Depois de movimentarem bilhões em um rali de ofertas públicas, fusões e investimentos nos últimos três anos, o percurso de boa parte das startups de veículos elétricos vem se mostrando cada vez mais acidentado. E a americana Lordstown Motors é o mais recente exemplo dessa mudança de direção.

A empresa comunicou ao mercado na terça-feira, 27 de junho, que entrou com um pedido de proteção contra falência dentro do Capítulo 11 da lei americana. Na carona dessa medida, a startup informou que está buscando um comprador e que entrou com um processo contra a chinesa Foxconn, companhia de manufatura terceirizada que ficou mais conhecida por produzir o iPhone, da Apple.

Na ação, a companhia americana acusa a Foxconn de fraude, má-fé e quebra de contrato, ao alegar que a empresa teve falhas “intencionais e consistentes” ao não cumprir obrigações comerciais e financeiras, o que teria causado danos materiais e irreparáveis à sua operação.

“Apesar de nossos melhores esforços e do compromisso sincero com a parceria, a Foxconn, intencionalmente e repetidamente, falhou em executar a estratégia acordada, deixando-nos com o Capítulo 11 como a única opção viável”, afirmou, em nota, Edward Hightower, CEO da Lordstown.

No comunicado, a startup acrescenta que a Foxconn simplesmente usou uma gama de acordos contratuais como uma ferramenta para “destruir de forma maliciosa e de má fé” os negócios da empresa.

A Foxconn, por sua vez, ressaltou em nota que mantinha negociações construtivas com a Lordstown. Mas frisou que tinha sido alvo de “comentários falsos e ataques maliciosos” da empresa, que relutou em cumprir sua parte no acordo.

As duas empresas se aproximaram no fim de 2021, quando a Lordstown, que já vinha em dificuldades financeiras e com problemas para iniciar sua produção, vendeu sua fábrica em Ohio, nos Estados Unidos, para o grupo chinês, por US$ 230 milhões.

Os termos também incluíram a compra de US$ 50 milhões em ações da startup. Ao mesmo tempo, a dupla firmou uma parceria para cooperar no desenvolvimento de veículos que seriam produzidos na unidade.

A pane na Lordstown

Mesmo com a parceria, a Lordstown seguiu tendo problemas na fabricação da sua picape elétrica Endurance, que só chegou ao mercado no quarto trimestre de 2022, em meio a cortes nas projeções de produção e dificuldades nas entregas.

Nessa trilha, em novembro, a empresa fechou um novo acordo para que a Foxconn comprasse mais ações e assinasse um novo cheque de US$ 170 milhões para solucionar todos os entraves na produção e dar tração ao negócio.

Segundo informações do The Wall Street Journal, o aporte teve uma primeira tranche de US$ 52,7 milhões. Uma segunda rodada, que envolveria aproximadamente US$ 47,3 milhões, seria feita após a aprovação da venda da nova fatia, que veio em abril. Entretanto, o investimento não foi concretizado.

“Seguimos confiantes de que um processo de venda ordenado e acelerado maximizará o valor para as partes interessadas e permitirá que o talento e a tecnologia por trás da Endurance encontrem um proprietário novo e solidário”, acrescentou Hightower, sobre a opção de venda da operação.

Com o pedido de falência, a Lordstown reforça o momento conturbado de boa parte das startups do setor. Esse cenário contrasta com os últimos três anos, período em que essas empresas movimentaram mais de US$ 123 bilhões em investimentos, segundo a consultoria Dealogic.

Fundada em 2019, a Lordstown ajudou a encorpar essas cifras em outubro de 2020, quando abriu capital na Nasdaq por meio da fusão de uma Special Purpose Acquisition Company (SPAC).

Nessa terça-feira, as ações da companhia abriram o dia na bolsa americana em queda de mais de 45%. No ano, os papéis acumulam uma desvalorização superior a 83%. A empresa está avaliada em US$ 25,3 milhões.