Quando comprou a Easynvest, em 2020, muita gente graúda do mercado financeiro acreditou que o Nubank poderia chacoalhar as estruturas das plataformas de investimentos da mesma forma que estava incomodando os bancos tradicionais.

Quase cinco anos depois desse negócio bilionário, o Nubank ainda não conseguiu conquistar um lugar ao sol e nem se tornou um player relevante nessa área. A gestora, batizada de NuAsset, alcançou até o momento R$ 4 bilhões sob gestão e conta 1,5 milhão de cotistas.

Mas, agora, o Nubank elegeu um favorito para tentar ser relevante na arena dos investimentos: os ETFs (Exchange-Traded Fund), conhecidos como fundos de índice por acompanharem um indicador de ações ou de títulos.

“Os ETFs começam a ganhar mais destaque pela eficiência de taxa, liquidez e transparência. Com a nova regulação, temos visto uma demanda muito maior por parte dos assessores interessados em conhecer nossos ETFs”, afirma Andrés Kikuchi, CIO e head da NuAsset, um ex-UBS que foi escalado por David Vélez, o fundador do Nubank, para tocar essa estratégia.

Não é exatamente uma novidade a aposta do Nubank nessa estratégia. Os dois primeiros ETFs foram lançados em 2023, o Nu Renda Ibov Smart Dividendos (NDIV11) e o Nu Ibov Smart Dividendos (NSDV11). Em 2024, três outros produtos chegaram aos clientes do banco.

Só agora, no entanto, o Nubank acredita que esses fundos de índice possam deslanchar no mercado brasileiro. O motivo para esse otimismo de Kikuchi é resolução CVM 179, que exige maior transparência para a venda de um produto financeiro, que entrou em operação no ano passado.

Hoje, o modelo mais praticado pela indústria no Brasil é o comissionado, ou seja, a venda de um produto financeiro gera uma comissão ao distribuidor, chamado de rebate. O problema é que não havia transparência sobre essas comissões: o cliente paga e nem sabe quanto dinheiro está deixando na mesa.

Com a mudança regulatória, muitas assessorias estão começando a adotar o modelo fee based de remuneração em detrimento do via comissão. E isso pode tirar o incentivo de consultores e assessores oferecerem fundos ativos para os clientes, passando a oferecer ETFs por conta do menor custo e da eficiência.

“O foco em ETFs é uma tendência clara no Brasil, com um ambiente cada vez mais orientado para fee based e eficiência na alocação. A asset tem lançado diversas estratégias para diferentes perfis de clientes, o que deve impactar positivamente a receita do banco”, afirma um analista que acompanha o Nubank.

Não será, no entanto, uma missão fácil de Kikuchi. O mercado de ETFs sofre para deslanchar no Brasil, representando apenas 0,5% da indústria de fundos. Dentro desse universo, a participação do Nubank também é pequena. Dos 586 mil investidores de ETFs no País, apenas 25 mil investem nos produtos do Nubank, que fazem a gestão de apenas R$ 120 milhões de um total de R$ 54 bilhões.

O potencial do mercado de ETFs, no entanto, é gigantesco. Nos Estados Unidos, por exemplo, eles representam cerca da metade de todo volume sob gestão de fundos. A BlackRock, maior gestora do mundo, tem US$ 4,23 trilhões nesta classe de ativos.

Nessa estratégia, a NuAsset prepara um fundo de ações aberto voltado para a compra de ETFs com taxa de administração de 1% e sem taxa de performance. Kikuchi diz que ainda avalia se o fundo será distribuído por outras plataformas.

“O grande objetivo é mostrar como pode ser feita a alocação em ETFs por meio de um fundo. Pode até ser comparado com outras estratégias de renda variável, mas a um custo muito mais baixo”, afirma Kikuchi.

Andrés Kikuchi, CIO e head da NuAsset
Andrés Kikuchi, CIO e head da NuAsset

Além do Nubank, outros players têm enxergado potencial nesse mercado e começado a investir em ETFs. Entre eles, Oryx, Buena Vista e Investo. Os bancos tradicionais estão passando a atuar também nessa área com intensidade. E, com o advento de plataformas que permitem investimentos internacionais, ficou mais fácil acessar ETFs listados no exterior.

O fim do homebroker

Enquanto o Nubank busca projeção para além de sua base na gestão de investimentos, na frente de distribuição, o banco tem enxugado a variedade de produtos e funcionalidades oferecidas desde a compra da Easynvest. Todas as operações foram unificadas em um só aplicativo, o mesmo que dá acesso à conta corrente.

Produtos de crédito como debêntures, CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários) e CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio), antes oferecidos pela Easynvest, deixaram de ser ofertados pelo Nubank. O banco também retirou o homebroker, que permitia ao usuário definir preços para negociar ativos na bolsa e acessar mercados de futuros e opções.

O objetivo, segundo o Nubank, foi tornar a experiência “mais simples e prática”. Mas a redução de produtos e perda de funcionalidades desagradou clientes que buscam opções de investimentos mais avançadas.

“O Nubank perdeu e continua perdendo muitos investidores por falta dessa ferramenta, que era um diferencial contra outras corretoras”, disse um usuário da plataforma. “Estamos comprando e vendendo no escuro”, afirmou outro.

Para um gestor de um grande banco, ainda falta muito para que a atuação do Nubank no mercado financeiro alcance relevância parecida com sua frente de varejo. “É irrelevante. O que realmente importa é como estão com o mercado de baixa renda.”

O Nubank conta com mais 100 milhões de clientes e hoje é avaliado mais de US$ 64,6 bilhões na Bolsa de Nova York. Além do Brasil, tem operações no México e Colômbia e tem feitos investimentos minoritários em outras empresas para ganhar relevância global.

Os movimentos do Nubank são feitos para atingir milhões de pessoas e movimentar bilhões de reais. Na arena de investimentos, o caminho não tem sido, até agora, fácil