O Grupo Pão de Açúcar (GPA) terá um novo CEO. Em anúncio realizado na quinta-feira, 17 de março, a companhia informou que Jorge Faiçal Filho dará lugar a Marcelo Pimentel, ex-CEO da Lojas Marisa, como o novo executivo responsável por chefiar as operações da varejista.

Em relatório assinado por Marcella Recchia, divulgado a clientes nexta sexta-feira, 18 de março, o Credit Suisse avalia que a mudança traz mais dúvidas do que respostas para o futuro do GPA.

Para o Credit Suisse, a transição no comando da varejista marca o fim de um ciclo para a companhia e o começo de uma nova era para a GPA, que agora deve focar nas operações da marca Pão de Açúcar. A estratégia para o futuro também envolve impulsionar a transformação digital do grupo.

Em uma projeção otimista, o banco suíço entende que Pimentel, o quinto CEO em cinco anos, possa ser “a pessoa certa para colocar o ‘novo’ GPA Brasil de volta aos trilhos” pela experiência que acumulou no Walmart e em outras empresas.

É também a primeira vez que o conselho do GPA traz um CEO como uma perspectiva externa e que substitui veteranos do GPA e do grupo francês Casino, que controla a varejista brasileira.

Por outro lado, o Credit Suisse destaca que a mudança foi surpreendente e que o novo CEO chega num momento em que a companhia tenta reverter um histórico de oito anos de baixo crescimento.

Embora tenha um novo olhar para o negócio, o banco assume uma postura cautelosa e diz que “os investidores querem ver resultados sólidos para que possam perder o ceticismo. O preço-alvo, em 12 meses, é de R$ 29, um valorização de 26%.

Em números, a previsão é de queda na receita. O faturamento em 2021 foi de R$ 51,2 bilhões contra R$ 50,4 bilhões registrados no ano retrasado. Para o Credit Suisse, o faturamento deve cair para R$ 43,8 bilhões neste ano e só vai voltar a crescer em 2023, quando a previsão é de receita de R$ 46,3 bilhões

Pimentel assume o cargo após acumular uma experiência nas Lojas Marisa, onde ficou por cinco anos, sendo três deles ocupando o cargo de CEO. Antes disso, passou também pelo Walmart. Lá executou funções na Asda, a rede de supermercados controlada pela varejista americana. Passou também pelo Grupo DPSP, que controla as drogarias São Paulo e Pacheco.

Assista a entrevista de Marcelo Pimentel ao Conexão CEO, quando estava na Marisa:

A mudança ainda não gerou um grande impacto nas ações da companhia negociadas na B3. Os papéis estão em queda de 0,5%, nesta sexta-feira, 18 de março. No ano, as ações já subiram pouco mais de 9,7%. O valor de mercado da companhia é de R$ 6,1 bilhões.

Momento de mudanças

O GPA passa por uma reestruturação no seu negócio com o abandono do segmento de hipermercados, representado pela bandeira Extra, e a separação da rede de atacarejo Assaí. No lugar, o plano firmado foi baseado em fortalecer a marca Pão de Açúcar com a abertura de 100 unidades até 2024 e reforçar o formato digital.

A decisão de abandonar os hipermercados afastou o GPA de uma competição cada vez mais acirrada entre gigantes do e-commerce. “Decidimos que não vamos competir com Amazon, Magalu e MercadoLivre querendo ser marketplace generalista. Seremos especialistas em sete categorias”, disse Faiçal, em entrevista exclusiva ao NeoFeed no fim de janeiro.

Na época, de acordo com Faiçal, o Extra representava 25% das vendas do grupo, menos de 10% do lucro e 80% da agenda. Com a venda de 71 lojas do Extra para o Assaí por R$ 5,2 bilhões, a ideia era dar mais foco para negócios mais rentáveis e promissores.

Em vez dos hipermercados, o GPA, então, passou a investir numa solução para que as compras sejam feitas por WhatsApp e começou a olhar com mais atenção para plataformas de delivery como iFood, Rappi e Zé Delivery.

“Vamos fazer entregas rápidas, em até 15 minutos. Estou aprendendo com os caras e colocando para dentro de casa”, disse o então CEO da varejista ao detalhar um projeto-piloto chamado “15 minutos do Pão de Açúcar” para entregar compras de forma mais rápida.

O movimento ia de encontro com os resultados que o GPA já observava no online. Na época da entrevista, Faiçal se baseava ainda no último balanço disponível até aquele momento, do terceiro trimestre do ano passado, e que apontava que um aumento de 46% nas vendas online da varejista, um alento para os resultados ruins do período.