Um novo table book sobre a história do grupo Fasano foi lançado esta semana. Chama-se “Fasano dal 1902...”, mas bem poderia ser “dal 2002”. Afinal, nas últimas duas décadas, e em especial a partir da sociedade com o grupo JHSF, as pretensões do então restaurateur Rogério Fasano com sua marca, uma das mais reconhecidas do luxo nacional, ganharam materialidade.
São anos decisivos que deram outro contorno à trajetória secular da família de imigrantes italianos no Brasil. Por sinal, colocar lado a lado o novo livro e a obra “Fasano 100´anni in Brasile e 100 anni di gastronomia”, também editada pela DBA para comemorar o centenário em 2002, é significativo desta transformação.
Nesse período, o sobrenome que virou sinônimo de gastronomia e hotelaria de excelência passou de 13 restaurantes entre São Paulo e Rio de Janeiro para uma operação em três países, Brasil, Uruguai e Estados Unidos. Com direito a 27 restaurantes e bares das marcas Fasano, Parigi, Gero, Trattoria, Bistrot Parigi, Nonno Ruggero, Gero Panini e Baretto, e nove hotéis.
Entre eles o da Fazenda Boa Vista, em Porto Feliz, no interior de São Paulo, escolhido por Elon Musk, o homem mais rico do mundo, para se encontrar com empresários brasileiros e o presidente Jair Bolsonaro, na última semana.
A cereja do bolo veio nos últimos meses com a conquista de Nova York não com uma, mas duas operações de luxo. A primeira, do hotel “fechado para sócios” por uma questão de zoneamento na Quinta Avenida, foi feita sem grande estardalhaço em abril de 2021. E a segunda, aí sim, com direito a muita mídia, incluindo destaque no jornal The New York Times, veio com a abertura do restaurante na 49th Street com a Park Avenue, em fevereiro deste ano.
“Fazer um restaurante fora do Brasil sempre foi um desejo. Mas por ‘n’ motivos já tinha até relaxado. Mas aí eles (leia-se o investidor Steven Roth) vieram me procurar e virou um dos restaurantes preferidos na cidade”, conta, orgulhoso, o restaurateur.
“Como já tinha uma com infraestrutura muito boa (o imóvel era ocupado pelo restaurante Four Seasons e já tinha projeto do arquiteto Isay Weinfeld, parceiro de longa data de Rogério), consegui gastar um décimo do que eles tinham investido para deixar do meu jeito. Se não, seria impagável. Foi muito destino”, completa.
A concretização do desejo de internacionalização do restaurante na cidade mais competitiva no cenário gastronômico, seu “renascimento” após a necessidade de um transplante de fígado no meio da pandemia e os 40 anos de profissão, foram as forças motrizes que o levaram a querer recontar a história da marca Fasano.
“Quis mostrar a minha interferência nessa história, para onde eu levei a marca nos últimos anos”, disse Gero (apelido assumido oficialmente para facilitar a pronúncia do nome e o reconhecimento imediato no mercado americano). “Comecei aos 20 anos, quando reabri o restaurante que pertenceu ao meu avô e levei o grupo de volta para as raízes na Itália. Me deu vontade de contar o que fiz a partir daí até chegarmos à hotelaria”, lembra ele, que ainda se considera muito mais restaurateur do que hoteleiro. “É dez vezes mais complicado, mas sou viciado nisso.”
O livro escrito em parceria com o jornalista Luciano Ribeiro desfila ligeiramente pelas histórias, referências e crenças de Gero que levaram ao reconhecimento pela "qualidade e elegância" das operações atuais. O table book, que traz fotos e ilustrações dos empreendimentos, foi finalizado, contudo, antes da abertura da casa de Nova York, o que causa um certo estranhamento, uma vez que os feitos naquela cidade surgem ainda como promessas a serem cumpridas.
A sociedade com a JHSF, iniciada em 2007, está bem presente na obra. E, não à toa, no capítulo especial que abre a edição. Afinal, a grande alavancagem do negócio não teria sido possível sem a parceria com a empresa, capitaneada por José Auriemo Neto, mais conhecido por Zeco, chairman do grupo. Em 2014, ele adquiriu por meio da JHFS Participações 65% da operação por cerca de R$ 53 milhões. A participação de Gero nos negócios se mantém em 35% até hoje.
“Esta é uma ótima sociedade, construída com base em filosofias empresariais semelhantes, muito conectadas à qualidade dos produtos. Isso torna fácil trabalhar sempre na mesma direção, alinhando DNAs familiares a uma gestão muito profissional, de maneira muita dinâmica”, pontuou Auriemo ao Neofeed.
Em 2021, o braço hoteleiro do grupo faturou R$ 228 milhões, valor 91,6% acima do obtido em 2020, e 20,9% em relação a 2019. Nos restaurantes, a retomada dos números pré-pandemia ainda não aconteceu plenamente. O número de couverts passou de 659.685 em 2020 para 994.765 em 2021, mas ainda segue 2,7% abaixo do total obtido em 2019.
Atualmente, a operação do Fasano conta com quase 2500 colaboradores apenas nos hotéis. Curiosamente, nem o sommelier Manoel Beato, que está há 30 anos no grupo, ou qualquer chef à frente dos restaurantes são citados no livro, que traz oito receitas clássicas de pratos e oito de drinques.
Com a construção de três novas unidades hoteleiras – sempre acompanhadas por operações gastronômicas – em breve, o quadro de funcionários deverá crescer. Para o segundo semestre deste ano, está prevista uma nova operação com aproximadamente 100 quartos, restaurantes e unidades residenciais no prédio de 40 andares projetado pelo escritório de arquitetura Aflalo/Gasperini na Rua Pedroso Alvarenga, no bairro paulistano do Itaim Bibi.
Em 2023, será a vez de um outro hotel em São Paulo, desta vez anexo ao shopping Cidade Jardim. E, na sequência, Miami. “O prédio onde o hotel será instalado já foi comprado”, diz Gero.
No próximo mês o grupo dá mais um passo na expansão da grife Selezione Fasano, com a abertura da primeira loja de rua recheada com mais de 800 produtos de marca própria (vinhos, massas e molhos) ou sob sua curadoria. O que inclui de móveis a objetos de decoração e utilitários para a casa que hoje são vistos nos empreendimentos do grupo.
E depois disso tudo, como serão os próximos 20 anos? “Depois eu quero fechar esse triangulinho (em referência a rota Brasil, EUA e Itália que ilustra a capa do livro). Quero voltar para Milão, ficar quietinho e não fazer mais nada. Estou ficando velho”, afirma ele que vai completar 60 anos. Bebendo vinho? “Bebendo o que fígado permitir.”