Depois de buscar domar a inadimplência oriunda da forte concessão de créditos do período da pandemia, o Santander Brasil instituiu como sua nova meta voltar a ter um retorno sobre o patrimônio líquido médio (ROAE) em patamares próximos aos 20% vistos antes da pandemia.

Esse é um objetivo que o CEO Mario Leão vem repetindo nos últimos trimestres, destacando o rumo que a estratégia que o banco pretende caminhar. Mas, a julgar pelos resultados do quarto trimestre, o banco ainda precisa expurgar velhos fantasmas e avançar naquilo que se propôs para começar a ver uma recuperação.

De outubro a dezembro do ano passado, o ROAE alcançou 12,3%, queda de 0,8 ponto percentual ante o terceiro trimestre, mas acima dos 8,3% do quarto trimestre de 2022. Esse ponto, combinado com a queda de 19,2% do lucro líquido recorrente em base trimestral, para R$ 2,2 bilhões, surpreendeu analistas e investidores.

O resultado levou as units do banco a registrarem a maior queda entre as ações do Ibovespa. Por volta das 14h30, as units do Santander recuavam 2,23%, a R$ 28,55. No ano, elas acumulam queda de 11,6%, levando o valor de mercado a R$ 211,2 bilhões.

Boa parte desse desempenho é oriundo do reconhecimento de R$ 732 milhões de provisões para devedores duvidosos (PDD) devido a um “caso específico do segmento atacado”. Isso fez com que a PDD alcançasse R$ 6,8 bilhões, aumento de 21,7% em relação ao terceiro trimestre. Em base anual, ela caiu 7%.

O banco não quis detalhar qual foi o caso, afirmando que se trata de um caso específico, mas analistas apontam que tudo indica ser a Americanas. Ao contrário do Bradesco, que provisionou os recursos necessários para cobrir a totalidade de sua exposição à varejista, o Santander foi provisionando aos poucos. Primeiro em 30%, depois 50%. A dívida da Americanas com o banco é da ordem de R$ 3,7 bilhões.

Em entrevista na quarta-feira, 31 de janeiro, Leão disse que a PDD recorrente, que mede a operação core do banco, de varejo, está controlada.

“O número (da PDD) veio acima do esperado, não vou dar voltas, mas ele veio claramente discreto, identificável a nomes específicos”, afirmou. “Fizemos um reforço de balanço em atacado, que é identificável, e em outros dois, relacionados a questões específicas.”

Outro ponto que ainda pesa no Santander é a questão da inadimplência, que foi algo considerado negativo por analistas e investidores. A inadimplência acima de 90 dias (NPL mais 90) permaneceu pressionada e encerrou o trimestre em 3,1%, alta de 10 pontos base na comparação trimestral e mesmo patamar na anual.

Leão disse que o caso foi provocado pela maior inadimplência na carteira renegociada e destacou ainda que as safras novas continuam se comportando bem e a diversificação em diferentes linhas deve ajudar a manter as perdas sob controle. “O custo de crédito recorrente, aquele que precisamos nos concentrar para ter a qualidade de fato da operação, tem caído”, afirmou. O custo de crédito caiu de 4,3% para 4% em base trimestral.

Enquanto ainda lida com resquícios do passado, o Santander coloca em marcha seu principal projeto para ajudar na retomada da rentabilidade: o varejo massificado, que ainda apresenta rentabilidade negativa. A ideia é buscar uma redução de custos via simplificação da oferta de produtos. Um exemplo dado pelo CEO foi a redução das linhas de cartão de crédito, de cerca de 300 para quase 100.

“Vamos buscar ROAEs mais altos a cada ano, não vai ser linear”, afirmou Leão. “Primeiro vamos buscar um patamar de ROAE por volta de 15%, depois de 15% a 20% e em algum momento vamos almejar acima de 20%, mas temos que ir passo a passo.”