Não quero me arriscar a fazer deste artigo uma lista de previsões para o ano que vem. Não tenho bola de cristal e seria irresponsável de minha parte. Gostaria muito, por outro lado, de refletir sobre alguns aprendizados que pretendo carregar para a minha vida pessoal e profissional em 2021 e compartilhar com vocês o que considero mais relevante, levando em conta o que temos vivido neste ano.

Tem sido um período desafiador, sem dúvidas! Mas ao enfrentar qualquer crise, mesmo essa de escala global, prefiro focar nas oportunidades a que podemos nos agarrar. Ao sermos confrontados com a vulnerabilidade da existência humana, passamos por uma revisão importante de valores, indo fundo em questões básicas que norteiam nosso modo de vida.

Acredito que três aspectos principais podem explicar, em linhas gerais, esse espírito da época (como dizem os alemães, o zeitgeist): a privação da liberdade e das escolhas, o instinto de sobrevivência e o cuidado com as pessoas.

A escolha é o que movimenta todo o processo de evolução da humanidade. Ela nos dá a sensação de liberdade e de que estamos no comando da vida, tocando o destino a nosso modo. Ficamos satisfeitos quando podemos escolher entre sair ou ficar em casa, deslocar de um lugar a outro, encontrar os amigos. Neste ano, isso nos foi negado. Quando nosso livre-arbítrio é restringido, nos sentimos frustrados, começamos a nos revoltar contra aquilo.

No discurso de abertura do Global Solutions Summit 2020, o professor Dennis Snower, presidente da instituição que organiza o evento, disse que, entre outros efeitos, “a pandemia de Covid-19 demonstrou o valor da liberdade: a liberdade de se mover, de estar ao lado de quem a gente ama, de viver com dignidade e segurança”. Já pensou na quantidade de direitos básicos que perdemos nos últimos meses?

Nesse novo cenário, veio a pergunta: como podemos viver sem que a escolha esteja em nossas mãos? Não tenho uma fórmula mágica para responder, mas entra aqui o segundo ponto que gostaria de abordar: temos um incrível instinto de sobrevivência e uma ilimitada capacidade de adaptação.

Quando ampliamos o escopo de visão percebemos que a sociedade, sem qualquer tipo de distinção, foi impactada nos seus direitos mais essenciais. De repente, estamos todos pensando com o cérebro reptiliano, ou seja, colocando em ação nosso lado mais primitivo, instintivo, fazendo o possível para escapar de ameaças, nos defender e garantir a própria sobrevivência em meio ao caos.

Como consequência veio uma corrente positiva em forma de reação: os governos, empresas e a sociedade somando esforços para estabelecer alternativas e novas regras, mesmo no improviso, para cuidar das pessoas. Em grandes ações, como doações de álcool em gel, construção de hospitais e suporte a pequenos estabelecimentos comerciais, ou gestos, como a preocupação com a saúde mental e física de cada pessoa no trabalho.

O papel da liderança foi fundamental na tomada de decisões e na busca por fornecer as condições necessárias para continuarmos nossas vidas

O papel da liderança foi fundamental na tomada de decisões e na busca por fornecer as condições necessárias para continuarmos nossas vidas, seja em casa ou no trabalho. A leitura correta de um novo contexto, o exercício da empatia e o relacionamento mais humano e próximo de suas equipes passaram a ser uma regra de conduta, outro grande aprendizado que carregarei comigo para o futuro. Empresas atuaram como fonte de informação ao apostarem numa comunicação transparente e consistente.

Penso que nunca mais a gente vai deixar de ter o cuidado com as pessoas como uma prioridade. A saúde, de forma ampla, tornou-se um fator primordial. E, mesmo que haja uma flexibilização do modelo de trabalho, já que o home office se mostrou uma alternativa eficaz, o contato humano continuará sendo imprescindível. O ser humano é gregário por natureza. Quem não está saturado de passar horas em reuniões em vídeo? De novo, o importante é termos escolhas (entre ir ou não ir, fazer ou não fazer) e retomarmos o caminho da esperança.

A batalha diária continua, infelizmente com notícias de novos picos da doença no País e no mundo, mas também temos no horizonte motivos para o otimismo: as vacinas começam a chegar, com países já anunciando a aplicação para os próximos meses, a economia dá sinais de recuperação. E, acima de tudo, amadurecemos.

Penso que precisamos retornar a um estágio mínimo possível de escolhas, oferecendo de volta às pessoas o protagonismo de suas vidas, sem descuidar da questão principal: a saúde. Assim como eu, sugiro que você faça uma análise em retrospectiva de tudo o que passamos em 2020. Tenho certeza de que podemos extrair boas lições para seguir em frente.

*Fernando Teles é country manager da Visa do Brasil

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