O gestor Pedro Cerize, 52 anos, está de volta. Não, ele não deixou o mercado financeiro. Ele continua no comando da gestora Skopos, que administra o seu patrimônio, e ainda mantém investimentos como a sociedade na empresa de análises Inversa, no site Antagonista e em fazendas de gado e grãos.

Cerize está de volta ao Twitter, a rede em que, em um passado não tão distante, travou algumas acaloradas discussões com investidores e a chamada comunidade de Fintwit.

Na quinta-feira passada, ele voltou com uma nova conta @cerizepedro. Seu primeiro tweet foi “Say My Name” e um link de uma das cenas mais emblemáticas da série Breaking Bad.

Seu retorno à rede social coincide com o lançamento de uma webserie de três episódios sobre o mercado e como encontrar oportunidades nesse momento de pessimismo. Além dos vídeos, a série terminará com uma live de Cerize com Luiz Stuhlberger, da Verde Asset Management, uma das principais gestoras do País, no dia 30 de novembro.

Nesse meio tempo, Cerize conversou com o NeoFeed e disparou sua tradicional metralhadora que vai contra o senso comum. Disse, por exemplo, que muitas empresas brasileiras querem se vender como estrangeiras e são pseudo-tecnológicas.

O gestor também afirmou que o Banco Central é fraco e vai criar uma recessão, que o problema fiscal no Brasil não é uma catástrofe como todos dizem e que estamos atravessando um momento que só acontece a cada dez anos, quando há a oportunidade de multiplicar o capital por dez. Exagero? Acompanhe, a seguir, suas reflexões:

Os valores dos ativos atualmente
Uma maneira óbvia de você avaliar uma ação é você dizer que a ação está com desconto em relação a uma ação que seja parecida com ela. Outra forma de você ver é o valor absoluto de uma ação: ‘olha, essa ação está negociando a cem vezes o lucro e isso é caro ou está negociando a cinco vezes o lucro e isso é barato’. Então, tem uma característica absoluta e uma característica relativa de preço. O que está acontecendo hoje no Brasil é uma conjunção de valores absolutos baratos, várias empresas com excelentes resultados, pagando dividendos de 20% ao ano, ao mesmo tempo que você vê no resto do mundo ações em suas máximas históricas. As ações no exterior estão multiplicando um otimismo para o futuro, enquanto aqui estamos precificando um pessimismo para o futuro. Então, além de valores baratos absolutos, temos valores relativos em posições extremas. Há um descolamento entre dos preços das ações do Brasil e do exterior em relações extremas.

Momento de mercado
Olhando historicamente, e faço isso há mais de trinta anos, estamos em um momento que aconteceu apenas duas vezes – no pós-Collor, quando teve o confisco da poupança e, em 2002, naquele medo que o mercado estava da eleição do Lula. Além da sequência de crises que vieram antes, como a crise da Ásia, a desvalorização no Brasil, o apagão, o estouro da bolha da Nasdaq, o default da dívida argentina e depois o Lula. Toda aquela sequência de eventos culminou com aquela distorção de preços relativos. No Collor, nos seis anos seguintes, a bolsa brasileira deu 400% a mais do que a bolsa americana. Na eleição do Lula, a bolsa brasileira teve 1.400% de performance relativa. Ou seja, se tivesse investido na bolsa aqui, um dólar teria virado quinze comparado com a bolsa americana.

É hora de comprar?
Se você comprou bolsa quando o juro estava baixo e vendeu quando estava alto e se deu mal, não seria o caso de fazer o oposto? Comprar bolsa quando o juro está alto e vender quando está baixo? É isso o que os bons investidores fazem.

As empresas nacionais
Você vê empresas brasileiras fazendo IPO se travestindo de empresas americanas, querendo lançar ações na Nasdaq, querendo se identificar como empresas de tecnologia. Enquanto isso, as empresas tipicamente brasileiras como as de papel e celulose, agrícolas, de aço e a própria Petrobras são totalmente esquecidas. E mais uma coisa: por que você vai querer investir em coisas que são pseudo-americanas, empresas brasileiras pseudo-tecnológicas? É impossível para uma empresa americana competir com uma Vale do Rio Doce, com uma Suzano, com uma Klabin, com o agronegócio brasileiro. E esses são os setores mais baratos da bolsa brasileira.

A saída e o retorno ao Twitter
Saí do Twitter há cerca de 1 ano porque aconteceu o emburrecimento da rede com a euforia do mercado e a discussão caiu muito de nível. E acho que agora deu um choque de realidade nesses gurus, nesses caras que, simplesmente, cospem números sem nenhum fundamento, sem nenhum histórico. Mas ainda tem um monte de gente dessa moçada dizendo que tem de comprar bolsa americana, criptomoeda. Voltei hoje (quinta-feira, 25 de novembro). O meu segundo tweet diz que de 10 em 10 anos temos a oportunidade de multiplicar o nosso capital por dez e estamos nesse momento.

A situação fiscal do Brasil
A gente acha que o que está acontecendo fiscalmente em Brasília é uma catástrofe. Mas, de fato, não é uma catástrofe. Os resultados fiscais do Brasil são muito melhores do que de qualquer outro país. Para você ter uma ideia, o déficit público brasileiro este ano é da ordem de 1% primário. Nos Estados Unidos, é da ordem de 16% e ninguém está falando que tem risco fiscal nos Estados Unidos. O Brasil fez ajuste de taxa de juros que acho exagerado, temos um Banco Central fraco, que vai errar como errou no passado. Errou dizendo que não ia ter inflação e agora vai errar de novo achando que a inflação vai ser mais alta, seguindo esses "especialistas". Vai precificar uma recessão desnecessária.

Eleições 2022
Qual candidato é ruim para o mercado? Bolsonaro ou Lula? Não tem mais diferença, eles são igualmente ruins. Como as pessoas não conseguem um terceiro, só existe o ruim. O que existe hoje no “risco político” é que não dê nenhum dos dois. E, se isso acontecer, antes de qualquer coisa, a bolsa dobrou. Muita gente diz que a terceira via é como se fosse um sonho, isso não vai existir. Mas parece que, do nada, as coisas começaram a mudar.