O executivo Alexandre Rappaport, 48 anos, está, aos poucos, mostrando porque deixou o comando da Livelo para assumir a CashMe, empresa de crédito com garantia do grupo Cyrela. Em maio, ele completa um ano à frente da operação, mas os resultados já mostram o avanço da companhia.

Até o terceiro trimestre do ano passado, a empresa tinha uma carteira de crédito de R$ 750 milhões sob gestão. Nesse trimestre, vai fechar em R$ 1,25 bilhão e chegar no fim do ano com R$ 2 bilhões. O número de funcionários também cresceu exponencialmente.

Há 12 meses, a companhia contava com 95 pessoas e hoje são 340 profissionais. “Esse foi um dos maiores investimentos que fizemos”, diz Rappaport ao NeoFeed. Junto com o executivo, que é sócio minoritário da operação, vieram Carlos Caseli, ex-CTO do banco digital Digio, Lilian Ferraz, que tocava a área de produtos e marketing da Livelo, entre outros.

O perfil do time, que era muito comercial, mudou ao passo que novos profissionais foram chegando. Atualmente, um terço vem da área de tecnologia, um terço comercial e o restante de back-office. O avanço da CashMe tem a ver com alguns fatores. Um deles é o crescimento do chamado home equity, de onde vem 90% da receita da empresa.

De acordo com dados da Abecip, o crédito com garantia de imóvel está em um saldo de R$ 13,5 bilhões. “Mas poderia ser dez vezes mais”, diz Rappaport. “O potencial desse mercado é imenso.” Basta ver que, no ano passado, o crédito imobiliário movimentou R$ 205,4 bilhões, um avanço de 66,7% em relação a 2020. “As pessoas ainda têm pouco conhecimento sobre o home equity.”

Para preencher essa lacuna, a CashMe vem fortalecendo um exército de consultores ligados à empresa, os famosos “pastinhas”. Chamados de cashmembers, eles formam uma rede de 1,5 mil profissionais espalhados por 40% dos municípios do Brasil, principalmente as grandes cidades. “Eles têm um papel fundamental para explicar o produto aos clientes.”

Nos próximos 12 meses, a empresa pretende alcançar o número de 2 mil consultores ativos. E, paralelo a isso, vem investindo em automação. “Criamos algoritmos como o que sugere o valor do imóvel, que fornece a capacidade de crédito, que mostra quantas ações judiciais o cliente tem e outros que reúnem tudo isso”, diz Rappaport.

A CashMe atua em um mercado que demanda capital intensivo. A Creditas, um dos expoentes desse setor de home equity, por exemplo, já captou US$ 829 milhões desde a sua fundação, tem avaliação privada de US$ 4,8 bilhões e deve partir para um IPO nos Estados Unidos.

Desde a fundação, o crescimento da CashMe vem sendo suportado por injeções de capital da Cyrela. Mas, segundo Rappaport, a empresa deve buscar captação primária no mercado. No início desse ano, o executivo chegou a engatar algumas conversas com fundos de private equity. Entretanto, com a alta dos juros, guerra da Ucrânia e aversão a risco, o apetite dos investidores diminuiu.

Por isso, em 2022, a companhia continuará sendo ancorada pela Cyrela. “Só vamos buscar captação no ano que vem. Se for no início, será primária com algum fundo. Se for no fim de 2023, teremos tamanho até para um IPO”, diz Rappaport. Ele não revela os números, mas diz que a empresa já atingiu equilíbrio e tem outras áreas para explorar.

Além do home equity, em que o tíquete médio de crédito concedido é de R$ 400 mil para um imóvel avaliado em cerca de R$ 1 milhão, a CashMe está financiando a compra de imóveis que não se encaixam no financiamento da poupança e emprestando para condomínios.

“A maior parte é para instalação de painéis de energia solar, portaria eletrônica e reformas grandes”, diz Rappaport. Há uma grande avenida para crescer neste mercado. Segundo o executivo, o Brasil tem mais de 200 mil edifícios dos quais 50 mil têm mais de 25 anos. Ou seja, precisam de crédito para reformas.

No home equity, os créditos com garantia são oferecidos a uma média de IPCA mais 12% a 14% em prazos de 120 meses a 140 meses. O tomador é geralmente um pequeno empresário que busca crédito mais barato para investir em seus negócios ou trocar de dívida.

O que a CashMe faz é transformar boa parte dos recebíveis em Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) para vender no mercado. Como funciona? Ela empresta o dinheiro, monta uma carteira de CRI, vai ao mercado e vende o que é chamado de carteira sênior e a companhia fica com a carteira subordinada.

Em uma carteira de R$ 100 milhões, por exemplo, R$ 80 milhões são da sênior com uma remuneração de IPCA mais 6,5% e a subordinada de R$ 20 milhões fica com a CashMe. Se os clientes não pagam, é a subordinada que fica com o prejuízo.

Só se o prejuízo superar o que cabe na subordinada, é que a sênior tem perdas. Atualmente, R$ 700 milhões da carteira são de patrimônio da Cyrela, mas deverá reduzir esse montante. “Entre abril e maio, devem acontecer emissões que podem chegar a R$ 300 milhões.”