Às vésperas das eleições presidenciais dos Estados Unidos, a polarização entre o republicano Donald Trump, que concorre à reeleição, e o democrata Joe Biden está estampada nas vitrines de todo o país. Comerciantes de norte a sul, de leste a oeste, começam a subir placas e tapumes em suas portas e vitrines para evitar atos de vandalismo durante as manifestações políticas.

A mesma preocupação levou a varejista Walmart a suspender temporariamente a venda de armas e munição. A empresa retirou todas as armas de fogo de suas lojas e prevê a retomada da comercialização destes itens na sexta-feira, 6 de novembro.

"Nunca vi nada parecido durante uma eleição", disse o arquiteto de produtos digitais Rick Callahan ao NeoFeed. "Acho que estamos todos muito ansiosos e divididos. Mas é compreensível: essa eleição tem um peso diferente. Com Trump no poder, nossa democracia corre riscos."

Mesmo na Califórnia, um estado onde os democratas vencem as eleições desde 1992, um grupo de manifestantes se reuniu em frente ao letreiro de Beverly Hills, em Los Angeles, para manifestar apoio ao presidente Trump, na tarde de sábado, 31 de outubro.

"Eu sempre fui democrata. A vida toda votei azul, mas nas últimas eleições eu me decepcionei”, afirmou Lisa Gel ao NeoFeed, com o rosto coberto por uma máscara cor-de-rosa, com o nome do candidato republicano estampado. “Não estava segura, mas mesmo assim votei no Trump, e estou ansiosa para fazer o mesmo agora."

O representante comercial Daniel Padilla, presente no evento que reuniu 3 mil pessoas, segundo as estimativas, diz que só começou a prestar atenção na política em 2015. E votou pela primeira vez em 2016. "A mídia diz que são só brancos que votam no Trump, mas não é verdade. Eu sou mexicano, meu amigo aqui é mexicano e eu vi gente de todos os lugares do mundo aqui. As pessoas estão acordando”, afirmou Padilla.

Esse é o clima por trás desta eleição que promete bater recorde de participação. Mais de 95 milhões de americanos já votaram antecipadamente, o que equivale a 70% de todos os votos computados na eleição de 2016. Desse universo, mais de 62 milhões de eleitores enviaram a cédula eleitoral via serviço postal. Outros 33 milhões compareceram fisicamente em sessões eleitorais abertas antes da data da eleição, nesta terça-feira, 3 de novembro.

E os votos enviados pelo correio são a grande discussão dessa eleição americana, que pode terminar na Justiça. O presidente Donald Trump ameaça tomar ações legais para anular os votos por correio. A justificativa do candidato republicano é que podem ocorrer fraudes por esse tipo de votação.

Além disso, Trump tem repetido que deseja que o vencedor da eleição seja anunciado na noite da eleição. Em sua visão, não faz sentido que o resultado demore dias na “era moderna do computador”. O presidente alega também que haveria risco de fraude na apuração.

Segundo a imprensa americana, Trump quer se declarar vencedor na noite de terça antes que sejam contados votos via correio, que tendem a beneficiar Joe Biden mais do que ele. "O presidente não vai roubar a eleição", respondeu Biden, pelo Twitter.

Steve Olsen, presidente da empresa Ballottrax, especializada no monitoramento de votos por correio, diz que nunca um presidente americano foi anunciado no dia de eleição. "O resultado oficial sempre demorou alguns dias, mas este ano temos que ter mais paciência, porque vai demorar mais", afirmou Olsen ao NeoFeed.

Por conta da pandemia, votos por correio foram encorajados em todos os estados, que são livres para definir o cronograma. Dos 50 estados, 22 deles mais o Distrito de Columbia vão aceitar as cédulas que forem entregues após 3 de novembro, sendo que cada um delimitou um prazo próprio.

Trump acha que essa demora não faz sentido. A jornalistas, o candidato disse que vai "acionar advogados para tomar as medidas legais na noite do dia 3 de novembro", segundo o jornal The New York Times.

A cientista política e professora da Universidade de Nebraska, Elizabeth Theiss-Morse, no entanto, acredita que os ritos legais sejam respeitados, apesar das sucessivas ameaças do presidente. "Acho que em termos gerais, as instituições devem cumprir seus papéis e respeitar as leis”, disse ela ao NeoFeed.

Foi o que aconteceu na eleição de 2016. Trump venceu a corrida presidencial indireta, mas contestou o resultado alegando que seu déficit de votos populares era o resultado de cédulas ilegítimas lançadas por milhões de imigrantes sem documentos. Os apelos do republicano não deram em nada.

A estratégia de Trump pode estar ancorada nas pesquisas eleitorais, que dão vantagem para Biden. A plataforma 270 To Win, que faz uma média das pesquisas divulgadas, estima que Biden tenha oito pontos de vantagens sobre Trump, com 51% das intenções de votos. A diferença entre os candidatos, dessa vez, é maior do que a distância que Trump e Hillary Clinton vivenciaram na eleição de 2016.

Mas, nos Estados Unidos, não basta vencer no voto popular, pois a eleição não é direta. Para chegar à Casa Branca, os candidatos precisam conquistar pelo menos 270 votos dos delegados do Colégio Eleitoral americano.

Cada estado tem um determinado número de delegados de acordo com sua população. A Califórnia, estado mais populoso, tem o maior número de delegados: 55. Todos votam num mesmo candidato que, geralmente, é apontado pelo voto popular.

Ainda de acordo com a plataforma 270 to Win, Biden teria 290 votos dos delegados e Trump 177. Outros 85 ainda estariam indecisos.

Uma repetição da eleição de 2000?

Caso a eleição seja decidida por uma margem muito pequena, há risco de se repetir o cenário da eleição do ano 2000. Na época, o republicano George W. Bush e o democrata Al Gore disputavam a vaga na Casa Branca, mas os votos da Flórida foram contestados.

Isso porque as pesquisas mostraram que o democrata tinha vantagem no estado da costa leste americana, mas, na contagem de votos, o republicano levou a melhor.

A Suprema Corte da Flórida expediu um requerimento para a recontagem das cédulas eletivas no estado, mas teve sua ordem revogada pela Suprema Corte Federal numa decisão ganha por apenas um voto de vantagem.

Isso explica porque republicanos e democratas divergiram tanto sobre a nomeação da juíza conservadora Amy Coney Barrett à Suprema Corte, para preencher a vaga deixada pela progressista Ruth Bader Ginsburg, que morreu em 18 de setembro.

Os democratas argumentavam que, dada a proximidade de uma eleição tão polarizada, seria prudente deixar o apontamento do sucessor à Suprema Corte ao novo presidente, mas Trump fez valer seu poder e direito de maneira imediata.

Resta saber agora como a Suprema Corte vai se comportar caso a eleição americana vá parar na Justiça.

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