Os três principais clubes goianos de futebol - Goiás, Atlético Goianiense e Vila Nova - não estão na elite nacional, mas o estado deve se transformar, em pouco tempo, em uma rota importante para jogos de times de grande expressão do cenário do País, especialmente do eixo Rio-São Paulo.
O ponto central dessa mudança virá do estádio Serra Dourada, em Goiânia, administrado pelo governo estadual e que passará a ser controlado pela construtora Construcap, vencedora da concorrência que garantirá uma concessão pelos próximos 35 anos, até 2060.
O plano de investimentos nesse período chegará a R$ 1 bilhão. Somente nos primeiros três anos, serão alocados cerca de R$ 300 milhões na reforma do estádio. O objetivo é transformar o Serra Dourada em uma espécie de ‘Allianz Parque do Centro-Oeste’. Sim, além do futebol, a ideia é abrigar shows de artistas nacionais e internacionais.
“Para o nosso grupo, faz sentido essa concessão. É um projeto muito rentável. Hoje, o complexo Serra Dourada é mal aparelhado e bastante subutilizado, já que o estado não tem times na divisão de elite do futebol, mas o poder econômico de Goiás é muito representativo”, diz Roberto Capobianco, presidente da Construcap, em entrevista ao NeoFeed. “O Serra Dourada é uma joia que precisa ser lapidada.”
Goiás EC, Vila Nova e Atlético Goianiense, hoje, disputam a Série B do Campeonato Brasileiro e praticamente não utilizam o Serra Dourada para seus jogos. Todos possuem estádios próprios, onde mandam suas partidas. Mas o "novo" Serra Dourada poderá servir de palco para outros times do Brasil, a exemplo do que acontece no estádio Mané Garrincha, em Brasília, que já recebeu jogos dos campeonatos mineiro, carioca e paulista. O objetivo é aumentar a capacidade do estádio dos atuais 38 mil para 45 mil lugares.
Além do estádio, também estão incluídos na concessão a gestão do ginásio Valério Luiz de Almeida, conhecido como Goiânia Arena, o parque poliesportivo e um amplo estacionamento no entorno, que também pode ser utilizado para realização de eventos. Ao todo, serão 360 mil metros quadrados de área de concessão.
“Claro que, com o estádio revitalizado, fica mais atrativo levar outros clubes para jogar em Goiânia. Mas certamente teremos mais shows do que futebol no complexo Serra Dourada. Vale lembrar que a base da música sertaneja está em Goiás. E esses artistas fazem grandes apresentações pelo Brasil”, diz o presidente.
Recentemente, o Allianz Parque, em São Paulo, foi palco de três apresentações lotadas do cantor Gilberto Gil. Paul McCartney, Simply Red, Iron Maiden e Andrea Bocelli foram alguns artistas que se apresentaram no estádio do Palmeiras, que é administrado pela WTorre.
Além dos R$ 300 milhões em capex, os demais recursos deverão ser aportados no Serra Dourada em opex (operational expenditure), que são as despesas necessárias para manter o negócio em funcionamento. “Vamos gerar receita de eventos nesse período. E nesse montante de R$ 1 bilhão em 35 anos estão os gastos operacionais do estádio”, afirma Capobianco.
No investimento inicial estão incluídos a recuperação e ampliação do Serra Dourada, com criação de camarotes e áreas para melhor distribuição do público e rebaixamento do campo. E, ao contrário do Allianz, o gramado no estádio de Goiânia será de grama natural. Também serão feitas obras no entorno, com ampliação de áreas esportivas e de modernização do ginásio.
Esses recursos serão empregados pela Construcap em até três anos. A criação do projeto irá demandar um ano, com dois anos previstos para a conclusão da obra. Isso significa que o novo Serra Dourada deverá ser entregue no primeiro semestre de 2028. Dos R$ 300 milhões, aproximadamente R$ 250 milhões serão apenas na reforma do estádio.
A batida de martelo da concessão do Serra Dourada ocorreu em fevereiro na sede da B3, em São Paulo, e o contrato oficializado no dia 16 de abril pelo governador Ronaldo Caiado. Ainda que a empresa já comece a planejar e executar parte das intervenções no complexo goiano, as ‘chaves’ serão entregues oficialmente à Construcap em novembro deste ano.
Além dos eventos que serão programados no espaço esportivo, a Construcap também planeja a construção de uma área de real state. “Será um complexo direcionado para salas comerciais. Esse formato ainda está sendo desenhado”, diz o empresário.
A estimativa do presidente da Construcap é de que o payback do projeto ocorra em um período entre oito e 10 anos, o que, em tese, no cenário mais longo, poderia garantir uma janela de pelo menos 25 anos de lucro para a companhia.
Experiência na gestão do Mineirão
Desde 2010, a Construcap administra o estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, em Belo Horizonte. O modelo mineiro, no entanto, é de Parceria Público-Privada (PPP). “A experiência em Minas Gerais será muito importante para nossa atuação em Goiás. Nossa capacidade de gestão neste tipo de administração será extremamente ampliada.”
A companhia também é responsável, desde 2019, pela gestão do Parque Ibirapuera, em São Paulo, por meio da empresa Urbia Gestão de Parques. Além do espaço paulistano, a subsidiária da Construcap tem participação na administração do Parque Nacional do Iguaçu, em Foz do Iguaçu.
No ano passado, a Construcap alcançou receita de R$ 3 bilhões. Desse total, R$ 1,8 bilhão vieram da construtora, e os R$ 1,2 bilhão restantes das demais atividades da companhia. A unidade de concessões responde por 30% dessa fatia, mas a intenção é que a essa receita seja mais equilibrada. O objetivo é que as concessões representem 50% do faturamento da empresa, sem levar em conta a construção civil.
“A construtora é nosso maior negócio e estamos avançando em outros segmentos. O projeto do Serra Dourada pode representar até 5% da receita do nosso grupo”, afirma Capobianco.
Segundo ele, a empresa também está interessada em uma possível concorrência da mudança da sede do governo de São Paulo do bairro do Morumbi para o centro da capital, proposta que foi anunciada pelo governador Tarcísio de Freitas, mas que ainda não tem data para que o edital seja publicado.
“É um projeto interessante para revitalizar e repovoar a região central. Estamos bem interessados nessa licitação. De estádios, por enquanto, não temos nada em vista. Vamos colocar o Serra Dourada para funcionar antes de pensar em outro.”