O executivo Rodrigo Abreu é um torcedor do Palmeiras e vai com frequência ao Allianz Parque assistir aos jogos de seu time do coração. Pergunto a ele, no fim de nossa conversa, se a equipe verde será campeã brasileira. Rapidamente, ele pega seu celular e mostra uma discussão de um grupo de WhatsApp, chamado “Elite Palestrina”, do qual participa.

No grupo, um dos participantes mandou, rodada a rodada, todos os jogos em que o Palmeiras venceria e o Flamengo, líder da competição, perderia ou empataria. No fim do campeonato, o Palmeiras teria 85 pontos e o Flamengo, 82. “É bem mais fácil que o plano estratégico da Oi seja bem-sucedido”, diz ele, soltando uma sonora risada.

Sim, Rodrigo Abreu, que assumiu como diretor de operações em setembro, devendo ocupar o cargo de presidente até o fim do ano, tem um plano para recuperar a operadora de telefonia Oi, que está em processo de recuperação judicial. Mas avisa: não será rápido.

Em entrevista ao NeoFeed, Abreu disse que espera reverter a queda da receita a partir de 2021. E que a margem operacional só voltará a ficar positiva a partir de 2022. Os investidores terão paciência?  “No mercado de infraestrutura, se você não tiver paciência, é melhor investir em outra coisa”, afirmou o executivo. “O investidor de infraestrutura que espera retorno em um ano é um especulador, não é um investidor.”

O plano da Oi, no papel, é simples: vender ativos, fazer uma nova dívida, conseguir financiamento dos fornecedores, reduzir custos e investir – muito – em fibra óptica. A ideia é atingir 16 milhões de casas passadas com a tecnologia até 2021. Neste ano, será 4,6 milhões. Em 2018, eram menos de 1 milhão. “O coração da nossa estratégia é a fibra, porque até o celular depende da fibra para ser viável”, disse Abreu.

Com a vendas de ativos, uma nova emissão de dívida e créditos fiscais recuperados, o executivo espera conseguir até R$ 15 bilhões. Ele diz que esse valor deve ser alcançado ao longo de vários anos, sem precisar quantos.

A Oi espera vender torres de celular, data centers, imóveis e a fatia de 25% que detém na operadora angolana Unitel. Sobre a área de telefonia móvel, ele diz que não precisa vendê-la. Mas deixa claro.

“Se você perguntar: ao longo do plano vão existir  possibilidades e oportunidades de discutir consolidação e de venda de ativos? Provavelmente, possivelmente. O mercado demonstra – não somos nós que estamos falando – interesse em discutir a possibilidade de consolidação”, afirmou.

E conclui. “Mas o plano não depende de venda da móvel para poder ter recursos para investir no ano que vem. Até porque, se fosse esse o caso, era um plano inexequível, porque ninguém vende uma operação móvel em seis meses. Isso não existe.”

Leia os principais trechos da entrevista:

Por que você aceitou o desafio de assumir a Oi?
Primeiro, porque acredito que estamos em um momento muito favorável para fazer uma transformação grande na companhia. O momento é muito favorável para o alinhamento de quatro elementos. O primeiro é a estrutura financeira e a capacidade de investimento, que foi resolvido com a reestruturação da recuperação judicial. Agora estamos em uma fase de captação de recursos para investimentos. O segundo porque é um momento regulatório favorável. A regulação pesou na operação da companhia há muitos anos. E, depois de muita discussão, chegamos a um momento em que as coisas começam a apontar na direção correta.

"Estamos em um momento muito favorável para fazer uma transformação grande na companhia"

Você está se referindo a nova lei de telecomunicações?
Não só ela. Ela é o meio de um processo que começou há algum tempo. Nós tivemos revisão do regulamento de multa, revisão do regulamento de obrigações do plano geral de metas, revisão do regulamento dos limites de espectro. E agora tem a aprovação do PLC 79 (que altera a Lei Geral de Telecomunicações). Não é um final, ainda falta muito coisa pela frente, mas é um encaminhamento positivo.

O PLC 79 era um reivindicação do setor, mas era mais importante para a Oi?
Não é uma lei para a Oi. É uma regulamentação do setor. Muita gente fala ‘ah, o PLC veio para beneficiar a Oi’. Pelo contrário, ele permite que nós não sejamos prejudicados, como nós estamos sendo há muitos e muitos anos. É um regulação necessária para o setor. É um ambiente regulatório positivo. Há muita por fazer, mas começamos a caminhar na direção correta.

Quais os outros elementos que você estava se referindo?
É também um momento de governança completamente renovada na companhia. Você tem conselho independente, novos acionistas, controle pulverizado. Não existe grupo de controle ou conflito de acionistas. É uma governança completamente diferente do passado. E, por último, tem a capacidade de execução, que a companhia sempre teve.

