Desde que a Moët Chandon institucionalizou, em 2011, o hábito nascido nas praias de Saint-Tropez, na Riviera Francesa, de tomar champanhe com gelo, o vinho vem passando por uma fase de dessacralização em busca do público mais jovem, mais afeito a bebidas descontraídas e de baixo teor alcoólico.

Nessa onda, vão-se os narizes enfiados nas taças e as análises sensoriais com pinta de PhD antes do primeiro gole. E vem a bebida servida de forma despretensiosa, pura ou como base de drinks, em tardes leves à beira mar ou da piscina.

É um mercado que ganha corpo no país. Em 2021, a importação de champagnes e espumantes ice (para tomar com gelo), por exemplo, cresceu 55% em relação a 2020, totalizando 468 mil garrafas, segundo dados da Product Audit. O produto ícone dessa "categoria de refrescância" é o rosé Piscine que pulou de 372 mil garrafas em 2020 para 480 mil no passado, pelo levantamento da mesma consultoria.

É nesse patamar que o brasileiro aBrigitte busca se posicionar tendo o concorrente francês como benchmark. E, para tanto, acaba de lançar uma rodada de captação de R$ 3 milhões para expandir sua presença nacionalmente e fortalecer a marca.

“É momento de democratizar o vinho”, diz o carioca Leonardo Pazzini, que adquiriu 100% da empresa fundada pelos franceses Maxime Georges e Laetitia Castaldo na região do Languedoc (França), em 2014.

Na época, Laetitia, que nasceu e cresceu em Saint-Tropez, mas se mudou para Rio de Janeiro, queria desfrutar da orla carioca como fazia nas praias francesas. Foi a partir daí que ela e Maxime se propuseram a criar uma “bebida tropical, elegante e com baixo teor alcóolico” inspirada no lifestyle da Riviera, numa homenagem a musa de Búzios, Brigitte Bardot.

O aBrigitte começou sendo produzido na França. Em 2020, com a pandemia, a produção que já estava sendo testada em solo nacional, foi transferida em definitivo para Caxias do Sul. “É a mesma bebida, independente da vinícola ou terroir, porque nela a uva não chama tanto a atenção”, afirma Pazzini, que estabeleceu como meta ser líder no segmento de “vinhos refrescantes”.

Nesse guarda-chuva, entrariam espumantes e vinhos para se tomar com gelo ou para compor drinques, geralmente com baixo teor alcoólico e adição de aromatizantes. No caso do aBrigitta, o vinho formado por mix das uvas alicante bouchet e moscato conta com 25% de aromas naturais de grapefruit e lichias e tem apenas 8,5% de álcool. “Esse é um mercado que está crescendo muito”, aponta.

Leonardo Pazzini, que tem 100% do aBrigitte: "bebida, independente da vinícola ou terroir"

A Henkell Freixenet, por exemplo, tem trabalhado seu portfólio nesse sentido do "descompromisso" e a linha de vinhos I Heart cresceu 118% entre 2020 e 2021. Agora para ganhar terreno na refrescância, a empresa acaba de fechar parceria com a influenciadora Bianca Camargo (374 mil seguidores no Instagram) para promover a preparação de drinques com vinhos.

“Não ter protocolo pode ser mais interessante para esse novo consumidor que descobre o vinho pelo TikTok ou Reels do que falar de uvas, terroir ou tradição”, afirma Fabiano Ruiz, CEO do grupo Henkell Freixenet no Brasil

Atualmente, o aBrigitte produz 30 mil garrafas ao ano, com distribuição voltada para Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Bahia e Brasília, onde o preço sugerido da bebida é de R$ 89. Com o novo investimento, que conta com nomes como Donato Ramos (fundador da Orla Venture) e Heitor Maia (do escritório de advocacia Fcmlaw), a ideia é crescer 339% em volume até o fim do ano.

Até lá, a marca deverá estar presente também em Santa Catarina, Paraná, Ceará e Pernambuco, com foco principal no mercado off-trade e em distribuidores. “Antes da pandemia, 80% do faturamento vinha de bares e restaurantes. Com tudo fechado, tivemos que mudar isso rapidamente”, afirma o empresário. A meta é chegar a 2026 com produção total de 500 mil garrafas, englobando todas as opções do portfólio.

A empresa prepara ainda para este ano o lançamento de um espumante branco “com algum tipo de aroma”, para atender a demanda das festividades de fim de ano “sem concorrer com os espumantes normais”.

Na sequência deverá vir um branco também aromatizado e uma bebida com forte pegada saudável para atrair o público ligado à saúde estética. "Hoje, as pessoas estão muito atentas à caloria, estética e saúde quando bebem ou comem. Por isso, estamos trazendo isso para o nosso produto e lifestyle”, diz Pazzini, sem dar mais detalhes.