Há oito anos, antes de rebatizarem suas marcas, a Cogna (ex-Kroton) e a Yduqs (ex-Estácio) viram a fusão entre as suas operações ser barrada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), sob a alegação do alto grau de concentração envolvido, na época.

Agora, segundo informações do colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, as duas empresas voltaram a conversar sobre uma associação. E, na visão do BTG Pactual, o quadro atual é muito mais favorável para um eventual acordo.

“Do ponto de vista de valuation, se um acordo fosse fechado aos preços atuais de mercado, poderia fazer mais sentido para Yduqs agora do que no passado”, escrevem os analistas Samuel Alves e Yan Cesquim, em relatório enviado a clientes.

A dupla destaca que, historicamente, a Cogna era negociada com um prêmio em relação à Yduqs, o que dificultava justificar a transação. “Esse não é mais o caso – ambas as ações estão sendo negociadas a cerca de 4,5 vezes o Ebitda estimado para 2025 e 4 vezes o Ebitda projetado para 2026”, afirmam.

O BTG aponta que, no decorrer de 2024, houve rumores semelhantes sobre potenciais M&As envolvendo as duas empresas, além de outros players menores de educação, como Vitru, Cruzeiro do Sul e Ser Educacional.

Fique Por Dentro

O BTG entende que o acordo traria economias em despesas e capex
Mas também ressalta incertezas do setor como um possível impeditivo
E tem recomendação de compra para a Yduqs e neutra para a Cogna

Nesse contexto, o banco destaca que esses movimentos de fusões e aquisições no balcão da educação poderiam beneficiar o setor, promovendo maior disciplina de preços, em particular, no segmento de ensino a distância (EAD), ao neutralizarem, efetivamente, um concorrente.

“Uma Cogna/Yduqs combinada poderia atuar mais como formadora de preços do que como tomadora. Além disso, embora os esforços anteriores de consolidação não tenham gerado sinergias significativas, acreditamos que qualquer acordo poderia trazer naturalmente economias em G&A e capex”, observam os analistas.

Eles ressaltam, porém, que há alguns obstáculos para a concretização dessa associação. Na primeira barreira, o banco entende que apesar de a participação de mercado combinada dos dois grupos ter diminuído desde 2017, a transação ainda enfrentaria alguma resistência na esfera do Cade.

Em outro ponto, os analistas afirmam que, hoje, a Cogna tem um mix de negócios mais complexo, com cerca de 35% do seu Ebitda originado no segmento de ensino básico, por meio da Saber e da Vasta, o que poderia sugerir sinergias limitadas para a Yduqs.

O BTG entende ainda que há incertezas pairando sobre o setor e as empresas. Entre elas, a revisão regulatória no segmento de EAD e o impacto do programa Mais Médicos II, que deverá conceder novas vagas em faculdades de medicina a grupos privados, afetando o valor justo das companhias.

“Embora reconheçamos os avanços recentes das empresas, ainda não estamos otimistas com o setor educacional brasileiro, visto que os fundamentos ainda parecem desafiadores. Dito isso, esse tipo de fluxo de notícias deve sustentar um melhor momentum das ações”, acrescentam os analistas, com recomendação de compra a Yduqs e neutra para a Cogna.

As ações da Yduqs estavam sendo negociadas com alta de 0,26% às 13h30, cotadas a R$ 15,35 - pela manhã o papel chegou a subir perto de 2%. Avaliada em R$ 4,2 bilhões, a companhia vê seus papéis acumularem uma valorização de 81,3% em 2025.

No mesmo horário, as ações da Cogna avançavam 2,11%, cotadas a R$ 2,89 (chegou a superar 3% no início do pregão), dando à empresa um valor de mercado de R$ 5,4 bilhões. Em 2024, os papéis registram uma alta de 167,6%.

Procurada pelo NeoFeed, a Cogna informou que não se posicionar a respeito das supostas negociações para uma fusão. A Yduqs respondeu que "não comenta rumores de mercado".