"O plano de recuperação já previa, no seu desenho, uma fase de captação de recursos"

Vamos falar, então, mais desses elementos. O que tem sido feito na área de captação de recursos: vocês estão buscando dinheiro no mercado ou estão pensando em vender ativos?
As duas coisas e mais algumas (risadas). É importante mencionar uma coisa. Muita gente fala ‘o caixa da Oi vai acabar’, ‘tem um desafio imenso’, ‘é impossível conseguir isso e conseguir aquilo’. O plano de recuperação já previa, no seu desenho, uma fase de captação de recursos.

Mas essa captação não era a de R$ 4 bilhões, que aconteceu no começo do ano ?
Não. O plano tem várias fases. O aumento de capital de R$ 4 bilhões, que foi realizado no início do ano, era uma delas. Ele ainda tem vendas de ativos, tem a possibilidade de captação de dívida, a possibilidade de financiamento de equipamentos e, obviamente, todo processo de redução de custo operacional. É óbvio que essa é uma frente importante, mas não é um problema no qual a companhia acordou e descobriu que precisa agora fazer alguma coisa agora. Faz parte do plano e está sendo executado.

Quanto você espera conseguir em todas essas frentes?
O plano prevê, de uma primeira tacada, só com venda de ativos alguma coisa entre R$ 7 bilhões e R$ 8 bilhões.

Quais ativos?
Tem a Unitel (operadora de telefonia angola na qual a Oi tem 25% e estima-se que sua fatia valha US$ 1 bilhão), torres, data centers, imóveis, fibra apagada, entre outros. Estou falando só dos maiores grupos. Esses ativos dão um potencial de realização de R$ 7 bilhões a R$ 8 bilhões ou até mais.

Você espera vender tudo neste ano?
É um plano de vendas que é executado ao longo de alguns anos. Tem uma parte muito grande, num primeiro momento, que vem de ativos maiores, como o da África (refere-se à Unitel). Há ativos como torres e data centers que são vendidos mais rapidamente. Tem ativos imobiliários, que vem de uma carteira de 8 mil imóveis, que não se vende em dois meses. Ao contrário, vende-se ao longo de alguns anos. Mas os imóveis grandes são vendidos no início do processo. São muitos ativos para vender nesse plano.

A Oi planeja vender sua operação de telefonia móvel?
Não faz parte do plano de liquidez da companhia. Ele não depende da venda da móvel para garantir sua liquidez de curto prazo. Não faz parte do plano a venda de ativos ‘core’ para liquidez. Obviamente, se você perguntar: ao longo do plano vão existir  possibilidades e oportunidades de discutir consolidação e de venda de ativos? Provavelmente, possivelmente. O mercado demonstra – não somos nós que estamos falando – interesse em discutir a possibilidade de consolidação. Mas, agora, o plano não depende de venda da móvel para poder ter recursos para investir no ano que vem. Até porque, se fosse esse o caso, era um plano inexequível, porque ninguém vende uma operação móvel em seis meses. Isso não existe.

"O plano não depende de venda da móvel para poder ter recursos para investir no ano que vem"

O que é exatamente financiamento de equipamentos?
O plano prevê uma possibilidade de financiamento de equipamentos de fornecedores. Desde a recuperação judicial, a Oi não tem um financiamento de nada. Ela está operando com seu caixa. Isso é tradicional no mundo de telecom. Todas as empresas têm financiamento de fornecedores. O plano prevê emissão de dívida, novos aportes ou financiamento de equipamentos.

Quanto?
Estamos fazendo uma operação de dívida estruturada que pode ir de R$ 2,5 bilhões a R$ 4,5 bilhões. É dívida garantida, que tem um custo mais  baixo para a companhia e que é lastreada em recebíveis ou em ativos. Estamos estruturando o pacote de dívida, que deve ser lançado nos próximos meses.

Para ficar claro, quanto vocês estão imaginando captar de recursos esse ano?
Não vou te dar um número deste ano, mas um horizonte do plano, que é uma parte esse ano, uma parte o ano que vem e uma parte ao longo dos próximos dois anos. Na venda de ativos, estamos falando entre R$ 7 bilhões e R$ 8 bilhões ou mais. Em dívida mais financiamento, a gente está falando de R$ 2,5 bilhões a R$ 4,5 bilhões. Em créditos fiscais que já estão transitado em julgado, começamos a usufruir dos benefícios, outros R$ 3 bilhões. Então, se somar esses três componentes, será entre R$ 14 bilhões e R$ 15 bilhões.

Como vão ser usados esses recursos?
Eles vão ser usados em investimentos. Já estamos num ritmo de investimento esse ano de R$ 7,5 bilhões. Para o ano que vem, a previsão do plano é investir outros R$ 7 bilhões.

