Olivier Monin, CEO da fabricante de bebidas aromáticas que leva o nome da família, trabalhava há dois anos no banco Crédit Agricole, em Chicago, quando foi convocado pelo pai em meados dos anos 1980 para tocar o negócio da família.
Criada em 1912 por seu avô, George, a empresa de soluções que compõem os drinques com e sem álcool não estava em um grande momento. Olivier assumiu a companhia e promoveu um turnaround, expandindo a marca pelo mundo.
“Minha única chance de crescer era sair da França e vender o xarope onde o produto não era conhecido”, conta Olivier, em entrevista exclusiva para o NeoFeed em sua visita ao Brasil. “Nós éramos muito pequenos e não muito rentáveis. Eu saí pela Europa, país por país, convencendo antigos bartenders. A boa ideia que tivemos na época era produzir xaropes de sabores diferentes que combinavam com as bebidas alcoólicas.”
Nesta terça-feira, 30 de maio, Olivier deu mais um passo nesse seu trabalho que teve início há mais de três décadas. Em Itu, cidade distante 75 km da capital paulista, ele colocou a pedra fundamental da oitava fábrica da Monin no mundo - e a primeira na América Latina.
A empresa vai investir um total de R$ 350 milhões no projeto que ficará em um terreno proprietário de 132 mil m2. O prazo de inauguração é 18 meses. A escolha pela instalação da unidade em Itu passou pela infraestrutura logística da região e, também, pelo tempo de deslocamento do escritório da Monin na Vila Madalena - aproximadamente uma hora de carro.
Outro fator foi determinante para a decisão final. “Para nós é muito importante ter uma água de qualidade no subterrâneo. A cervejaria Heineken está instalada nas proximidades e sabemos que a água de lá é muito boa”, diz Alexandre Boyer, diretor-geral da empresa no Brasil.
Além do potencial de vendas no País, a fábrica brasileira da Monin será o ponto de distribuição para toda a América do Sul - a parte norte do continente é atendida pela Flórida, a primeira filial da empresa.
“Mas a ideia, quando construímos uma fábrica, é ficarmos próximos do nosso consumidor assim como encontrar um novo sabor especial. E o Brasil vai ser 'craque' nisso dentro do grupo”, diz o CEO da Monin.
O primeiro produto lançado com a bandeira verde-amarela é o xarope de jabuticaba (Olivier se derrete pelo sabor, além de aprovar todos os produtos pessoalmente). Com um detalhe: não é artificial.
Se há 30 anos havia cerca de 20 sabores de xaropes para bebidas e a maioria deles com aromas sintetizados, a Monin apostou na criação à base de ingredientes naturais - exceção é o xarope de Curaçao pela falta de matéria-prima azul para a estabilização na bebida. Atualmente, a oferta passa de 150 tipos.
“Todas as nossas fábricas têm uma equipe própria de pesquisa e desenvolvimento, que trabalha em parceria com o marketing para fornecer sabores e receitas que combinam com o gosto local”, diz Olivier, que exemplifica com a flor de cerejeira no Japão.
Nos planos de expansão da Monin, mais duas fábricas podem sair em breve: uma na Índia e outra em algum lugar da África. Com 1.000 funcionários globalmente, incluindo os escritórios locais, Olivier não trabalha com a hipótese de receber um aporte. Segundo ele, a família sempre foi pragmática e buscou crescer com esforços próprios.
“Nós financiamos nosso crescimento. Vi meu avô e meu pai tendo muita dificuldade e prestei atenção e como dar valor em ser independente”, diz o terceiro Monin na linha de sucessão. “Dominamos um negócio difícil e sinto que dessa forma é mais seguro a longo prazo”.
Um mercado em crescimento
Globalmente, esse mercado de xaropes e bebidas aromáticas não alcoólicas movimenta US$ 35 bilhões por ano. Estados Unidos, China e Japão são os principais mercados. A projeção da Market Data Forecast é de um crescimento anual em torno de 7% até 2027.
Os hábitos de consumo pós-pandemia colaboram para o bom momento do segmento. Embora haja um crescimento da categoria ready-to-drink, os bartenders profissionais ganharam projeção com a mixologia das bebidas e as criações que estão nos cardápios de bares e restaurantes.
“Chegamos aqui em 2013 e o mercado era muito, muito pequeno, com no máximo 10 bartenders”, diz Boyer, um francês radicado há 18 anos no País. “O Brasil está se aproximando do resto do mundo e o negócio envolvendo coquetéis está crescendo, mas a grande diferença está nos produtos não-alcoólicos como os nossos.”