Globalmente, um adulto consome, em média, 20 gramas de fibras por dia. É muito pouco. Pelos cálculos da Organização Mundial de Saúde, o ideal seria entre 25 e 35 gramas. Encontrados nos alimentos de origem vegetal, esses carboidratos estão associados à prevenção de uma série de doenças – do diabetes tipo 2 a diversos cânceres, dos distúrbios cardiovasculares à obesidade.

Pesquisadores do Instituto Real de Tecnologia de Melbourne conseguiram fazer o que a indústria de alimentícia tenta há muitos anos e desenvolveram a FiberX, conhecida também como “a fibra invisível”. Sem gosto, nem cheiro, foi desenvolvida para enriquecer alimentos pobres no carboidrato, como pães brancos, bolos, macarrões e molhos, entre outros.

“Nosso produto é imperceptível”, diz o professor Asgar Farahnaky, líder do projeto. “É como o pai que esconde os vegetais na refeição das crianças, de modo a torná-la mais nutritiva.”

A FiberX consegue aumentar a concentração de fibras de um alimento em 20%, sem alterar suas características sensoriais. É um avanço e tanto em relação aos compostos desenvolvidos até agora. Em maior ou menor grau, todos interferem no paladar, aroma, textura ou cor do produto original.

Para a criação da “fibra invisível”, os pesquisadores fizeram alterações nas moléculas de amido, a partir do milho, trigo e mandioca. Também um carboidrato, o amido funciona como uma espécie de reserva energética dos vegetais.

O estudo contou com o apoio técnico da empresa Microtec Engineering Group, líder australiana no processamento de amido. Com a nova tecnologia, a taxa de conversão do amido em fibra atingiu 80%. Nos testes de reação com as enzimas digestivas, a FiberX respondeu tal qual as fibras naturais.

Avaliado em quase US$ 13 bilhões, o mercado global de fibras dietéticas deve chegar a US$ 24 bilhões, em 2027, a uma taxa de crescimento anual de 9,3%, conforme análise da consultoria francesa ReportLinker.

Há várias explicações para o avanço acelerado do setor. Uma delas é a busca crescente dos consumidores por produtos mais saudáveis, sobretudo depois da pandemia do novo coronavírus.

Deve-se considerar ainda o aumento da expectativa de vida, que, naturalmente, leva a uma alta na incidência das chamadas doenças crônicas não transmissíveis. Representadas pela sigla DCNTs, essas enfermidades associadas ao que há de pior no estilo de vida contemporâneo e, portanto, podem ser prevenidas com mudanças nos hábitos cotidianos, a alimentação, entre os quais.

Por fim, a demanda por fibras alimentares deve acompanhar a ascensão da bilionária indústria plant-based. A “fibra invisível” pode servir de ingrediente para a produção de alimentos vegetais análogos aos de origem vegetal.

Para o futuro, além de escalar a FiberX, o professor Farahnaky e sua equipe pretendem investigar alternativas verdes para a conversão do amido em fibra. Além de invisível, sustentável, com baixo impacto no meio ambiente.