No maior leilão de transmissão já realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em termos de previsão de investimentos, a chinesa State Grid mostrou a que veio e arrematou o maior dos lotes. Já a Eletrobras surpreendeu negativamente. Considerada outro grande nome para o dia, mas que não levou nenhum ativo.

O certame, ocorrido nesta sexta-feira, 15 de dezembro, na B3, ofereceu aos interessados três lotes compreendendo mais 3 mil quilômetros de linhas e subestações, com investimento estimado em R$ 21,7 bilhões.

Do valor em investimentos previstos, boa parte, cerca de R$ 18 bilhões, está concentrado no lote 1, que visa a aumentar a capacidade da interligação entre as regiões Nordeste e Centro-Oeste, com as linhas passando pelos Estados do Maranhão, Tocantins e Goiás.

Apesar do volume de investimentos previstos, a State Grid arrematou sozinha o lote, ao oferecer uma Receita Anual Permitida (RAP) de R$ 1,9 bilhão, um deságio de 39,5% em relação à RAP estabelecida no edital. A RAP é o valor a ser recebido pelas empresas pela prestação de serviços, que é pago pelos consumidores em suas contas de luz.

A vitória da State Grid não representou uma surpresa, segundo a XP Investimentos. Em comentário publicado após o certame, os analistas Vladimir Pinto e Maíra Maldonado afirmam que a companhia chinesa era o único player com conhecimento tecnológico necessário para levar o lote 1.

O lote prevê a entrega de quase 1,5 quilômetros de linhas de transmissão em corrente contínua (HVDC, na sigla em inglês), com um tipo de tecnologia exigida pelo governo federal, chamada LCC, que a companhia chinesa está mais acostumada a trabalhar.

Atuando no Brasil desde 2010, depois de adquirir sete companhias, a State Grid é uma das maiores empresas de transmissão da China, fornecendo energia para uma população de mais de 1,1 billhão, cobrindo 88% do território nacional chinês. Em 2017, ela assumiu o controle da CPFL Energia.

Ela aparece em terceiro lugar no ranking Fortune Global 500, que elenca as maiores companhias do mundo em termos de receita, com US$ 500 bilhões apurados em 2022.

Quem decepcionou os analistas foi a Eletrobras, que chegou a fazer uma oferta pelo lote 2, que prevê a construção de 1,1 mil quilômetros de linhas para ampliar a capacidade de transmissão entre os Estados de Goiás, Minas Gerais e São Paulo, e pelo lote 3, composto por 388 quilômetros de linhas de transmissão entre Minas Gerais e São Paulo.

Ela terminou o dia de mãos abanando. O lote 2 acabou arrematado pelo Consórcio Olympus, formado pela Alupar e a Mercury Investimentos, ao oferecer uma RAP de R$ 239,5 milhões. E mesmo dando um calor no lote 3, levando a disputa para o viva-voz, a Eletrobras perdeu para a Celeo Redes, que apresentou um deságio de 42,4%, o que representa uma RAP de R$ 101,2 milhões.

"Sem surpresas, a State Grid ganhou o bloco 1, dado que são os únicos players com conhecimento necessário", diz trecho do relatório da XP. "Por outro lado, a Eletrobras, uma das favoritas à vitória, não levou nenhuma concessão no leilão."

Além da vitória esperada pela State Grid e a decepção da Eletrobras, o leilão foi marcado pela ausência de grandes players do mercado, como Engie, ISA Cteep e Taesa, com as justificativas indo desde as características técnicas dos lotes até compromissos de investimentos feitos em outros leilões.

No fim, as propostas apresentadas pelos vencedores representam uma RAP regulatória final de R$ 2,27 bilhões, um desconto de 40,9% em relação à RAP inicial proposta.

“O leilão de transmissão realizado hoje encerrou com um deságio médio sobre a receita anual permitida (RAP) de 40,9%, o que consideramos um desconto menos agressivo em comparação com leilões anteriores devido ao significativo investimento em capex (especialmente no lote 1) e à tecnologia envolvida”, diz trecho do relatório dos analistas da XP Investimentos.