Os questionamentos sobre o nível de preço da ação do Nubank voltaram a ganhar força após os sinais de desaceleração apresentados nos resultados do terceiro trimestre. As ações do "roxinho" ainda acumulam alta superior a 40% no ano, mas, para analistas do Citi, o valor do papel reflete premissas excessivamente otimistas. E o melhor agora seria realizar o lucro.
O banco americano passou a recomendar a “venda” dos papéis, com preço-alvo de US$ 11, abaixo da atual cotação de US$ 12. “Reconhecendo a forte execução do Nubank, vemos o desempenho significativo de sua ação no acumulado do ano como uma boa oportunidade para realizar lucros”, afirma o Citi em relatório.
Embora o consenso do mercado ainda seja de otimismo, o Citi é o segundo banco em pouco mais de duas semanas a revisar a recomendação do Nubank. O primeiro foi o Itaú BBA, que rebaixou para neutro logo após o resultado do terceiro trimestre. Desde então, o Nubank perdeu cerca de US$ 20 bilhões em valor de mercado (aproximadamente R$ 120 bilhões na cotação atual).
Os principais pontos de preocupação do Citi estão no lucro líquido com juros (NII), que caiu 0,3% no trimestre; na retração de 140 pontos-base na margem líquida com juros (NIM); e na menor receita média mensal por cliente ativo, que recuou de US$ 11,2 para US$ 11.
O Nubank atribui o desempenho mais fraco do terceiro trimestre a fatores como a melhora no perfil de risco de cartões de crédito e concessão de empréstimos, além dos investimentos para expandir operações no México e na Colômbia. Apesar disso, o Citi avalia que essas novas frentes "podem levar mais tempo do que o esperado para compensar a desaceleração em cartões de crédito e empréstimos pessoais no Brasil".
Embora considere correta a maior cautela na concessão de crédito, o Citi destaca que o atual valuation do Nubank “só seria justificado em um contexto de forte aceleração em suas operações no Brasil”.
Segundo a análise, a ação é negociada com um múltiplo preço/lucro de 24,2x e preço/valor patrimonial de 6,2x. “Como o banco está desacelerando no Brasil, acreditamos que a avaliação atual parece elevada.”
Nesse contexto, o Citi enxerga o momento mais favorável para outra fintech brasileira: o Inter. Segundo os analistas, o banco mineiro está em posição oposta à do Nubank, com maior espaço de crescimento e em uma fase inicial de aumento de risco.
Uma das apostas do Inter é sua recente carteira de empréstimos sem garantia, que oferece retornos (e riscos) mais elevados. No terceiro trimestre, a carteira de financiamento ao consumidor do banco, que inclui produtos como Pix Crédito, Cheque Especial e BNPL (Buy Now, Pay Later), alcançou R$ 503 milhões, três vezes acima do registrado no primeiro trimestre.
No mesmo período, a receita média mensal por cliente ativo subiu 7% em relação ao trimestre anterior, atingindo o recorde de R$ 32,5, enquanto a margem líquida de juros cresceu 40 pontos-base, para 9,6%.
A expansão de margem, segundo o Citi, reflete não apenas a maior penetração de produtos mais arriscados, mas também um menor custo de captação, que foi de 65,4% do CDI no terceiro trimestre. Para efeito de comparação, o custo de captação do Nubank foi de 89% do mix das taxas interbancárias nos mercados onde atua.
Apesar das perspectivas positivas, o Inter tem enfrentado dificuldades nas bolsas americanas, com desvalorização acumulada de 18% no ano e ações cotadas a US$ 4,56. Considerando o preço atual e a melhora operacional, o Citi revisou a recomendação do Inter para "compra", projetando um potencial de alta de 75% até o preço-alvo de US$ 8 estipulado pelos analistas.