O trade eleitoral é um tema que vem fazendo barulho na Faria Lima, com alguns gestores querendo antecipar o que acontecerá nas urnas nacionais em 4 de outubro de 2026, quando o País terá de escolher entre a reeleição de Lula (ou de um candidato indicado por ele) ou um novo nome para a Presidência da República.
Mas, faltando 16 meses para o pleito, Pedro Jobim, economista-chefe da Legacy Capital, diz que o governo deve lançar mão de medidas fiscais para melhorar sua popularidade, o que terá impacto nos preços dos ativos.
No entanto, ele destacou em painel no Macro Insights, evento da XP Investimentos voltado a debates sobre o cenário macroeconômico e político global e local, que é difícil saber como isso será recebido pelo público, qual será os efeitos nas pesquisas e, por consequência, nos movimentos do mercado, uma corda bamba para os investidores.
“É possível pensar de outra forma. Se o governo está tomando essa atitude, é porque a probabilidade de reeleição talvez seja baixa”, disse ele, na quarta-feira, 28 de maio.
“O mercado deve balançar sobre dois vetores, a piora que vai acontecer [com os ativos] se [os membros do governo] lançarem essas ações e, por outro, a leitura de que, se estão lançando, é porque talvez a situação esteja tão difícil, um sinal de uma provável troca de governo”, complementou.
Diante disso, Jobim afirmou que é preciso “ser bem eclético e ir com a mente aberta”, porque Lula é um candidato competitivo e as coisas estão longe de estarem decididas. “E os preços dos ativos estão longe de precificar tanto um cenário de mudança radical, com uma política fiscal mais radical, quanto muito longe de precificar a continuidade da política econômica”.
Ao seu lado no painel, Murilo Hidalgo, presidente da Paraná Pesquisas, pondera que é preciso tomar muito cuidado com o que as pesquisas estão trazendo neste momento. Para ele, o cenário ainda está nebuloso para se tirar qualquer conclusão, considerando que muitas peças ainda estão se movendo no xadrez político.
“As pesquisas são uma fotografia do momento, mas as coisas começarão a ficar um pouco mais claras quando faltar um ano para as eleições”, disse.
Segundo Hidalgo, a partir de outubro, os nomes de oposição começarão a afunilar, uma vez que muitos governadores que estão sinalizando a intenção de serem candidatos terão de definir seu futuro, considerando que não devem contar com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro para suas pretensões presidenciais.
Para ele, está cada vez mais claro que o apoio, e o capital político, de Bolsonaro irá para o governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, ou para sua esposa, Michelle Bolsonaro, que se mostram viáveis nas atuais pesquisas – seus filhos correm por fora. E o nome escolhido será conhecido apenas em abril de 2026.
“As coisas começam a valer mesmo, pelo Tarcísio, a partir do começo de abril, porque aí se saberá se ele renunciou ao cargo de governador, se ele é candidato ou não”, disse Hidalgo. “Quem fala atualmente quem será o candidato está chutando.”
Mas, tanto Jobim como Hidalgo concordam que não surgirá uma figura tipo Javier Milei, capaz de se eleger com promessas de realizar ajustes duros, mesmo com o economista da Legacy afirmando que o País precisa realizar uma série de reformas para colocar as contas em ordem. Essa agenda, se existir nos candidato, aparecerá nas entrelinhas
“Eleição no Brasil é de quem propõe o melhor sonho, o candidato tem que propor que as coisas vão ficar melhores”, afirmou Hidalgo. “É difícil um candidato ganhar uma eleição sendo extremamente duro. Ainda vejo uma eleição do governo defendendo suas ações e a oposição dizendo que as coisas vão melhorar trocando o governo.”
Para o economista-chefe da Legacy, os investidores deveriam olhar neste momento a situação no exterior, principalmente o que vem ocorrendo nos Estados Unidos, com a guerra comercial e os receios de uma recessão no país e as consequências para o dólar.
“Embora esteja claro que a perspectiva para o Brasil será bastante distinta no caso da reeleição [de Lula] ou da vitória da oposição, esse não é um tema que está na primeira ordem dos fatores que estão mexendo com os mercados neste momento”, disse Jobim.