Uma estreia para mostrar que existe apetite por bons ativos, empresas e trajetórias de sucesso no Brasil. Com essas palavras, Gilson Finkelsztain, presidente da B3, abriu a cerimônia da disputada abertura de capital da Vivara, hoje pela manhã, em São Paulo.

E, a julgar por suas projeções, o mercado brasileiro de capitais tem tudo para ser encorpado, em breve, com muitas outras histórias de companhias locais. E não necessariamente com IPOs que captem recursos de mais R$ 2 bilhões, como foi o caso da rede de joalherias.

“Acredito que, a partir de 2020, veremos uma redução do tamanho médio dos IPOs no Brasil”, disse Finkelsztain. “Vamos ter um movimento com empresas médias e de menor porte começando a acessar o mercado de capitais.”

Momentos antes, em seu discurso, ele havia apontado fatores como as taxas de juros baixas e as perspectivas de maior estabilidade com as reformas para traçar um cenário mais otimista para o segmento.

Segundo Finkelsztain, bancos e fundos têm mostrado um interesse crescente para trabalhar com companhias menores. E vêm sendo muito ativos em consolidar uma agenda para educar as empresas que se encaixam nesse perfil quanto aos passos para se concretizar um IPO.

“No mundo inteiro, o tamanho médio dos IPOs nos últimos 24 meses foi de cerca de US$ 140 milhões”, afirmou. “Enquanto que, no Brasil, nesse mesmo período, essa média foi de US$ 500 milhões.”

Essa distância está expressa em outros dados compilados pela consultoria EY. De acordo com a empresa, em 2018, a média mundial de aberturas de capital ficou em US$ 99 milhões, contra US$ 801 milhões no Brasil.

A cifra ficou longe de países como o México, que registrou um valor médio de captação de US$ 387 milhões no período. E mais ainda de mercados como os Estados Unidos, onde o montante foi de US$ 111 milhões.

Os valores nesse patamar não são, de fato, um ponto fora da curva nos Estados Unidos. Mas sim o retrato de um ecossistema maduro e consolidado, no qual o caminho para o mercado de capitais é mais acessível para companhias menores. Inclusive de outros países.

Gilson Finkelsztain, presidente da B3

Esse foi o caso da brasileira Arcos Educação. Com um faturamento de R$ 244 milhões em 2017, a empresa recorreu à Nasdaq para abrir capital, em outubro de 2018. No processo, a companhia captou US$ 194,5 milhões, ou cerca de R$ 780 milhões.

A caminho da maturidade?

Existe um consenso entre as fontes consultadas pelo NeoFeed de que há um cenário propício para que o acesso ao mercado de capitais no Brasil seja mais democrático no médio prazo. Há, no entanto, divergências quanto aos efeitos e à consistência desse movimento.

“Não diria que o mercado brasileiro já está maduro, mas há sinais muito favoráveis de que isso pode se consolidar”, diz Rodrigo Franchini, sócio e head de produtos da assessoria de investimentos Monte Bravo.

“Esse segundo semestre tem sido importante para o mercado entender que é preciso perder o medo”, afirma Franchini, em uma referência à série de follow ons lançada recentemente por empresas de diversos setores no País. E também à demanda dos investidores pelo IPO da Vivara.

“Em uma economia desenvolvida, é sempre mais barato se financiar via mercado de capitais”, diz Franchini. “Com a perspectiva de um PIB mais ajustado e manutenção dos juros baixos, a tendência é ter também empresas menores entrando nesse cenário em 2020 e nos próximos anos.”

Em um contraponto, há quem enxergue esse contexto favorável com cautela. “É preciso tomar cuidado pois os bancos costumam aproveitar momentos de liquidez para contar uma história bonita e trazer qualquer ativo para o mercado”, diz Renato Ometto, gestor de renda variável da Mauá Capital.

O histórico de instabilidades do País reforça sua visão mais comedida. “Até hoje, o mercado brasileiro de capitais viveu apenas de janelas de oportunidade, onde as noivas mais enfeitadas conseguiam acesso”, afirma. “Esse movimento agora tende a ser consistente, mas é preciso mais tempo para que se prove que não é apenas mais uma onda.”

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