Desde o dia 30 de março, quando o Banco Central autorizou o Whatsapp Pay a entrar em operação, o Facebook vem guardando sob sigilo a data exata que as transações financeiras serão iniciadas. O NeoFeed apurou que, por conta de ajustes na experiência do usuário, a estreia foi adiada duas vezes – a última delas em 28 de abril. Mas, agora, ao que parece, está tudo pronto.
O WhatsApp Pay será lançado na terça-feira, 4 de maio, no fim do dia, segundo fontes do mercado financeiro relataram ao NeoFeed. Indagado especificamente sobre isso, o WhatsApp, por meio de sua assessoria de imprensa, não confirmou e nem negou. Enviou como resposta uma frase do fundador e CEO do Facebook. “Os pagamentos no WhatsApp agora estão ativos na Índia e obtivemos a aprovação no Brasil para o lançamento em breve", disse Mark Zuckerberg.
“Eles podem atrasar o lançamento novamente, mas acho improvável que isso aconteça”, diz um profissional do mercado financeiro. O que estava sendo discutido, que postergou o lançamento da ferramenta em outras ocasiões, foram questões de experiência do usuário, o êxito nas transferências e em casos de estorno. As bandeiras que vão iniciar com o Whatsapp Pay são a Mastercard e a Visa e o processamento será realizado pela Cielo. E esse início será feito aos poucos.
Fontes a par do lançamento revelaram ao NeoFeed que a primeira fase vai contemplar entre 1% e 2% dos 120 milhões de usuários do WhatsApp no Brasil. Primeiro em São Paulo. Em junho, mais duas regiões entrariam no ar e, em julho, todo o Brasil. Isso, entretanto, vai depender do desempenho da ferramenta. E não são todos os bancos que vão participar dessa primeira etapa. Os que estão confirmados são: Banco do Brasil, Banco Inter, Bradesco, Next, Itaú, Mercado Pago, Nubank, Sicredi e Woop Sicredi.
Um executivo de uma instituição financeira que conhece a operação que está em curso e que deve entrar na plataforma do Facebook disse ao NeoFeed que enxerga a entrada do WhatsApp Pay no mercado com bons olhos. “Vai tirar o dinheiro de circulação, digitalizar ainda mais as transações”, diz ele.
Mas não é todo mundo que vê a chegada do Whatsapp Pay desse jeito. Não é novidade para ninguém que os grandes bancos privados brasileiros temem o poder de fogo das big techs, que contam com caixas bilionários – em dólar – e muitos dados sobre os usuários.
“Uma coisa tem de ficar bem clara, não se trata de Whatsapp Pay, mas sim de Facebook Pay”, diz um executivo com grande trânsito entre os grandes bancos. O que ele quer dizer é que o Facebook empregará todo o seu poderio, usando o Whatsapp Pay como um dos principais meios de pagamento no Instagram e em outras plataformas de seus domínios.
Um profissional que conhece o sistema financeiro como a palma da mão afirma que as grandes instituições financeiras “não gostariam de deixar o Facebook gostar desse mercado”. E para o Whatsapp Pay vingar será necessário a adoção dos grandes bancos. Afinal, boa parte da população brasileira tem contas nessas instituições financeiras.
É verdade que todos os grandes bancos devem entrar na plataforma, mas não por convicção. Itaú, Bradesco, Santander, Caixa Econômica Federal marcarão presença mais por uma questão de não deixar espaço para concorrentes nativos digitais dizerem que eles são “bancos ultrapassados, que não encampam a inovação”.
Acontece que os bancões não vão adotar a plataforma da mesma forma que fizeram com o PIX, criando até campanhas publicitárias para que os seus clientes registrassem as chaves para o recebimento de pagamentos no Diretório de Contas Transacionais (DICT). Isso, definitivamente, não deve acontecer por alguns motivos.
O primeiro deles é porque, diferentemente do PIX, onde é preciso entrar no app do banco para fazer uma transação, no Whatsapp Pay não há interação direta dos bancos com o cliente. “A relação principal deixa de ser com o sistema financeiro nacional e passa a ser com um serviço de mensageria de uma empresa americana”, afirma um banqueiro com muitos anos de experiência.
O segundo motivo é porque há um temor de que esse seja apenas o primeiro passo da empresa de Mark Zuckerberg para avançar no mercado financeiro brasileiro. “O Whatsapp vai ter o CPF, o banco, a conta, a agência, o celular e vai cruzar esses dados com os das redes sociais e localização”, diz esse mesmo banqueiro. “O Whatsapp Pay não vai pagar R$ 0,02 por transação porque é bonzinho.”
O receio dos grandes bancos em relação ao debut do Whatsapp Pay no Brasil é compreensível. A empresa de Mark Zuckerberg é conhecida por dominar mercados em que entra e usar a sua força para derrubar rivais – nem sempre de um jeito ortodoxo. A companhia está sofrendo três processos antitrustes nos Estados Unidos e também é investigada pela União Europeia. Os bancões, que representam o establishment, por sua vez, também tentam defender o domínio do território.
Chegada com atraso
A vida do Whatsapp Pay não será fácil. A ferramenta chega atrasada e vai brigar para ganhar espaço em um mercado já dominado pelo PIX, do Banco Central. Pesquisas apontam que mais de 70% da população bancarizada já adotou a ferramenta do BC no seu dia a dia.
Recentemente, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou que as transações via PIX movimentaram R$ 278,4 bilhões, entre novembro do ano passado e o fim de março. O número de transações já superou 393 milhões. Trata-se de uma mostra incontestável de que o brasileiro adotou o PIX.
O Whatsapp Pay até tentou chegar ao mercado antes que o PIX, anunciando, em junho do ano passado, que entraria no setor. Mas o Banco Central barrou a entrada da ferramenta. Na época, muita gente viu o freio imposto pelo BC como uma ação para defender o PIX.
Mas o BC alegou que foi por questões de segurança. Outra dificuldade que fez com que a autorização atrasasse foi que o Whatsapp Pay foi anunciado antes de o papel de iniciador de pagamentos estar regulamentado pelo BC. Portanto, chutou a bola antes de o juiz apitar o início do jogo.
Quem aguarda com muita expectativa esse lançamento são as bandeiras de cartão, que foram muito impactadas pela plataforma do Banco Central. Isso porque elas não são necessárias em uma transação via PIX. Por enquanto, ainda não sofreram muito o baque, porque as transações que estão acontecendo estão substituindo, em sua maioria, transferências bancárias como TED e DOC. Mas, quando o PIX for adotado em larga escala pelo comércio, o impacto será enorme.
A entrada delas no WhatsApp Pay busca preencher essa lacuna criada pelo PIX. Outra questão apontada por um profundo conhecedor das regulamentações do mercado é que a chegada do Whatsapp Pay abre as portas para outros iniciadores de pagamento. “Um Magazine Luiza, um Mercado Pago, um iFood poderão fazer o mesmo que o WhatsApp. Em tese, todas as carteiras digitais poderão”, diz ele. Hoje, um novo jogo se inicia.
Atualizado às 17h45 com os nomes dos bancos que estão participando dessa primeira fase do Whatsapp Pay, que foi lançado hoje.