Alexandre Birman, CEO do grupo Arezzo&Co, segura a garrafa de champanhe na mão e depois pega a tesoura para cortar a fita de inauguração da loja de roupas femininas da marca Schutz, no shopping Leblon, no Rio de Janeiro. A cena, que aconteceu há pouco, pôde ser conferida em tempo real pelos seus 194 mil seguidores no Instagram.
As imagens que Birman costuma postar e documentar no feed e nos stories também servem como uma radiografia da companhia. Nos últimos seis meses, por exemplo, comprou a grife Carol Bassi, lançou a linha de vestuário feminino da Schutz, anunciou a aquisição de fábricas de calçados e bolsas. Sem contar que, semanalmente, tem uma inauguração de loja.
Essa locomotiva tem sido alimentada pelo ritmo frenético das vendas. E os resultados do primeiro trimestre deste ano mostram que ela está a todo vapor. Pela primeira vez na história, o grupo supera R$ 1 bilhão em vendas em um primeiro trimestre – algo que só havia acontecido em alguns poucos quartos trimestres, época de Natal, quando o comércio é geralmente mais aquecido.
"Os resultados do primeiro trimestre marcam a consolidação do momento que a Arezzo&Co se encontra com crescimento sólido, forte e perene. A partir daqui nossa entrada no vestuário feminino irá gerar uma maior avenida de crescimento”, diz Birman. Crescemos 63,9% em comparação com o primeiro trimestre de 2021”, diz Rafael Sachete, CFO da Arezzo&Co, ao NeoFeed.
Se esse ritmo vai se manter, depende, é claro, do desempenho da economia. O grupo, porém, quer estar preparado e está fazendo investimentos estratégicos para não perder a velocidade. Por meio do ZZ Ventures, o seu fundo de corporate venture capital, o grupo comprou participação em duas companhias: a Growdev, uma edtech voltada para a formação de profissionais de tecnologia; e a Play9, empresa de mídia comandada por João Pedro Paes Leme e Felipe Neto – essa última que já havia sido anunciada.
As duas aquisições, mesmo que de participações pequenas, são altamente estratégicas para a Arezzo&Co. A Growdev, localizada em Campo Bom (RS), terá a função de suprir uma demanda por profissionais de tecnologia para o grupo. Dos seus 5,9 mil funcionários, 250 são de tecnologia e a companhia conta com 25 vagas abertas.
“Como estaremos próximos, poderemos atrair esses talentos e acessá-los antes do mercado”, diz Sachete. O executivo afirma que esse é um gargalo que consome muita energia do grupo e a compra da participação, que poderá chegar a 15% em três anos, resolve esse problema que tem feito empresas se digladiarem por desenvolvedores e cientistas de dados.
A aquisição de uma participação minoritária na Play9, por sua vez, coloca o grupo ao lado de alguns dos maiores influenciadores do mercado. Rony Meisler, fundador da Reserva, virou conselheiro da empresa e estará próximo desse universo. Com isso, por meio da Reserva Ink, poderá criar as famosas DNVBs, marcas nascidas digitalmente, com nomes como Felipe Neto, Paola Carosella, Angélica, entre outros.
Os movimentos acelerados do grupo vêm a reboque de um polpudo cheque de R$ 830 milhões levantado em um follow on, em fevereiro deste ano. Com o dinheiro em caixa, o grupo intensificou o seu plano de crescimento. A grife Vans, por exemplo, que hoje tem 25 lojas deve chegar a 55 unidades nos próximos 18 meses. A AR&Co, que reúne marcas como Reserva, tem 112 lojas e vai abrir mais 100 até a metade de 2023.
A festa não pode parar
Além disso, o grupo vai ampliar os investimentos na grife de vestuário feminino da Schutz. A marca Carol Bassi, adquirida em novembro do ano passado, deve abrir outras dez lojas e estrear o seu e-commerce; e a Reserva, como já havia antecipado o NeoFeed, vai entrar em moda feminina. Nos bastidores, a Arezzo&Co também está reforçando a estrutura.
O Centro de Distribuição de calçados, localizado no Espírito Santo, vai passar de 20 mil metros quadrados para 45 mil metros quadrados. O CD da Reserva, no Rio de Janeiro, voltado para todas as peças de vestuário do grupo, acaba de saltar de 5 mil metros quadrados para 15 mil metros quadrados.
O crescimento da estrutura, diz Sachete, é necessário para dar suporte ao crescimento do grupo. Neste trimestre por exemplo, as marcas Reserva, Vans, Alexandre Birman e a operação americana mais do que dobraram de tamanho. No digital, o pulo foi de 40%. O número de lojas também saltou de 883 para 925 quando comparados os primeiros trimestres de 2021 com o de 2022.
“Neste ano, só a operação americana deve atingir R$ 500 milhões de receita, a Vans também vai chegar em meio bilhão e a Reserva vai passar de R$ 1 bilhão de faturamento”, diz Sachete. Isso significa que a grife criada por Rony Meisler vai triplicar de tamanho em comparação com o faturamento de 2019, quando alcançou R$ 350 milhões.
“Em 2022, teremos o maior faturamento da história do grupo”, diz Sachete, sem dar guidance. O que explica isso em um momento em que o varejo, de um modo geral, sofre com o desempenho da economia? “Tem um varejo segmentado para o público A e B, como a gente, Vivara, Track&Field, SBF e o próprio Grupo Soma que têm demonstrado números melhores do que a média do varejo.”
Apesar do aumento da receita, Sachete faz questão de ressaltar o volume – o que mostra que mais peças estão sendo comercializadas. Em calçados, por exemplo, o volume saltou 40%; em bolsas, 82%; e 116% em peças de vestuário. “Isso mostra que estamos mais presentes nos armários das clientes.”
O executivo diz que aumentou o número de CPFs registrados na base de clientes, mas o crescimento das vendas no primeiro trimestre deriva de um comportamento social que estava reprimido e começa a voltar aos trilhos.
“Tem a retomada do convívio social e a volta de festas como casamentos, formaturas. Isso está bem aquecido.” A empresa, avaliada em R$ 9,3 bilhões, quer entrar em todas essas festas – seja com as roupas ou com os calçados. Nem que seja de penetra.