O Shop2gether, e-commerce de moda de luxo do grupo Icomm, que também é dono da OQVestir, está vestindo o figurino da profissionalização e está trazendo para o cargo de CEO um profissional de fora da casa pela primeira vez desde quando a companhia foi fundada, em 2012.
O escolhido foi João Almendra, executivo com experiência de 20 anos no varejo digital e físico, com passagens pelo Magazine Luiza e Americanas em cargos como diretor comercial.
“A inovação é inevitável e, quando você está há muito tempo tocando o negócio, acabam se criando algumas amarras que um profissional vindo do mercado pode ajudar a desatar, com novas ideias e pensamentos”, afirma Ana Isabel de Carvalho Pinto, uma das fundadoras do Shop2gether.
Ana Isabel e os outros dois fundadores, Eduardo Kyrillos e Daniel Guimaraes, até então CEO da empresa, vão ocupar uma posição no conselho do Shop2gether, que faturou R$ 370 milhões, crescimento de 5% em relação ao ano anterior. No passado, a plataforma realizou 617 mil pedidos ao longo do ano.
Almendra chega para a nova função com a experiência de ter participação da incorporação da Submarino, da criação da B2W e até do movimento de mudança para marketplace da Americanas. Na Magazine Luiza, foi responsável pelo segmento de retail media da empresa, além de dirigir toda a plataforma de publicidade (ads). O novo CEO também é investidor-anjo da Urca Angels, rede de investidores carioca.
“Para mim, é uma novidade mudar de um negócio de bilhões para um de escala menor, mas tenho muito a aprender com a forma como o grupo lida com sua operação, que tem um tíquete muito superior ao que estava acostumado”, afirma Almendra.
Atualmente, o modelo de negócio do Shop2gether é baseado na conexão com os fornecedores, que totalizam mais de 450 marcas, nacionais e internacionais, em categorias com vestuário, bem-estar e decoração. Em média, são incluídos 120 novos produtos na plataforma por dia.
Estratégias de crescimento
O Shop2gether investiu R$ 40 milhões ao longo de 2024 no segmento masculino, que ainda não tinha tanta força dentro da operação. A ideia é que, ao longo dos próximos anos, o consumo se iguale ao feminino, que hoje é o mais forte da companhia.
Para isso, Almendra afirma que a marca investirá mais R$ 50 milhões na vertical de consumo, acreditando que os homens podem dar tanto retorno para a marca quanto as mulheres, apesar de seu ciclo de consumo ser distinto.
“Ao longo do ano, conseguimos crescer a nossa participação no masculino sem atrapalhar as vendas do feminino, o que foi um resultado muito importante”, diz Almendra. “Esse público é muito focado em itens básicos e consome de forma diferente, mas nós já conseguimos nos inserir na ‘rota’ de compra deles, o que é importante.”
A área de sapatos, a segunda categoria mais forte da empresa, também tem recebido atenção, tanto no masculino quanto no feminino. A estratégia da companhia para atrair mais público é aumentar o nível dos produtos que consegue com os fornecedores, fazendo com que as exclusividades só sejam encontradas na plataforma do Shop2gether, sem criar concorrência pelo básico.
Essa exclusividade também é um plano da companhia para atrair os clientes mais exigentes, que consomem marcas internacionais que não se encontram no Brasil. Esse é o caso da holandesa Mercer, focada em estilo e sustentabilidade.
Com essas táticas, Almendra diz que o Shop2gether é responsável por um share bastante significativo das vendas online de grandes marcas como Osklen, Arezzo e Le Lis. Apesar de não poder divulgar essa porcentagem, o executivo afirmou que o e-commerce é o que mais vende produtos “de uma marca brasileira bastante colorida e alegre”, que se traduz na Farm, que pertence ao grupo Azzas 2154.
Além dos produtos, o Shop2gether está implementando novas ferramentas e aumentando o uso da inteligência artificial em seu processo de compra. Para isso, o Shop2gether está investindo mais R$ 40 milhões só nessa área.
“Queremos crescer com mais inteligência, implementar uma maior análise de dados e utilizar a inteligência artificial de forma ainda mais proveitosa e esse investimento serve exatamente para isso”, diz o novo CEO.
Com essas novas implementações, a empresa espera voltar a crescer na base de dois dígitos nos próximos anos, média que está acostumada a entregar. Em 2024, porém, a companhia passou por significativas mudanças em sua estrutura operacional, que puxou esses números para baixo.
“O plano que nós tínhamos de trocar o sistema de forma ágil não saiu da forma que esperávamos, o que acabou atrapalhando as vendas”, afirma Almendra. “Porém, se for contar apenas com o consumo efetivo, nós crescemos o dobro do varejo apenas na Black Friday, o que nos mostra que continuamos avançando na linha do que é esperado”.
Nos próximos três anos, a empresa projeta crescer 30%, sem prejudicar a saúde financeira. Para atingir esse número, o Shop2gether também está procurando oportunidades fora do eixo Rio-SP, onde as vendas estão muito focadas. Na visão do CEO, existem oportunidades incríveis em outras regiões como Centro-Oeste.
A companhia conta com um sistema logístico que permite que compras realizadas nas grandes capitais cheguem em um dia ou até horas, dependendo do local. É com esse sistema que a empresa conta para expandir a sua atuação, que hoje é focada no centro de distribuição (CD) de Extrema, em Minas Gerais.
“O interior de São Paulo é uma grande oportunidade para nós, o que é fácil para expandir a partir do nosso CD, e existe uma demanda reprimida por lá”, afirma Almendra. “Porém, estamos também trabalhando para atingir regiões de alto poder aquisitivo como o Centro-Oeste, que acaba ficando esquecida, mas tem um potencial absurdo de crescimento”.
Para atingir esse novo público, o Shop2gether não pretende expandir ou abrir novos centros de distribuição no primeiro momento, já que acredita que sua estrutura em Minas Gerais é a mais conveniente para o crescimento do negócio.
Atualmente, o Shop2gether não possui concorrentes diretos no segmento de luxo, mas disputa o mercado com nomes como Dafiti, Zattini e NetShoes, além das próprias lojas digitais das marcas com as quais trabalha.