É muito mais do que os anos anteriores. Mas é o suficiente?
É o investimento previsto pelo plano e que faz sentido para voltar a ter um nível de crescimento e de desenvolvimento de outros negócios. Vamos lembrar que numa companhia integrada nacional, esse patamar de investimento vai variar de acordo com algumas coisas. Primeiro: a intensidade que você quer dar de foco para um negócio ou região. Segundo: a sua capacidade de fazer de maneira nacional para todos os segmentos, para todos os públicos e para todas as tecnologias. Se você olhar as três grandes companhias, nas quais nós somos uma delas, o patamar de investimento tem variado entre R$ 7 bilhões e R$ 9 bilhões. Não mais do que isso. Se não, fica insustentável o retorno do investimento.

Na parte regulatória, com o PLC 797 aprovado, o que muda para a Oi?
A principal mudança é, sem dúvida nenhuma, a possibilidade de discutir a migração da concessão para a autorização. A concessão é uma amarra regulatória gigantesca, que traz custos regulatórios altíssimos e obrigações de investimento em áreas que não fazem mais sentido, nem tecnológico, nem econômico. E, ao mesmo tempo, faz isso com obrigações de cobertura e universalização num serviço que não é mais relevante, que é a telefonia fixa. Ainda precisa regular algumas coisas, que vão ser os custos para você migrar da concessão para a autorização.

Mas está claro quais são as novas regras?
Ainda não. A Anatel ainda vai ser a responsável por fazer esse detalhamento. Nesse meio do caminho tem uma outra dinâmica. A concessão já era insustentável. Quando você fala em custo de investimento na concessão, não pode fazer cálculos de migração incluindo o custo que teria para investir em algo que seria insustentável. Então, a sustentabilidade da concessão tem de entrar nessa conta. Você tem de discutir como vai se dar o cálculo de valoração dos bens reversíveis.

O que são os bens reversíveis?
São os ativos utilizados para prestar o serviço, incluindo os imóveis utilizados para prestar o serviço. Ao longo do tempo, houve uma discussão grande que qualquer imóvel que foi adquirido na época da privatização é um bem reversível. Não é e não deveria ser. Porque se hoje tenho um prédio vazio, que não tem nenhum equipamento ou nenhuma pessoa que trabalhe, ele não é mais um ativo de concessão.

Você já pode vender os imóveis que não são usados na concessão?
Do ponto de vista do conceito da lei, sim. O conceito da lei diz que se você tem um ativo que não faz parte da prestação de serviço, ele não deveria fazer parte dos bens reversíveis.

Vocês vão vender esses imóveis?
Sim. São oito mil imóveis. Obviamente, você não vende oito mil imóveis num curto espaço de tempo. Vamos focar em uma centenas de imóveis que são os de grande valor.

Está no cálculo que você passou?
Sim, uma parte deles. Outra parte precisa ser liberada ao longo da migração (de concessão para autorização). Uma parte deveria estar liberada, entre aspas, imediatamente. Pela lei, eles deveriam ser liberados para a venda pois não estão mais sendo usados para prestar serviços. Obviamente, pendentes da comprovação de Anatel e tudo mais. E os outros ao longo do tempo com a migração.

"O nosso norte é: não vai existir banda larga de alta velocidade, nem 5G no Brasil, sem a participação da Oi"

Quanto vocês pretendem arrecadar com imóveis?
É difícil dar esse número, mas o que a gente vem discutindo e debatendo é no mínimo de R$ 1,5 bilhão a R$ 2 bilhões ao longo do tempo. Mas já estamos em um processo de venda. Temos imóveis que valem centenas de milhões de reais. São imóveis em Brasília, Salvador, Ipanema, Salvador, Goiânia.

Qual será o foco da Oi a partir de agora?
O foco é a fibra. O coração da nossa estratégia é a fibra. Porque até o celular depende da fibra para ser viável.

E você vai fornecer até para outros competidores?
Até para outros competidores. O nosso norte é: não vai existir banda larga de alta velocidade, nem 5G no Brasil, sem a participação da Oi. Seja diretamente, seja indiretamente. Porque o 5G depende, fundamentalmente, da capilaridade de fibra e ninguém tem mais fibra do que a Oi.

Posso entender que você vai dar menos foco para a operação móvel?
O móvel é uma operação grande, importante e que a gente vai manter e sustentar. É possível fazer isso investindo de maneira focada. Vamos disputar o usuário de alto valor e tentar a maior cobertura nacional? Em algumas áreas, vamos sim. Vamos ter um esforço de manter uma ótima cobertura? Do ponto de vista de investimento, preciso fazer um investimento equilibrado entre fibra e móvel. Agora, o móvel é uma operação importante, que gera valor. Ele não consome caixa. Ele gera caixa. A Oi, curiosamente, você pode não saber, é a segunda empresa que mais cresceu no pós-pago nos últimos 12 meses no Brasil.

