Depois de um 2023 que se mostrou positivo para o mercado de capitais brasileiro, a XP Investimentos permanece otimista com as perspectivas da renda variável no País e vê a possibilidade de o Ibovespa alcançar a marca dos 143 mil pontos - hoje, o índice está na casa dos 126 mil pontos.

Com a Bolsa ainda apresentando um patamar de valuation extremamente baixo para os padrões histórico, e em meio ao corte de juros promovido pelo Banco Central (BC), a equipe de research enxerga o Brasil bem-posicionado globalmente, aproveitando os altos preços de commodities e o fluxo de investidores procurando alternativas entre os emergentes.

“Continuamos vendo o Brasil como atrativo para os próximos 12 meses”, diz Fernando Ferreira, estrategista-chefe e head do research da XP, nesta segunda-feira, 4 de dezembro. “A bolsa brasileira continua bastante descontada, uma vez que mesmo com a alta recente, o Ibovespa negocia a oito vezes o P/L.”

Considerando o desconto da bolsa brasileira, a XP está com carteiras mais balanceadas em termos de setores alocados. Ainda assim, Ferreira apontou alguns setores como favoritos para aproveitar o momento.

Um deles é o de bancos. Segundo Ferreira, o segmento tem demonstrado resiliência, conseguindo lidar com a inadimplência oriunda da forte concessão de crédito durante a pandemia, ainda que nomes como Bradesco e Santander Brasil ainda estejam um pouco para trás.

O Itaú permanece sendo a top pick da XP, ao apresentar retornos na casa dos 20% e estar sendo negociada a um múltiplo de sete vezes o P/L, o que, segundo ele, não parece esticado.

O Banco do Brasil é outra escolha da casa, apesar da expectativa de crescimento menos robusto diante das expectativas de desaceleração do agronegócio. “Mas o papel é negociado a um desconto muito alto, abaixo de cinco vezes o P/L”, diz Ferreira.

Entre os bancos digitais, a preferência é pelo Banco Inter, por estar sendo negociado a um múltiplo baixo, de quase uma vez seu valor patrimonial. “O Nubank vem melhorando muito seus resultados, mas o papel é muito caro, quase cinco vezes o valor patrimonial”, afirma Ferreira.

Outro segmento destacado são as produtoras de petróleo, por conta do preço do petróleo. Mesmo apresentando volatilidade, a commodity não deve cair muito abaixo dos patamares atuais, com o contrato do Brent rodando atualmente acima dos US$ 77.

Isso abre perspectivas tanto para Petrobras quanto para as junior oils, que devem apresentar boa geração de caixa em 2024.

Ferreira apontou ainda oportunidades para nomes expostos à economia local, visto que a economia brasileira deve continuar expandindo, ainda que em um ritmo menor em 2024 – a XP projeta que o PIB deve avançar 1,5% no ano que vem, depois de subir 2,8% em 2023.

“No setor doméstico, nossa exposição está em empresas ou bastante defensivas, como setor de alimentos, ou empresas que vendem para consumidores de mais alta renda, como é o caso de Vivara”, disse Ferreira.

Ele destacou ainda que é preciso considerar o nível de endividamento das empresas, um tema que permanece como ponto de atenção, mesmo com a queda da Selic.

Outro ativo com uma visão positiva da XP são os fundos imobiliários. Com a queda dos juros, a tendência é que essa classe se beneficie de uma maior demanda por ativos imobiliários, com a compra de imóveis se tornando mais viável financeiramente.

Riscos

Apesar da manutenção do otimismo em relação à renda variável, a equipe de research da XP aponta que o cenário externo ainda é bastante nebuloso para 2024, o que pode trazer volatilidade e riscos para o mercado doméstico e para a alocação em ações.

Segundo Rodrigo Sgavioli, head de alocação da XP, a inflação americana e os Treasuries, as duas principais referências para a maioria dos outros mercados e classes de ativos de outros países, deixaram a velha estabilidade de lado. Sem uma direção clara, a recomendação é de cautela em decisões estruturais de longo prazo nos portfólios.

Mesmo enxergando um cenário benigno interno, diversificar os riscos das carteiras com investimentos que tenham pouca correlação com a renda fixa e renda variável continuará relevante. “Por mais que vemos multimercados sofrendo, eles são os principais instrumentos para ter instrumentos mais táticos”, diz Sgavioli.

No ranking de riscos para 2024, a incerteza fiscal doméstica permanece, mas os analistas demonstraram menos preocupação. A tendência é da manutenção da estratégia atual, com o governo focando na busca por receita, algo que pode limitar o espaço para flexibilização monetária. Para 2024, a XP projeta a Selic recuando a 10% ao ano, depois de encerrar 2023 em 11,75%.