Depois de as ações da B3 passarem por desvalorização de 19,3% no ano, o Santander entende que os papéis chegaram num patamar atrativo aos investidores. E a empresa pode se beneficiar dos efeitos da queda da Taxa Selic para um dígito e a visão mais construtiva dos estrangeiros quanto ao mercado de capitais local, ainda que enfrente volatilidade até o fim do ano.

A correção e os sinais de melhora do cenário para o mercado de renda variável fez com que os analistas Henrique Navarro, Arnon Shirazi e Anahy Rios decidissem elevar a recomendação para as ações da operadora da Bolsa brasileira de neutro para compra.

“A razão para a elevação reside principalmente na correção de quase 20% das ações da B3 no acumulado do ano”, diz trecho do relatório. O Ibovespa, principal índice da bolsa de valores, recua 3,4% em 2024.

“Negociando perto ao que o mercado normalmente considera como o piso das ações (algo em torno de R$ 11, que é quando o P/E está próximo de 13 vezes), vemos mais potencial de alta do que risco de queda”, diz trecho do relatório.

Segundo eles, a ação está sendo negociada a um P/E de 13,8 vezes para 2024, um desconto de 38% frente a seus pares internacionais, enquanto as estimativas do Santander sugerem um P/E de 17,7 vezes para este ano.

Os analistas do Santander destacam que o valuation atrativo vem no momento em que as condições para a retomada do mercado de renda variável começam a dar sinais de melhora.

Pelo lado da política monetária, os economistas do banco estimam que a Selic deve terminar o ano em 8,50% ao ano, melhor do que a expectativa média do mercado. O Relatório Focus mostra que o consenso é de que a taxa básica de juros do País feche 2024 em 9,00% ao ano.

A manutenção da perspectiva otimista veio mesmo após o último comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) apontar que as incertezas quanto ao cenário econômico exigem flexibilidade na condução da política monetária, com interpretações de que isso pode resultar na revisão do ritmo dos cortes da Selic nas próximas reuniões. No encontro de março, a taxa de juros foi reduzida em 0,50 ponto percentual, para 10,75% ao ano.

Para os analistas do Santander, apesar do cenário exigir mais atenção, as atas da última reunião do Copom apontam que “não há mudança material no cenário, ou não visão do BC a respeito da taxa terminal”, justificando a manutenção para a projeção da Selic.

Outro ponto que deve servir de “vento de cauda” para as ações da B3 é o humor dos estrangeiros. Em interação com investidores internacionais, os analistas do Santander perceberam uma visão mais construtiva quanto ao mercado local.

“Quando, e se, o fluxo estrangeiro vier ao Brasil (para nós, é mais uma questão de ‘quando’ do que ‘se’), a B3 pode ser um veículo para estes investimentos, porque alguns investidores veem a B3 como uma proxy do ETF do mercado brasileiro, além de verem a ação com alta liquidez e avaliaram a empresa sendo de alta qualidade”, diz trecho do relatório.

Apesar de otimistas, os analistas do Santander também possuem algumas reticências quanto à B3, fator que resultou no corte do preço-alvo dos papéis de R$ 17 para R$ 15 - ainda assim um upside de quase 25% sobre o preço de tela.

O principal fator para o corte foi a revisão das expectativas para o volume médio diário negociado (ADTV) esperado para o ano. O montante caiu de R$ 30 bilhões para R$ 26 bilhões, prejudicado pela baixa movimentação na Bolsa neste começo de ano. A expectativa dos analistas do Santander é de uma melhora a partir do segundo semestre.

Sobre o tema de competição, que veio à tona recentemente com as notícias de que o Mubadala Capital está estruturando uma nova Bolsa, prevista para começar a operar em 2025, os analistas do Santander afirmam que a iniciativa pode ser até benéfica para B3, ao reforçar o Brasil no mapa dos investidores internacionais.

“Embora não seja fácil encontrar um motivo para comemorar o ‘risco de concorrência’, se você for acionista da B3, acreditamos que o resultado disso será um mercado mais eficiente, com mais visibilidade internacional, resultando eventualmente em ADTVs estruturais mais elevados no Brasil”, diz trecho do relatório.

Por volta das 13h30, as ações da B3 subiam 3,08%, a R$ 12,06. O valor de mercado da companhia soma R$ 67,6 bilhões.