Daniel Brett tem uma herança privilegiada na moda masculina. O seu avô, Estevão, fundou a Vila Romana, em 1953, na Rua Guaicurus, em São Paulo – criando uma marca que seria sinônimo de moda formal para os homens. O pai, André Brett (morto em 2019 aos 77 anos), tornou-se uma referência no setor ao licenciar e estar à frente da operação no Brasil das marcas italianas Giorgio Armani, Ermenegildo Zegna, D&G e Canali.
Daniel seguiu a tradição familiar e criou a Ereditaryo, marca de luxo masculina com um plano de negócio que não se restringe ao Brasil. Ele já tem escritório em Milão e centro de distribuição em Salerno, na Itália. Mas com uma diferença: enquanto o pai e o avô vestiram os homens para o trabalho e eventos sociais, Daniel os veste para ficar em casa.
“Tudo começou quando notei que eu mesmo só vestia roupa velha em casa”, admite Daniel, que além de fundador, é presidente da Ereditaryo. A marca, que primeiramente foi pensada há cinco anos para ser de underwear e batizada de Pyjama, passou por um rebranding para acompanhar a explosão do “home office”, trazida pela pandemia, e as consequentes mudanças no guarda-roupa dos homens.
“Acredito que se vestir bem, mesmo no ambiente de casa, ajuda a elevar a autoestima masculina”, diz. No Brasil, as peças da Ereditaryo são vendidas em um e-commerce próprio, na plataforma do Shopping Cidade Jardim (cjfashion.com), no da marca Aramis (aramis.com.br/ereditaryo) e acaba de chegar ao Shop2gether.
“A divulgação via mídias sociais é vital para esse negócio”, diz o empresário, que trabalha com influenciadores digitais e que tem entre os usuários da marca o ator Cauã Reymond.
Daniel acredita que há uma lacuna nesta área de moda masculina de luxo não só no Brasil, como no mundo. “Quero ir de Nova York a Cingapura e, em breve, ter a Eriditaryo ‘made in Italy’”. Desta forma, com sua marca, ele fará o caminho inverso ao trilhado pelo pai, que trouxe para o Brasil os ícones da moda italiana.
O objetivo é fazer da marca um business global, começando pela Itália. Para isso, Daniel tem se valido dos contatos abertos pelo pai e de sua própria experiência quando foi diretor de marcas italianas, para tornar a Ereditaryo reconhecida nesse que é o principal mercado criador de moda masculina do mundo.
A marca já tem, por exemplo, um site em italiano que funciona como um portfólio virtual. A partir de outubro, "ele será convertido em e-commerce, numa operação espelho com o nosso site aqui.”
A coordenadora-geral de marca é uma especialista em private label no Brasil. É a empresária Vera Grigolli, do Studio VG, com experiência de duas décadas no setor. Ela instalou-se em Salerno para desenvolver os fornecedores e parceiros locais.
"Neste primeiro momento, vamos importar peças do Brasil para abastecer nosso site italiano. No começo de 2023, quando tivermos nossa produção aqui, partimos para os marketplaces. Já temos conversas bem avançadas com Net-a-porter e Farfetch", diz ela.
O nome Ereditaryo é uma homenagem ao pai André, com quem Daniel afirma ter aprendido tudo o que sabe de moda. Formado em Business Economics pela Brown University, nos EUA, Daniel não pensou, inicialmente, em seguir os passos dos homens da família. Nunca houve pressão, diz o empresário, que ainda se emociona ao falar do pai.
“Ele sempre me deixou livre para decidir qual carreira seguir”, diz Daniel, que atuou por dez anos nos segmentos de investment banking e hedge fund, em Nova York, até retornar ao Brasil, após o 11 de Setembro, e assumir a direção da marca Ermenegildo Zegna, em janeiro de 2002. A partir daí, o mundo fashion o cativaria de vez com atuação também na Canali e na Brunello Cucinelli.
Daniel quer se valer dos conceitos de elegância da moda italiana para seu projeto de expansão. “A intenção é tornar a Ereditaryo uma referência em moda casual masculina de luxo, oferecendo a diversidade e a excelência em produtos”, afirma o empresário.
Ainda pouco explorado por marcas brasileiras, o segmento onde a Ereditaryo se enquadra – e que explora a elegância de maneira intimista – vem sendo chamado de outcomfywear. E pode ser definido como uma moda casual, com o conforto do estilo esportivo. Tudo isso feito de tecidos premium, toque macio e caimento sofisticado. Em determinados produtos, a marca concorre com Oficina Reserva e Foxton, por exemplo.
São peças que transitam entre o conjunto de moletom tradicional e a alfaiataria. Ou seja: têm cara de roupa de casa – boa parte construídas em malharia, tecidos tecnológicos e com fibras naturais – mas frequentam com tranquilidade o ambiente externo.
Nessa trajetória, Daniel foi surpreendido com o sucesso que a Ereditaryo tem feito não só entre os homens. “As mulheres também consomem as peças da marca e já começam a pedir uma linha exclusiva para elas”, conta o empresário. Mas ele resiste: acha difícil prosperar com moda feminina. “Acredito no que dizia o meu avô: que mulheres são fiéis à coleção. Mas os homens são fiéis à marca."