Quando desembarcou no Brasil em abril trazendo na bagagem 19 de seus fundos de índices (ETF, na sigla em inglês), a gestora americana Global X colocou para si um objetivo ousado: atrair US$ 1 bilhão em ativos sob gestão com esses produtos nos próximos três anos.
A meta, divulgada quando realizou o lançamento desses ETFs na B3 via o programa de recibos de ações (BDRs), acabou envelhecendo rapidamente quase quatro meses depois. Percebendo um forte crescimento do mercado brasileiro de ETF, e avaliando que a penetração desse tipo de produto ainda é baixa, a companhia viu que poderia ser ainda mais ousada.
Agora, a operação brasileira quer buscar atingir US$ 5 bilhões em ativos sob gestão em até seis anos, oferecendo principalmente os chamados ETFs temáticos, fundos de índices ligados a questões específicas, como meio-ambiente, tecnologia e commodities.
“No Brasil, só existem três ou quatro companhias oferecendo ETFs globais através do programa de BDRs, mas não tem nenhuma outra companhia tão especializada quanto nós em investimentos temáticos.”, diz o CEO global da Global X, Luis Berruga, em entrevista ao NeoFeed. “Nós queremos ser os líderes em investimentos temáticos no Brasil.”
Baseado em Nova York, sede da companhia, Berruga esteve no Brasil na semana passada e se mostrou muito otimista com relação às perspectivas do mercado local. Ainda que o momento não seja favorável para a renda variável, a quantidade de pessoas na Bolsa segue crescendo – em junho, aumentou 38,2% na comparação com o mesmo mês de 2021, para 4,4 milhões, segundo dados da B3.
Olhando para esse movimento, o CEO da Global X entende que, à medida que o mercado for crescendo e se sofisticando, aumentará o interesse dos investidores em internacionalizar suas aplicações, como mais uma opção de diversificação.
No primeiro semestre deste ano, o volume financeiro aplicado pelos brasileiros alcançou R$ 4,6 trilhões, alta de 3% em base anual, de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Berruga afirma que, do volume atual de investimentos, apenas 2% é destinado para ações de companhias no exterior, ou seja, R$ 92 bilhões.
“Acho que os investimentos no exterior devem alcançar 10% nos próximos cinco a seis anos, e de todo esse capital que irá para o exterior, eu acredito que 50% disso irá para ETFs internacionais”, afirma Berruga. “Então, estou bastante confiante de que podemos capturar de 10% a 15% de participação de mercado no período.”
A Global X trouxe ao Brasil 19 ETFs ligados a diversas tendências de tecnologia e commodities negociados nos Estados Unidos. A listagem foi feita via recibos de ações, os BDRs, veículos que representam ativos financeiros no exterior, sejam ações de empresas estrangeiras ou os próprios ETFs. No momento, a empresa tem aproximadamente R$ 16 milhões em ativos sob gestão no País, considerando os quase quatro meses de operação.
A empresa é especializada em ETFs temáticos, criando índices que acompanham uma cesta de ativos ligados a determinados assuntos. Um dos ETFs da Global X listados tem como tema cibersegurança, que acompanha um índice composto por 30 das principais empresas do mundo ativas nesse segmento. Ele considera apenas companhias com, no mínimo, US$ 100 milhões em valor de mercado. Outro ETF temático da Global X no Brasil acompanha mineradoras de urânio.
Dados da Global X apontam que, de janeiro de 2020 até ontem, dia 8 de agosto, os dois maiores ETFs da empresa acumulam valorização de três dígitos. O ETF de urânio tem alta de 112% e o de lítio, de 184%. No mesmo período, o S&P 500 registrou valorização de 33%, o Nasdaq de 44% e o indice de commodities S&P GSCI Commodity Indexed Trust de 34%.
