Os sinais de uma possível desaceleração apresentados pelo Nubank no quarto trimestre de 2024 colocaram em xeque a visão de que o banco é uma tese de crescimento acelerado, levando a uma forte correção das ações na sexta-feira, 21 de fevereiro, que acumulam alta de 25% em 12 meses.

Depois de uma queda de mais de 8% no pós-mercado de quinta-feira, 20, os papéis do maior banco digital da América Latina recuavam 15,22% perto das 12h45, na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), a US$ 11,31. O valor de mercado soma US$ 55,1 bilhões.

O Nubank fechou o quarto trimestre com um lucro líquido de US$ 552,6 milhões no trimestre. O resultado ficou praticamente estável em relação ao terceiro trimestre e um aumento de 53,1% em relação ao mesmo período de 2023.

A receita avançou 1,5% em base trimestral e 24,3% na anual, para quase US$ 3 bilhões, enquanto o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) atingiu 32%, acima dos 30% do terceiro trimestre e de 23% do quarto trimestre de 2023.

Quando colocaram a lupa sobre os resultados, a dinâmica da receita foi um ponto levantado por muitos analistas. Ainda que a última linha do balanço tenha superado suas estimativas em 5%, a equipe do Citi destacou que alguns do KPIs (indicadores de performance) no lado da receita tiveram forte desaceleração.

É o caso, por exemplo, da margem financeira líquida (NIM), que recuou em 0,7 ponto percentual em relação ao terceiro trimestre, para 17,7%, a segunda queda seguida em base trimestral. Outro KPI destacado foi a receita com tarifas – apesar do crescimento de 9%, foi a primeira vez que a expansão ficou abaixo dos dois dígitos.

“Embora a gente reconheça alguns contratempos vindos do câmbio, vemos algumas tendências da operação core atingindo saturação”, diz trecho do relatório assinado por Gustavo Schroden.

Apesar da carteira de crédito ter apresentado uma expansão de 45% em relação ao ano anterior e 13% em comparação ao trimestre anterior, os analistas da Ativa Investimentos disseram que o desempenho ficou abaixo do esperado. Segundo eles, o principal produto da carteira, o cartão de crédito, registrou um crescimento mais modesto de apenas 9% na comparação trimestral.

“Esse desempenho abaixo do esperado se deve, principalmente pela expectativa elevada, devido à sazonalidade habitual do quarto trimestre, que normalmente impulsiona o volume transacionado nos cartões e, consequentemente, a expansão do portfólio”, diz trecho do relatório assinado por Ilan Arbetman e Pedro Dietrich.

Para os analistas do BTG Pactual, a questão da NIM combinada com a mensagem de que o Pix parcelado não deve ter um aumento de penetração na base pelos próximos um ou dois trimestres ajudam a explicar o mau humor do mercado. São notícias negativas para os investidores, ao menos no curto prazo, que projetavam forte expansão no curto prazo.

“Avaliamos que o negócio no Brasil está cada vez mais mostrando sinais de maturidade, com menos espaço para crescimento, especialmente em cartões de crédito, em que a empresa ‘decifrou o código’”, diz trecho do relatório assinado pelos analistas Eduardo Rosman, Ricardo Buchpiguel e Thiago Paura.

Esta situação vem num momento negativo para os bancos brasileiros, com nomes como Itaú e Bradesco adotando uma postura mais conservadora quanto à concessão de crédito, diante dos juros e inflação em alta.

Os analistas do Safra avaliam que a receita deve desacelerar em 2025, com as receitas com cartões e juros perdendo força, diante da maturidade das operações de crédito e poucas opções de escalabilidade.

“Uma vez que novas iniciativas e geografias não devem pesar no lucro por ação no curto prazo tanto quanto cartões de crédito e empréstimos pessoais, vemos riscos nos consensos [no lucro por ação], especialmente nos mais otimistas, com alguns apresentando uma diferença de 37% na mediana do lucro por ação para 2027”, diz trecho do relatório assinado pelos analistas Daniel Vaz e Maria Luisa Guedes.