No mês de junho, o TikTok, aplicativo da rede social de vídeos curto, foi o mais baixado do mundo, à frente de Zoom, Facebook e YouTube. Foram 87 milhões de download, uma alta de mais de 50% sobre o mesmo mês do ano passado, segundo a consultoria Sensor Tower.

Mas não deixa de ser um feito raro para uma empresa chinesa de internet, que já superou a marca de 2 bilhões de downloads. Afinal, o Tiktok se tornou uma sensação nos quatro cantos do mundo. Em especial nos Estados Unidos e na Índia.

Mas esse crescimento acelerado está ameaçado. Recentemente, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, disse que os EUA estão considerando proibir o TikTok por razões de segurança.

O presidente americano Donald Trump, que não perde uma oportunidade de criticar empresas chinesas, sugeriu também uma proibição do TikTok, alegando que se tratava de uma retaliação pela maneira como a China lidou com o surto do coronavírus.

Experientes parlamentares que se interessam por política externa, como o senador republicano Marco Rubio e outros membros do Congresso, também aumentaram a pressão sobre o TikTok.

O chefe democrata do painel de segurança nacional da Câmara, Stephen Lynch, pediu à Apple e ao Google que impeçam os aplicativos de compartilharem dados confidenciais com a China, em uma carta aparentemente destinada ao TikTok.

Mas não é só nos Estados Unidos que cresce à pressão ao TikTok. Na Índia, que é seu principal mercado, à frente dos EUA, as coisas não andam também boas para o aplicativo chinês.

No começo de julho, o governo indiano anunciou a proibição de 59 aplicativos desenvolvidos por empresas chinesas, sob a justificativa de que os apps poderiam estar ameaçando a segurança nacional e a defesa do país, abrindo um impasse entre as duas nações mais populosas do mundo. Entre eles estava o TikTok.

Os Estados Unidos estão também dando sinais de que vão sair das ameaças e partir para ações concretas. A Casa Branca está considerando colocar o TikTok em uma lista que impediria os americanos de usar o aplicativo, segundo uma reportagem do jornal britânico Financial Times, citando três fontes familiarizadas com o assunto.

Uma proposta que está sendo analisada é a de colocar a ByteDance, a empresa chinesa dona aplicativo, na "lista de entidades" do Departamento de Comércio dos EUA.

Essa medida tornaria excepcionalmente difícil para as empresas americanas fornecerem tecnologia ao TikTok. As restrições incluiriam também o software, o que significa que a Apple e outras lojas de aplicativos não poderiam mais fornecer atualizações em suas plataformas.

Não seria a primeira vez que os Estados Unidos sob o governo de Trump tomariam tal medida. No ano passado, a fabricante de telecomunicações Huawei entrou nessa lista por conta das alegações de que ajudaria a China a realizar espionagem.

A decisão do governo americano em relação ao TikTok deve ser tomada dentro de um mês. "Vamos enviar uma mensagem muito forte para a China", diz a fonte do Financial Times.

O TikTok sabe que sua origem chinesa é um problema em várias partes do globo, à medida que cresce a escalada de atritos entre os EUA e a China. Mas tenta se desvencilhar dessa imagem.

A ByteDance, por exemplo, estava "avaliando mudanças" na estrutura corporativa do TikTok. Uma das hipóteses era criar um conselho de administração separado da ByteDance ou estabelecer uma sede fora da China.

Além disso, o TikTok tem adotado algumas medidas para reduzir essa desconfiança. Em maio, por exemplo, contratou o americano Kevin Mayer, um ex-executivo da Disney, para ser o seu CEO.

Outra medida para tentar se desvencilhar da origem chinesa é o fato de que a marca TikTok é internacional. Ela não existe na China. No país asiático, o nome do aplicativo é Douyin.

Um sinal de que não estaria alinhado com o governo chinês foi o anúncio de que planejava deixar de operar em Hong Kong, diante da nova e controversa lei de segurança sancionada pelo governo chinês que, na prática, restringe ainda mais a já relativa autonomia no mercado local.

A companhia diz ainda armazena os dados de seus usuários nos servidores nos EUA ou Cingapura. Mas sua política de privacidade deixa claro que o TikTok “pode compartilhar informações com uma controladora, subsidiária ou outra afiliada do nosso grupo corporativo”.

Chineses: go home

O cerco ao TikTok é só mais um caso de animosidade contra empresas chinesas, por conta da pressão dos Estados Unidos.

Um exemplo é a própria Huawei, que constrói infraestrutura de telecomunicações e está na disputa global pela implantação de redes de tecnologia ultrarrápidas 5G.

Nesta semana, o governo britânico proibiu o uso de equipamentos da Huawei para suas redes 5G. As empresas de telecomunicação britânicas devem suspender a compra de novos equipamentos da marca e remover os já existentes até 2027.

O governo britânico alegou que o motivo para banir a Huawei é o impacto de novas sanções sobre a tecnologia de chips. Isso poderia limitar a capacidade da empresa chinesa de se manter como fornecedora confiável no futuro.

Com a exclusão da Huawei, a implantação de uma rede 5G na Inglaterra poderá ter atraso de até três anos e um custo extra de até 2 bilhões de libras esterlinas.

Em janeiro, o governo britânico havia autorizado a Huawei a participar da infraestrutura do país, ainda que de forma limitada.

Esse comportamento não se restringe a empresas de tecnologia e de internet. No mercado de capitais americano, as regras às empresas de fora dos Estados Unidos ficaram mais duras.

Muitos atribuírem esse endurecimento de regras para companhias que querem abrir o capital nos Estados Unidos a uma forma de limitar o acesso ao mercado acionário americano às empresas chinesas.

O Senado dos EUA, por exemplo, aprovou uma proposta que obriga companhias internacionais a adotarem padrões americanos de auditoria e outras regulamentações financeiras.

A Nasdaq tem discutido também restrições que podem afetar a abertura de capital das empresas da China em seu pregão. Uma das regras refere-se ao valor da oferta, que deve ser de no mínimo um quarto do valor de mercado da listagem ou de US$ 25 milhões. É a primeira vez que a bolsa americana define parâmetros de valor mínimo para listagens internacionais.

Por conta disso, muitas empresas chinesas estão desistindo de abrir o capital nos Estados Unidos. Foi o caso da JD.com, que tem capital aberto na Nasdaq, e resolveu fazer uma segunda listagem na Bolsa de Hong Kong, onde captou US$ 3,9 bilhões em junho.

Outra companhia listada na Nasdaq a seguir esse roteiro foi a NetEase, de games, que levantou US$ 2,7 bilhões em uma oferta subsequente, também em junho. No ano passado, outro gigante chinês, o Alibaba já havia seguido esse caminho.

Segundo o portal americano Crunchbase, desde 2018, 50 empresas chinesas abriram capital nos Estados Unidos. Em 2020, foram dez processos até o momento, sendo que, boa parte deles, aconteceu antes da pandemia e das novas regras impostas às companhias estrangeiras.

Quem tem se beneficiado dessa situação é a STAR, conhecida como a Nasdaq chinesa, por focar em empresas de inovação e tecnologia. A chinesa SMIC, maior fabricante de chips da China, captou US$ 7,6 bilhões em um IPO na STAR, a maior abertura de capital deste ano e o maior em uma década na Ásia.

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