Cathie Wood estabeleceu seu nome e da Ark Investment como referência para investimentos em inovação durante a pandemia. Na ocasião, as ousadas apostas em nomes como Tesla, Zoom e Roku resultaram em fortes retornos para seus investidores e trouxeram outros tantos bilhões de dólares para seus fundos, sendo cerca de US$ 20 bilhões somente em 2020.
Os investidores ficaram com ela e sua gestora mesmo após o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) ter subido agressivamente os juros entre março de 2022 e julho de 2023, prejudicando o desempenho em renda variável. Mas, agora, depois de anos de perdas, muitos deles decidiram dar um basta.
Segundo o jornal The Wall Street Journal (WSJ), a partir de dados da consultoria FactSet, os investidores sacaram cerca de US$ 2,2 bilhões dos seis fundos de índice (ETF) da Ark neste ano até o dia 19 de abril, com o total de ativos somando US$ 11 bilhões. O montante supera os US$ 760 milhões que saíram desses fundos em todo o ano de 2023.
Mesmo diante das expectativas de que o Fed vai começar a cortar os juros – ainda que não em junho, como previsto inicialmente – e o avanço da tese de inteligência artificial, a Ark registra um desempenho abaixo do que se esperaria de uma casa especializada em inovação. Seu principal fundo, o Ark Innovation, apresenta um retorno negativo de quase 19% no ano, enquanto o S&P 500 sobe 5%.
O fundo é concentrado em um conjunto de ações, sendo que sete papéis respondem por quase metade do fundo. E muitos deles não apresentam um bom desempenho em 2024.
Principal posição do fundo, a Tesla registra uma queda acumulada de quase 45% no ano, com os papéis sendo negociados perto de US$ 142 a unidade. Apesar disso, Wood tem comprado ações, projetando que eles devem alcançar US$ 2 mil em até cinco anos.
Outras posições relevantes também estão tendo um desempenho ruim em 2024, É o caso de Roku, cujas ações recuam 36%, e da Unity Software, desenvolvedora de software de jogos eletrônicos americana, que perde 44%.
Para os críticos de Wood, a Ark se beneficiou justamente quando os juros estavam próximos de zero, o que permitia tomar decisões arriscadas, ainda mais em companhias com perfil de growth, muitas delas não sendo lucrativas. Quando os juros subiram, esses ativos viram os preços despencarem.
Segundo a consultoria Morningstar, no fim do ano passado, os fundos da Ark tinham destruído mais riqueza do que qualquer outra gestora ao longo da última década, gerando um prejuízo aos investidores de US$ 14,3 bilhões.
Outra crítica é que os fundos da Ark dependem muito da intuição de Wood. A ausência da Nvidia no portfólio é considerada uma evidência de que a gestora pode falhar. O Ark Innovation vendeu sua posição na fabricante de chips em janeiro de 2023, pouco antes das ações embarcarem numa forte valorização – no ano passado, os papéis valorizaram 3,4 vezes ante 2022.
Wood defendeu repetidas vezes sua decisão de sair das ações da Nvidia. Ao WSJ, em fevereiro deste ano, ela afirmou que se criou uma enorme expectativa em cima da companhia, que não será cumprida, resultando numa forte correção mais adiante.
Nem tudo, porém, é ruim na Ark, graças à aposta em criptoativos. A gestora está posicionada em Coinbase, cujas ações mais que quadruplicaram em 2023 em relação ao ano anterior.
A Ark também conseguiu atrair US$ 2,5 bilhões para o seu novo ETF, que acompanha passivamente o preço do bitcoin, em 2024. A principal criptomoeda do mercado registra alta acumulada de 57,6% neste ano.