A Oi planeja participar do leilão de 5G?
Sim. Tanto no de 700 Mhz (sobras de frequência do 4G), como do leilão de 5G.  Óbvio que ainda faltam definições importantes. Mas no nosso plano existe a previsão de participação.

Como a Oi vai atuar com fibra?
A fibra é o componente fundamental de quatro negócios principais. O primeiro deles é a banda larga residencial e, por convergência, da tevê por assinatura em cima da banda larga. Não teremos mais tevê por assinatura via satélite, essa sai do foco. O B2B, que cada vez mais vai depender de alta velocidade. Quando vai para a computação em nuvem de maneira intensa, as empresas passam a ter necessidade de capilaridade maior, que a fibra vai proporcionar também. Se a Oi investisse R$ 15 bilhões por ano, ainda assim ela não teria capacidade de cobrir toda a viabilidade econômica que existe no país para fibra residencial e empresarial. Uma das vocações é servir como uma operadora de transporte e uma operadora de infraestrutura. O atacado é um terceiro grande negócio. E o próprio móvel, como o 5G. Nessas quatro áreas, onde estão os caminhos da Oi? Primeiro, é fazer uma substituição da receita que vinha do cobre, da telefonia fixa e da banda larga de baixa velocidade, pela banda larga de alta velocidade com fibra até a residência ou até a empresa. Essa é a maior parte do investimento ao longo dos próximos 2,5 anos. O nosso planejamento é ter 16 milhões de casas passadas com fibra até o final de 2021. Vamos terminar 2019 com 4,6 milhões de casas passadas com fibra. Foi um avanço fenomenal. No ano passado, tínhamos menos de 1 milhão de casas. No entanto, o potencial econômico, é superior a 30 milhões de casa viáveis. É uma mudança de paradigma grande. Há cinco anos, era inviável. Hoje, não só é viável, como é mais barato do que operar com cobre.

A Oi vai focar em grandes cidades ou nas médias e pequenas?
Temos uma viabilidade em 2 mil cidades. Não vou entrar no mercado de São Paulo com a fibra. Mas, das 2 mil cidades, umas 600 vão ter a maior massa populacional. Vamos focar, obviamente, nas cidades com um nível um pouco maior. E quando não estiver atuando de forma direta, vou focar em duas modalidades. Uma delas é operar como provedor de infraestrutura para pequenos provedores. A segunda modalidade é a da parceria com os provedores. A fibra vai ser, para a operação da infraestrutura, o que talvez o cobre tenha representado ao longo dos últimos 20 anos. Hoje, o cobre é uma infraestrutura cara, desatualizada e que perdeu relevância tecnológica. Mas temos de lembrar que ele gerou resultado durante mais de 20 anos.  Qual vai ser a tecnologia daqui a 20 anos? Não sei. Mas a fibra vai ser uma parte importante dessa infraestrutura.

"O investidor de infraestrutura que espera retorno em um ano é um especulador, não é um investidor"

Quando a Oi volta a crescer?
Esse é um processo que vai acontecer ao longo dos próximos dois anos e meio. Esperamos um processo de reversão primeiro de receita e depois de resultado. Tem de lembrar que a receita inverte enquanto você ainda está investindo. E isso faz parte do plano. No caso da fibra, grande parte do investimento é a passagem das fibras nas casas. Uma vez que passa, você consegue reduzir o investimento naquelas áreas. Do ponto de vista de receita, espero uma reversão ao longo de 2020 e 2021, provavelmente 2021. E do ponto de vista de resultado de 2021 para 2022.

O que você quer dizer com resultados?
Ebitda. A capacidade de gerar margem operacional. Hoje, a companhia está gerando margem operacional que é menor do que o investimento. E é por isso que precisa de recursos para poder investir ao longo dos próximos dois anos e meio.

O mercado vai ter paciência de esperar tanto tempo?
No mercado de infraestrutura, se você não tiver paciência, é melhor investir em outra coisa. Não existe mercado de infraestrutura com retorno de um ano em nenhum lugar do mundo. No setor de infraestrutura, são de seis a oito anos. No caso da nossa fibra, prevemos um retorno de quatro anos. O investidor de infraestrutura que espera retorno em um ano é um especulador, não é um investidor.

Como você espera que o mercado enxergue a nova Oi?
Como a maior empresa de infraestrutura do País. E como uma empresa sem a qual é inimaginável pensar no futuro de telecom, seja do ponto de vista de infraestrutura, seja do ponto de vista de serviços.

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