Às 10h29 desta quinta-feira, após um percurso iniciado em 2021, o Inter concluiu, enfim, a migração de suas ações da B3 para a Nasdaq, um passo considerado essencial pelo banco digital para a ter acesso a mais capital e a uma base de investidores mais ampla e conectada com sua pegada tecnológica.

Uma operação desse porte, por si só, já é bastante complexa. E esse trajeto ganha um contorno ainda mais desafiador pelo fato dela acontecer em um momento macroeconômico global extremamente instável, com duros reflexos, em particular, para empresas de base tecnológica listadas em bolsa.

Entretanto, segundo João Vitor Menin, CEO do Inter, a ideia de adiar ou engavetar o projeto diante desse cenário não chegou a ser considerada pela empresa. E, mais do que isso, ele entende que tal contexto apresenta uma oportunidade para a empresa e os investidores.

“Esperar o timing perfeito não funciona”, afirmou Menin, em conversa com jornalistas na tarde de hoje. “E, olhando de uma maneira positiva, eu considero que esse momento é um bom ponto de entrada para investidores internacionais que gostam da nossa história e que já nos acompanhavam.”

Em sua avaliação, ele destacou o fato de o preço da ação estar sendo negociado com algum desconto, na trilha da volatilidade do mercado. E também a questão desses investidores terem agora a opção de investir em papéis da empresa diretamente no mercado de capitais dos Estados Unidos.

“É muito mais fácil comprar a ação nos Estados Unidos do que no Brasil, até por toda a questão cambial”, observou. “É até mais conveniente para que esses investidores se tornem nossos acionistas. Então, acho, na verdade, que o momento é até bom para essa migração.”

Além dessa visão, a listagem na Nasdaq traz outro aspecto importante para o Inter, dado que, a partir de agora, o banco digital tem na figura do Nubank, avaliado em mais de US$ 18 bilhões, uma base mais assertiva de comparação. E a empresa liderada por Menin pode levar alguma vantagem nessa corrida.

Uma das questões é o fato de o banco já ter um portfólio de produtos e serviços financeiros, e também de ofertas não bancárias, mais amplo e consolidado. Com isso, a empresa está alguns passos à frente naquilo que é um dos grandes desafios do Nubank: ampliar a receita média por cliente, no caso do Inter, uma base de mais de 20 milhões de usuários.

No primeiro trimestre de 2022, o Inter reportou uma receita média por usuário de R$ 195,3, alta de 2,4% sobre igual período em 2021. Para efeito de comparação, no mesmo período, o Nubank reportou uma receita média mensal por cliente ativo de US$ 6,7 (cerca de R$ 32), um crescimento anual de 63%.

Entre janeiro e março, o Inter registrou uma receita total de R$ 1,2 bilhão, um salto anual de 129,5%. Nesse intervalo, o lucro líquido avançou 31,8%, para R$ 27,5 milhões.

Comparações à parte, Menin também destacou que, com a migração dos papéis, a empresa não emitiu novas ações e não está levantando recursos novos. “Fizemos quatro ofertas de ações nos últimos quatro anos e já estamos bastante capitalizados”, disse.

Isso não significa, porém, que a companhia também não tem desafios pela frente. O principal deles, talvez, é escalar a operação nos Estados Unidos, iniciada a partir da aquisição, em agosto de 2019, da fintech americana Usend.

Nesse momento, o portfólio nos Estados Unidos conta com opções como remessas internacionais, principal produto da Usend, além de cartão de débito, investimentos e ofertas do marketplace Inter Shop.

“É claro que esses produtos não estão tão evoluídos quanto o que temos no Brasil”, afirmou Menin. “Mas vamos não só melhorá-los, gradativamente, como iremos trazer outras ofertas, por exemplo, a parte de seguros.”

Para alcançar a meta de encerrar o ano com uma base de 1 milhão de clientes nos Estados Unidos, o foco inicial do Inter será tanto o público de imigrantes, em especial, brasileiros, que vivem nos Estados Unidos, quanto parte da base de clientes do Inter disposta a ter uma conta global.

“Temos esses dois canais de atração e, nesse primeiro momento, esse vento de cauda virá dos nossos clientes brasileiros”, destacou o CEO do Inter. “Já a partir de 2023, 2024, a proporção de clientes por lá abrindo conta a partir dos Estados Unidos será maior.”

Menin acrescentou que a expansão nos Estados Unidos segue uma abordagem “inteligente”. “Temos pouco risco de execução e não há necessidade de alocar muito capital”, disse. “Mas iremos passo a passo e vamos nadar a favor da correnteza.”

Apesar do foco em colocar os pés definitivamente no mercado americano, ele não descarta, no médio prazo, expandir a operação para outros mercados. E destacou que uma eventual sequência dessa estratégia teria provavelmente como escala não outros países da América Latina, mas sim, o continente europeu.

Enquanto traça seus próximos planos, no curto prazo, o Inter lida com uma queda acentuada em seu primeiro dia de negociações na Nasdaq. Por volta das 15h15 (horário dos Estados Unidos), as ações da empresa estavam sendo negociadas a US$ 3,50, um recuo de 12,06%.

Na B3, onde a empresa passou a negociar recibos de ações (BDRs) desde a segunda-feira, 20 de junho, a desvalorização no dia estava em 6,88% no mesmo horário.

Já as ações do Nubank, estavam cotadas a US$ 4,03 na Bolsa de Nova York, alta de 2,41%. No ano, os papéis da companhia acumulam uma desvalorização próxima de 57%.