O futuro da alimentação engloba sofisticadas tecnologias agroindustriais, sustentabilidade e inovações que vão revolucionar – e estão revolucionando – o modo como se produz a comida que chega ao prato de bilhões de pessoas. Mas pouco se fala sobre as embalagens nas quais os alimentos são acondicionados.

Pesquisadores da Universidade de Manchester, na Inglaterra, analisaram os impactos ambientais do alumínio e de plásticos, como o isopor e o polipropileno, usados nas 2 bilhões de embalagens consumidas anualmente pelos aplicativos de delivery, na Europa.

No artigo “Environmental impacts of takeway food containers”, publicado em fevereiro de 2019, na revista especializada Journal of Cleaner Production, os estudiosos alertam: se metade dos recipientes fosse reciclada, deixaria de ser lançado na atmosfera um volume de gases de efeito estufa equivalente ao produzido por 55 mil automóveis, ao longo de um ano.

Nessa missão, o planeta pode contar com a criatividade e o entusiasmo dos empreendedores do universo agrifoodtech. Vira e mexe, iniciativas para a criação de embalagens sustentáveis são anunciadas em algum canto do mundo.

Uma das mais festejadas é a Great Wrap. Sediada na cidade de Vitoria, no sudeste da Austrália, a empresa foi fundada por Julia e Jordy Kay, em 2020. Ela, arquiteta; ele produtor de vinho orgânico – os dois se conheceram em um bar, namoraram, casaram-se e, incomodados com o uso excessivo de plástico pela cadeia agroalimentar, decidiram inventar seu próprio produto.

Com a ajuda de pesquisadores da Universidade Monash, uma das mais importantes da Australia, Julia e Jordy desenvolveram um filme plástico, a partir dos resíduos da batata, especialmente a casca.

Totalmente compostável, segundo os Kay, quando o material é devolvido para a natureza, se decompõe em 180 dias, sem deixar nenhum vestígio de plástico para trás. A Great Wrap foi eleita, pela revista americana Fast Company, uma das startups mais inovadoras de 2021, na região Ásia-Pacífico.

Em julho passado, a empresa recebeu US$ 24 milhões, em uma rodada de aportes de série A. Em 2021, já haviam sido US$ 3 milhões, em investimentos seed. A Great Wrap mal havia completado oito meses e seus dois funcionários (Julia e Jordy) se multiplicaram em 35, a sala de casa virou dois escritórios e duas fábricas.

O bioplástico de batata já vendeu 50 mil unidades na Australia e, em breve, será lançado nos Estados Unidos. Até o final do ano, o casal pretende entrar no mercado B2B.

“Temos a sorte insana de ter cruzado vale da morte do piloto de P&D para a comercialização”, comemora um orgulhoso Jordy. “Não há muitos negócios por aí que consigam fazer isso.”

A inspiração para os novos produtos vem da melhor embalagem já produzida, as cascas dos alimentos. Batata, mandioca, banana, beterraba, trigo, coco... E o que mais a imaginação alcançar e a ciência der conta de reproduzir.

Recentemente, a startup argentina GrowPack inaugurou uma fábrica no interior de São Paulo, para fabricar produtos compostáveis, a partir da palha do milho. Fundada em 2018, a empresa usa menos 25% de energia elétrica e 80% menos água, em comparação aos gastos com a produção dos mesmos itens de papelão.

A startup vai fornecer embalagens para gigantes do setor, como iFood e Ambev. No ano passado, as embalagens sustentáveis movimentaram globalmente quase US$ 53 bilhões, segundo levantamento da ReportLinker, empresa francesa de análise de mercado. Até 2027, devem atingir US$ 74,67 bilhões, a uma taxa anual composta de 6,12%.

“Com clientes cada vez mais preocupados com o meio ambiente, as mudanças de hábitos, o ritmo acelerado da vida profissional e a dependência de plataformas online de alimentos, a sustentabilidade das embalagens é uma megatendência”, avaliam os consultores da ReportLinker.

As iniciativas com foco em mitigar os danos causados pelas embalagens não sustentáveis não estão restritas apenas ao desenvolvimento de novos materiais. A também australiana Returnr, por exemplo. Em parceria com restaurantes, lanchonetes e cafés de Melbourne, oferece tigelas e copos de aço inoxidável, de fontes renováveis, para os clientes que compram comida e bebida para viagem.

Os consumidores pagam cerca de US$ 4 como depósito pelas embalagens. Depois, ao devolver os apetrechos, recebem o dinheiro de volta. Ou, caso prefiram, ficam com os recipientes, para usá-los em refeições futuras. O planeta agradece.