Em 2019, quando todos os grandes varejistas começavam a dar mais peso aos seus braços de fintech, o Inter decidiu seguir o caminho inverso. O banco digital foi o primeiro player financeiro a desbravar a arena dos marketplaces, ao lançar, em novembro daquele ano, o Inter Shop, como um dos elos do seu superapp.
Três anos depois, o saldo dessa movimentação, uma das apostas do Inter para reter e ampliar a recorrência dos correntistas no seu ecossistema, é positivo. A operação encerrou o terceiro trimestre de 2022 com um GMV acumulado de R$ 4,1 bilhões em 12 meses e uma base de 3,8 milhões de clientes ativos.
Entretanto, se até pouco tempo, o Inter nadou de braçada nesse mar azul, agora, o banco assiste ao crescimento da concorrência com a entrada de nomes como Itaú Unibanco, next, Nubank, Banco do Brasil e outros dos seus pares financeiros no segmento. E para seguir na dianteira, a plataforma está avançando em novas fronteiras: os Estados Unidos e as pessoas jurídicas.
“Enquanto o Inter tem avenidas, nós costumamos dizer que o Inter Shop tem ruas de crescimento”, diz Rodrigo Gouveia, CEO do Inter Shop, ao NeoFeed. “Nós estamos falando de novas frentes de consumo, de novos ‘share of wallet’ e isso passa por focos como a operação internacional e os clientes PJ.”
Após a aquisição da fintech americana Usend, em agosto de 2021, o Inter Shop foi a primeira ponta do portfólio do Inter a desembarcar nos Estados Unidos, dois anos depois. Em 2022, além de ajustes e aprendizados, o avanço marketplace em solo americano contou com o impulso de outras iniciativas do banco.
Em julho deste ano, um mês depois de concluir a migração de sua listagem para a Nasdaq – a empresa está avaliada em US$ 970 milhões - , o Inter finalizou a integração da sua conta global. Em setembro, essa base superou a casa de 500 mil correntistas. Hoje, o volume total de clientes do banco é de 22,8 milhões de clientes.
Agora, a estratégia do Inter Shop para decolar nos Estados Unidos passa justamente por esse universo de correntistas. Uma escala mais recente nessa direção veio na Black Friday, com o lançamento de gift cards americanos, por meio de acordos locais.
O recurso permite usar os cartões tanto no e-commerce como em lojas físicas do país. Com mais de 170 parceiros americanos, o pacote inclui acordos com empresas como Amazon, Best Buy, Nike, Apple, Macy’s e Walmart. Assim como já acontece no Brasil, os clientes têm direito a cashback, nesta etapa inicial, de 10%.
“Na conta global, você tem um cartão que pode usar nos Estados Unidos, sem pagar IOF e que ainda dá cashback”, diz Gouveia. “Você economiza, pelo menos, de 13% a 14%. Estamos mirando primeiro o viajante brasileiro, mas, em 2023, também queremos repercutir isso junto aos residentes brasileiros e latinos por lá.”
Como parte desse foco inicial nos turistas brasileiros, o Inter Shop também reforçou sua bagagem no exterior com ofertas de passagens aéreas e de reservas de hospedagem nos Estados Unidos. Até então, essas categorias estavam restritas ao mercado doméstico.
A plataforma pluga as ofertas por meio de um parceiro – de nome não revelado – que conecta companhias aéreas e grupos hoteleiros ao marketplace. A lista conta com nomes como Delta, American Airlines, Accor e Hyatt. O mix inclui ainda locação de carros, passagens de trens, ônibus e ingressos em atrações e passeios.
“Esse foi o ano em que consolidamos as parcerias por lá. Em 2023, vai ser o início de uma jornada para ter, de fato, números mais relevantes”, diz Gouveia. “Até 2024, a meta é que essa operação internacional tenha uma participação de 10% no resultado geral do Inter Shop.”
Marketplace PJ
Enquanto persegue essa meta, o Inter Shop fechou o terceiro trimestre com um GMV de R$ 939 milhões, ligeira queda anual de 0,8%. No período, a plataforma registrou o recorde de 8,4 milhões de transações, alta de 41%, e um patamar de recorrência de 75% entre os clientes da plataforma.
Entre julho e setembro, o marketplace conquistou 565 mil novos clientes e uma receita líquida de R$ 48 milhões, o que representou 16% da receita líquida de serviços de R$ 295 milhões do Inter nesse intervalo. Há um ano, esse índice era de 3%. No trimestre, a receita líquida total do banco cresceu 40%, para R$ 850 milhões.
Para ir além de uma prateleira que conta com mais de 900 lojas e mais de 800 mil SKUs, o Inter Shop também lançou a versão da sua plataforma para pessoas jurídicas, em especial, MEIs e pequenas e médias empresas. Hoje, o Inter atende 1,4 milhão de clientes PJ.
“Cerca de 80% do nosso catálogo para pessoa física está disponível nessa versão PJ”, diz Gouveia. A plataforma também oferece cashback e opções como crédito pré-aprovado, que amplia o limite disponível para compras no cartão de crédito PJ.
Entre outros recursos, o marketplace traz ainda descontos na primeira compra e, mais recentemente, adicionou as ofertas de passagens e estadias. A próxima novidade programada é a inclusão dos gift cards.
De setembro de 2021 a setembro de 2022, o Inter Shop acumulou um GMV de R$ 4,1 bilhões
“Vemos players financeiros entrando nesse modelo de marketplace para pessoa física”, afirma Gouveia. “Mas há uma vantagem em sair na frente. Nós aprendemos com esse segmento e já estamos fazendo o nosso para PJs. É óbvio que cada um tem sua aposta, mas acho que estamos mais evoluídos.”
Esse modelo está atraindo, de fato, outros nomes de peso do setor financeiro. O mais recente é o Itaú Unibanco, que acaba de lançar o Itaú Shop, marketplace integrado aos aplicativos do banco. A plataforma também oferece benefícios como cashback nas compras.
Outra iniciativa ligada a um grande banco envolve o next. Em novembro de 2021, o banco digital do Bradesco anunciou o lançamento do nextShop, sua aposta para ganhar terreno entre os marketplaces de origem financeira.
Entre outros players, a concorrência mais acirrada nessa arena ganhou outros dois rivais na mesma época em que o nextShop chegou ao mercado. O primeiro deles, a Loja BB, do Banco do Brasil, que conta com cerca de 50 selles. E o segundo, o Nubank, que estreou com parceiros como Magazine Luiza, Allied e Dafiti.