O plano da Global X é listar mais 15 ETFs até o final do ano na B3, dando um total de 34 desses veículos listados em Bolsa. Mas a ideia de Berruga é disponibilizar a maioria dos 95 ETFs que a empresa tem nos próximos seis anos. Desses, 36 são temáticos.
“Alguns dos nossos ETFs ainda não atendem os requisitos da B3 em algumas questões, como liquidez, então vamos aguardar até que eles cumpram esses requisitos”, afirma. “No momento, planejamos lançar seis ETFs em setembro, cinco em outubro e cinco em novembro.”
O Brasil é um dos mercados em que a Global X está apostando para aumentar de tamanho e montante de ativos sob gestão. Fundada em 2008 e sob controle da gestora coreana Mirae Asset desde 2018, a empresa tem 47 escritórios espalhados pelo mundo e um total de US$ 45 bilhões em ativos sob gestão.
O principal mercado da empresa é os Estados Unidos, em que possui US$ 39 bilhões em ativos sob gestão. Em seguida aparece a Austrália, com US$ 3 bilhões, depois que a Global X adquiriu a ETF Securities, em meados de junho.
Com a expansão para o Brasil e a expectativa de crescimento do mercado global de ETFs, cujo tamanho atingiu US$ 10 trilhões em 2022, de acordo com dados da gestora BMO Global Asset Management, Berruga estabeleceu como meta atingir nos próximos dois anos US$ 100 bilhões em ativos sob gestão.
“Estamos vendo uma revolução, de saída dos tradicionais fundos para ETFs. Isso está acontecendo nos últimos dois anos, e nos Estados Unidos está acelerando”, afirma o CEO da Global X. “A maior parte [dos recursos projetados] virá dos Estados Unidos. E aí existem mercados como Brasil, Europa, Austrália em que estamos apenas começando.”
Demanda
O momento prolífico do mercado global de ETFs pontuado por Berruga também é visto no Brasil, com a quantidade desses veículos de investimentos crescendo nos últimos anos. No primeiro semestre, houve um aumento de 23,1% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo levantamento feito pela provedora de índices Teva Indices a pedido do NeoFeed. E, entre 2018 e 2021, o número de ETFs passou de 16 para 65.
O mesmo movimento foi visto na quantidade de investidores, que cresceu 33,1% na primeira metade do ano, para um total de 874,7 mil. Para efeito de comparação, a Teva Indices apurou que, no mesmo período, o número de cotistas em fundos ativos, que contam com acompanhamento ativo de um gestor, subiu 1,5%.
Segundo João Paulo Fernandes, head de pesquisa quantitativa da Teva Indices e responsável pelo levantamento, os ETFs estão ganhando tração por permitirem aos investidores se exporem a uma cesta de ativos comprando cotas a preços relativamente baratos, além de terem taxas de administração mais baratas e serem transparentes, ao contrário dos fundos, que normalmente tem sua composição fechada.
“É um produto que vem chamando a atenção dos investidores, especialmente aqueles do varejo, por ser de fácil alocação e permitir uma diversificação”, afirma.
De acordo com o levantamento da Teva Indices, a maior parte dos ETFs locais, 35% do total, são de fundos ligados a ações internacionais, mostrando uma boa perspectiva de crescimento para a Global X.
Mas o cenário positivo para ETFs ligados a fundos internacionais e macrotendências não atraiu apenas a Global X. Além dela, outras quatro gestoras fazem parte do programa de BDRs de ETF da B3.
O destaque fica por conta da BlackRock, que possui 74 ETFs listados. A gestora global, que tem US$ 8,5 trilhões em ativos sob gestão considerando todas as suas áreas de atuação, listou no começo do mês 19 BDRs de ETFs, entre eles mudanças climáticas, mudanças demográficas e sociais.
Para Berruga, a concorrência de um titã como a BlackRock não assusta. Ele aposta na expertise da Global X em estruturar ETFs, principalmente os temáticos. “Somos muito fortes também na parte de research, é algo que nossos clientes confiam muito na gente”, afirma.