Com seu software de design gráfico para amadores e profissionais, a australiana Canva "fez bonito" em uma rodada série D de investimento, levantando US$ 60 milhões sob uma avaliação de US$ 6 bilhões. Em outubro de 2019, seu valor de mercado era de US$ 3,9 bilhões.
O mais recente aporte vem de "novos" bolsos, como Felicis Ventures e General Catalyst, mas também de "velhos" parceiros, como Sequoia Capital China e Blackbird Ventures – os líderes dessa última rodada.
Desde sua fundação, em 2012, a Canva já levantou mais de US$ 300 milhões em investimentos totais e, com esse fôlego, acumulou 30 milhões de usuários mensais em 190 países. Uma rede capaz de produzir, segundo a empresa, 3 mil layouts por minuto, 130 mil por mês e mais de 1,5 bilhão por ano.
Os números, contudo, devem crescer. Graças às medidas de distanciamento social que "institucionalizou" o home office, a companhia, que dá aos usuários a possibilidade de criar logotipos, posts para rede sociais, flyers e outras soluções gráficas de forma intuitiva, registrou um aumento de 50% nos designs compartilhados e de 25% na criação de peças originais.
Curiosamente, um dos países onde a startup tem encontrado maior tração é justamente no Brasil, onde cresceu 259% só no ano passado. Junto com o aumento das atividades e dos usuários, a Canva testemunha a evolução de sua receita.
Embora não divulgue os números, a empresa revelou ao site americano TechCrunch que sua receita anual avança 100% ano a ano – e o mercado calcula que seu faturamento, em 2019, tenha sido em torno de US$ 200 milhões, com uma operação lucrativa.
Isso explica porque essa última rodada de investimento recebeu interesse financeiro dez vezes maior que o proposto, com investidores e outros fundos de venture capital dispostos a abrir mais a carteira para a startup.
"No estágio em que estamos, os investidores estão dispostos a aportar US$ 50 milhões ou mais. Até mesmo os investidores que já estão conosco queriam injetar entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões, mas nós dissemos 'ah, poxa, nós realmente não queremos diluir tanto assim esse negócio porque acreditamos em seu potencial e não precisamos de tanto dinheiro'", falou Cliff Obrecht, cofundador e COO da Canva, em entrevista ao TechCrunch.
É quase difícil de acreditar que, e,m seu início, a startup teve tanta dificuldade de conseguir um aporte que viabilizasse o projeto. A ideia nasceu a partir de uma experiência da sócia e noiva de Obrecht, Melanie Perkins, que também atua como CEO da Canva.
Frustrada com a dificuldade de usar programas complexos, como o Photoshop, para criar convites, folhetos e outras peças simples, ela defendeu a criação de uma plataforma unificada. Perkins afirma que um usuário leigo aprende, em menos de um minuto, a usar o Canvas.
Mas, antes de tornar a ideia em uma realidade, ela precisou gastar sola de sapato: foram mais de 100 conversas com investidores sem uma resposta positiva. Sua sorte mudou com uma "mãozinha" do investidor Bill Tai, conhecido pelo "bom faro" para novidades.
Com um histórico de aporte em mais de 22 startups que abriram capital na bolsa, Tai foi um dos primeiros a apostar em companhias hoje mundialmente famosas, como Zoom e Wish.com. Interessado na ideia que Perkins tinha em mente, Tai a convidou para um de seus eventos de kite surf, no Havaí, em 2012.
Para impressionar os investidores e entusiastas da modalidade, a australiana encarou a missão de aprender o esporte – e não se arrepende. Suas habilidades dentro e fora d'água garantiram os primeiros investimentos, vindos de ninguém menos do que os atores Owen Wilson ("Marley & Eu") e Woody Harresson ("Jogos Vorazes"), além do próprio Bill Tai.
De lá para cá, a Canva cresceu muito – inclusive em sua estrutura. Em maio do ano passado, a startup comprou, por valor não divulgado, os bancos de imagens Pexels e Pixabay. Isso aumentou o "poder de fogo" de seus usuários, que passaram a ter acesso a mais de 1 milhão de fotos, vetores e ilustrações.
Criada para facilitar a criação de páginas e layouts, até por amadores, a Canva trabalha com três categorias diferentes: grátis, pro e enterprise. A primeira é gratuita e impõem alguns limites, como acesso a 8 mil templates. A segunda custa US$ 9,95/mês com cobrança anual, ou US$ 12,95/mês com cobrança mensal. Já na categoria mais cara, usada por empresas e agências, o valor é de US$ 30/mês.
Segundo a companhia, são 1,5 milhão de usuários e 500 mil organizações que optaram pela versão paga. Entre os clientes mais famosos estão American Airlines, Hubspot e Warner Music, cujas equipes utilizam a plataforma para criar as artes gráficas compartilhadas em suas redes sociais.
Paralelo às atividades digitais, que são a espinha dorsal da companhia, a startup australiana também firmou acordo com a Fedex para oferecer aos usuários ferramentas e soluções de impressão rápida. Essa união permite que os interessados criem, online, quadros a partir de fotos e templates gráficos – o material tem o design assegurado pela Canva e a impressão pela Fedex.
Antes, ela já havia criado a plataforma Canva para Educação, integrada ao G Suit – a sala de aula virtual do Google. A ideia é permitir que professores desenvolvam materiais esteticamente mais apelativos aos alunos e que os estudantes criem peças a partir do conteúdo da aula, como uma maneira gráfica de reter o conteúdo.
Com o novo aporte, a empresa pretende construir novas parcerias e partir para novas aquisições. E é justamente essa ambição que dá à australiana um valor quase duas vezes maior que o da Box, uma empresa que oferece serviços de armazenagem, compartilhamento e gerenciamento de conteúdo em nuvem.
A Canva, no entanto, está ainda muito aquém das principais companhias de criação, como a Adobe, que hoje ostenta valor de mercado de US$ 211 bilhões.
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