A fusão da 3R Petroleum com a Enauta, anunciada em maio deste ano, representou a maior transação no setor de exploração e produção de petróleo e gás nos últimos dez anos, um marco na história das junior oils, que começaram a pipocar pelo País quando a Petrobras iniciou um processo de desinvestimento de ativos durante o mandato do ex-presidente Michel Temer.

Mas, agora, com a operação concluída, classificar a companhia que surge como junior oil já não parece mais correto para o Itaú BBA, diante das perspectivas para a produção a partir do ano que vem, a carteira de ativos que carrega e a expectativa para o retorno aos acionistas.

Depois de ficarem restritos na análise da companhia, pelo fato de o banco ter sido contratado pela 3R para atuar como assessor financeiro para a fusão, os analistas Monique Martins Greco Natal, Eric de Mello e Bruna Amorim voltaram a acompanhar a companhia.

E a recomendação é de compra das ações da 3R, com o preço-alvo estabelecido em R$ 47, o que representa um potencial de alta de 74% – a transação foi estruturada como uma incorporação de ações, com os acionistas da Enauta recebendo ações recém-emitidas da 3R.

Segundo os analistas, a empresa que está surgindo (por enquanto ainda denominada 3R) deve ver a produção ultrapassar 110 mil barris de óleo equivalente por dia (boed) em 2025, acima dos 73 mil boed previstos para este ano. A PetroRio, outro operador independente listado na B3, apresentou no segundo trimestre uma produção média de 89,8 mil barris por dia.

“Isso [produção média] posiciona a companhia muito além do status de junior e dá à nova administração uma ampla gama de opções para gerenciar eficientemente os ativos e criar valor para os acionistas”, diz trecho do relatório.

Em termos de reservas, a companhia combinada possui reservas de óleo e gás provadas de 568 milhões de boe (barris de óleo equivalente), localizadas no Sudeste e no Nordeste, entre ativos onshore e offshore, que representam 46% e 54% da produção, respectivamente, mas a expectativa é de que a participação dos ativos no mar aumente a 60% em 2025.

“O mix de ativos onshore e offshore no portfólio aumenta a estabilidade do fluxo de caixa futuro, por conta dos campos onshore, ao mesmo tempo que oferece um crescimento sólido da produção no curto prazo através de ativos offshore”, diz trecho do relatório.

Apesar do portfólio diverso, os analistas do Itaú BBA destacam que a produção da 3R e da Enauta estão concentradas em três grandes ativos – o Polo Potiguar (RN), o campo de Papa Terra (RJ) e o campo de Atlanta (RJ). O trio respondeu por 78% da produção total do primeiro trimestre e a expectativa é de que sejam responsáveis por 85% no ano que vem.

A expectativa é de que o portfólio seja revisto nos próximos meses, como parte da definição do planejamento estratégico para alocação de capital, abrindo caminho para desinvestimentos de ativos considerados não essenciais para a 3R-Enauta. O processo envolve ainda um pente fino sobre os investimentos e a implementação de medidas de captura de sinergia.

Os analistas do Itaú BBA projetam que as ações negociarão a um FCFE yield (rendimento do fluxo de caixa livre para o acionista) alcance 29% em 2025. Mesmo num cenário em que a produção fique 10% abaixo do esperado, o FCFE yield permanece num bom patamar, de 23%. “Isso deve permitir a 3R a reduzir os custos de sua dívida e distribuir dividendos”, diz trecho do relatório.

Por volta das 16h50, a ação RRRP3, da 3R, subia 2,96%, a R$ 27,84. No ano, o papel acumula alta de 6,96%, levando o valor de mercado a R$ 12,9 bilhões.