Marcos Leite viveu de perto boa parte da história da OLX no Brasil. Primeiro, como CEO da operação local, de 2012 a 2015, época em que os classificados online de produtos usados ainda engatinhavam por aqui. Depois, como COO, quando a empresa se uniu ao Bomnegócio.com e ganhou escala no País.
Desde o fim de 2020, o executivo está à frente de mais um movimento da empresa.: a ZAP+, unidade criada com a aquisição do Grupo ZAP, de imóveis online, por R$ 2,9 bilhões. A transação foi anunciada em março e aprovada em outubro do ano passado pelo Cade.
Com o acordo, o grupo integrou as marcas ZAP e Viva Real, entre outras operações, à OLX Imóveis, seu braço no setor. “Estamos em nossa terceira onda no Brasil”, diz Leite, CEO da ZAP+, ao NeoFeed. “E, nesse novo cenário, a vertical de imóveis é a maior e mais importante da OLX.”
Depois de dedicar boa parte do tempo à integração dos dois negócios, a ZAP+ começa a dar os primeiros passos, em um pacote que engloba frentes como ofertas financeiras, exploração de big data e até uma plataforma de e-learning para corretores e imobiliárias.
Por trás dessa movimentação está também a expectativa de aumento na concorrência no setor, com o avanço de nomes que, se ainda não disputam o mesmo espaço que o grupo, como os casos de QuintoAndar e Loft, caminham para se consolidar como grandes rivais no médio prazo.
Para enfrentar essa competição, a ZAP+ quer “chegar mais perto da transação”, como define Leite. Para isso, um dos projetos é encorpar sua oferta de financiamento imobiliário nos anúncios das plataformas.
Hoje, as soluções disponíveis incluem parceiros como o Bradesco, com a OLX, e o Santander, com o ZAP. Em um dos principais modelos já em operação, os financiamentos são ofertados por meio de banners nas plataformas do grupo. A cada negócio fechado, a ZAP+ ganha uma comissão.
Agora, a ideia é atrair novos parceiros e alternativas. Esses acordos podem incluir modalidades como o chamado home equity, como também são conhecidos os empréstimos com garantia de imóveis.
Juntas, as três bandeiras, cujas marcas serão mantidas, contabilizam 14 milhões de anúncios
“Hoje, nós geramos o lead, mas boa parte do financiamento acaba sendo offline. Participamos pouco”, afirma Leite. “Nosso papel é falar para o usuário final qual é a melhor taxa. Com isso, você resolve o problema de todo mundo, do comprador ao vendedor.” A mesma perspectiva está sendo aplicada com empresas donas de soluções digitais para etapas como as vistorias e a assinatura de contratos.
Outra oferta que vai ganhar tração já está dentro de casa. Trata-se da Anapro, comprada em 2019 pelo ZAP e que oferece ferramentas de vendas e marketing para incorporadoras. Além de explorar as vendas cruzadas nesse segmento, a ZAP+ quer levar esse portfólio também para as imobiliárias.
A Conecta Imobi, outra empresa do Grupo ZAP, que promove eventos para corretores e imobiliárias, vai também merecer atenção. A ideia é reforçar a Conecta Academy, plataforma de e-learning, que cobra mensalidades de R$ 19,90 e já conta com 14 mil usuários. A solução reúne conteúdos de nomes como Alexandre Frankel, fundador e CEO da Vitacon e da Housi, e André Siqueira, cofundador da RD Station.
A nova unidade também enxerga boas possibilidades no campo do fornecimento de dados e de inteligência imobiliária, a partir da avalanche de informações geradas nas três marcas da operação. Essa área estará a cargo do DataZAP, mais um ativo incorporado no acordo.
Para reforçar a atratividade das plataformas, uma das intenções é estender o acesso de algumas aplicações, hoje mais restritas às empresas, aos usuários finais. Entre elas, o recurso de comparar o preço de um determinado imóvel com outros apartamentos no mesmo prédio ou na mesma rua.
“Queremos colocar esses dados na mão do consumidor”, diz Leite. “E parte desses modelos e dessa inteligência poderá ser replicada para outras ofertas da OLX, como o segmento de autos.”
Levando-se em conta os últimos dados divulgados pela OLX e o Grupo ZAP, em 2018, a receita combinada da operação é de cerca de R$ 600 milhões. Hoje, a equipe abaixo de Leite é composta por 720 funcionários, dentro de um quadro total de 1,6 mil profissionais da OLX.
A base de clientes tem 40 mil imobiliárias e 571 incorporadoras. Juntas, as três bandeiras, cujas marcas serão mantidas, contabilizam 14 milhões de anúncios.
Outro ativo é o volume de 70 milhões de visitas mensais em todas as plataformas da OLX. “A partir dessa escala, nosso foco é digitalizar todos os elos do setor, que ainda é predominantemente offline”, diz Leite.
Não há dados sobre a fatia do segmento imobiliário na receita de publicidade online do País. Mas os últimos números compilados pelo IAB Brasil mostram que os classificados online responderam por cerca de 10% dos R$ 16,1 bilhões.
Competição crescente
Na cruzada para concretizar o mantra da digitalização do setor e ir além dos classificados online, a ZAP+ começa a enxergar, porém, adversários de peso. São os casos do QuintoAndar e da Loft, startups que foram alçadas, recentemente, ao status de unicórnio, como são conhecidas as empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão.
As duas empresas também têm investido na ampliação de suas áreas de atuação. As aquisições são uma das vias da Loft. A mais recente delas foi a Invest Mais, fintech de crédito imobiliário comprada em setembro, para reforçar a LoftCred, braço de financiamento criado pela startup no ano passado.
Na cruzada para concretizar o mantra da digitalização do setor, a ZAP+ começa a enxergar adversários de peso
Além de começar a estruturar sua oferta de produtos financeiros, com soluções de antecipação do aluguel para os proprietários, o QuintoAndar, por sua vez, também tem dado peso às ferramentas de inteligência imobiliária.
Em setembro, a empresa lançou o Índice QuintoAndar de Aluguel, com o objetivo de traçar um retrato mais preciso dos preços de locação de imóveis praticados em todo o País.
“Com a queda dos juros, todo o setor está aquecido”, diz Gustavo Araújo, CEO do hub de inovação Distrito. “No fim do dia, com crise ou sem crise, o tijolo acaba sendo o investimento mais seguro.”
Ele ressalta a onda de modelos disruptivos em toda a cadeia e que, naturalmente, as empresas mais avançadas na proposição dessas mudanças começam a “invadir” outros terrenos.
“Essas e outras empresas estão andando alguns passos na cadeia, mas nenhuma delas pode dizer que já dominou o seu próprio pedaço”, diz Araújo. “Todas ainda têm muito para crescer no que estão fazendo antes de competirem, de fato, umas com as outras.”
Leite segue na mesma linha. “No curto prazo, estaríamos superestimando a atuação de qualquer concorrente”, observa. “Todo mundo ainda precisa convencer os consumidores e o mercado a serem mais digitais. E quem sabe lá na frente exista a necessidade de uma consolidação.”