner e sócia-fundadora da EB Capital. Também é membro do conselho consultivo da ONG The Nature Conservancy e do comitê de investimento da e.bricks Ventures. Tem mestrado em Direito Comercial pela USP e MBA pela Columbia Business School, entre outras formações