Fundado pelo empreendedor Fernando Ângelo em 2017, o aplicativo de transporte Sity Inc. passou três anos em desenvolvimento e testes. Só em 2020, ele começou um projeto-piloto em São Paulo e no Rio de Janeiro
E, agora, no meio da pandemia do coronavírus, a Sity está dando o pontapé inicial a uma agressiva estratégia de expansão geográfica. No começo de agosto, ele já estava em 12 cidades. Agora, até o fim deste mês, a companhia está chegando a 104 cidades de todos os Estados brasileiros mais o Distrito Federal.
“Quero ser o Nubank dos aplicativos”, diz Fernando Ângelo, CEO e fundador da Sity, em entrevista ao NeoFeed. “Todo mundo duvidou que o Nubank iria conseguir disputar mercado com Bradesco, Itaú e Santander e eles conseguiram.”
A missão de Ângelo não é das mais simples. Primeiro porque o Nubank foi irrigado com recursos de grandes fundos de investimentos, como Sequoia Capital e Tencent, para fazer frente aos grandes bancos – desde sua fundação, a fintech fundada pelo colombiano David Vélez recebeu US$ 1,4 bilhão, de acordo com o Crunchbase.
A Sity, por sua vez, diz que tem investimentos de apenas R$ 8 milhões de seu fundador e de um grupo de empreendedores. Não bastasse isso, o aplicativo brasileiro terá de brigar com Uber e 99, que, a despeito de operarem no prejuízo, contam com investidores de peso e mantêm estruturas robustas no Brasil e no mundo.
No caso da Uber, a empresa é uma companhia de capital aberto, cotada na Bolsa de Nova York (Nyse) e vale US$ 56,6 bilhões. Um dos principais investidores é o Softbank. A 99, por sua vez, é controlada pelo grupo chinês Didi Chuxing, conhecido como a Uber da China, que comprou a operação dos fundadores Paulo Veras, Ariel Lambrecht e Renato Freitas por US$ 1 bilhão, em 2018.
Como Ângelo, um empresário da área de transporte, que foi dono de uma empresa de entrega de cargas fracionadas chamada Matter Solutions, quer encarar essa batalha que parece a versão da história bíblica de Davi versus o gigante Golias do mundo dos negócios? A resposta: apostando em um serviço melhor ao motorista e ao consumidor.
O Sity cobra uma taxa de 20% de cada corrida dos motoristas, que diz ser menor do que a dos rivais. Além disso, o aplicativo brasileiro não tem tarifa dinâmica, que é cobrada quando há grande demanda de corridas em uma determinada região ou horário por Uber e 99. Dessa forma, o valor pago pelo consumidor é também menor, segundo a empresa.
O aplicativo brasileiro diz também ser mais seguro, pois exige um cadastro com mais dados dos usuários e com a exigência de foto do perfil. Os motoristas também não são penalizados se não aceitarem viagens, como acontece com os seus rivais - os passageiros podem não gostar desse recurso.
A Sity está comunicando a chegada às novas cidades e está recrutando motoristas através de uma central remota. A companhia conta com um centro físico de atendimento ao motoristas só em São Paulo.
Em breve, a Sity vai inaugurar outro centro no Rio de Janeiro. A empresa estuda também montar unidades físicas para atender os motoristas em Salvador e Brasília.
Segundo a Sity, a companhia já tem 46 mil motoristas cadastrados (deve chegar a 50 mil em setembro) e conta com 130 mil clientes ativos. As 104 cidades que agora passam a contar com os serviços do aplicativo brasileiro têm 72 milhões de habitantes, cerca de um terço da população do Brasil.
Com a expansão, o aplicativo brasileiro, além de estar presente em todas as capitais brasileiras, chegará em 50 cidades dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
São números ainda modestos perto de seus rivais. A Uber diz que conta com mais de 1 milhão de motoristas e entregadores e que o número de usuários é maior do que 22 milhões. Atualmente, a companhia comandada globalmente por Dara Khosrowshahi está em mais de 500 cidades no Brasil.
A 99, por sua vez, contava com mais de 750 mil motoristas em mais de 1,6 mil cidades no Brasil. O número de passageiros estava na casa dos 20 milhões.
A tática da Sity para fazer seus números crescerem, tanto de motoristas, como de clientes, é uma parceria com o Banco Pan, que lançou uma conta digital em fevereiro de 2020.
Os motoristas da Sity que abrirem uma conta digital na instituição financeira são isentos por três meses da taxa cobrada a cada corrida. No futuro, o plano é que eles recebam os pagamentos do aplicativo brasileiro direto na conta digital do Banco Pan.
“A ideia é oferecer serviços financeiros dentro da base de clientes da Sity”, afirma Pedro Poli Romero, superintendente de banco digital no Banco Pan. “Somos um banco focado em crédito para a classe C, D e E.”
Os consumidores que se cadastrarem no aplicativo da Sity e usarem o cartão de crédito ou de débito do Banco Pan para pagar as corridas ganham também vouchers com 10% de desconto nas corridas.
O desafio dos passageiros
Para uma fonte que conhece o mercado de aplicativos de transporte não é difícil conquistar motoristas, que muitas vezes trabalham com diversos apps.
“Eles devem estar conseguindo convencer muitos motoristas a instalar o aplicativo e a se cadastrar por estarem descontentes com a quantidade de corridas ou com o tratamento recebido na Uber e 99”, diz a fonte. “Mas conseguir passageiros não é simples.”
O jogo do mercado de aplicativo, diz essa fonte, é de massa, o que envolve muita publicidade para chamar a atenção dos consumidores e subsídios para fazer com que eles experimentem o aplicativo.
E, neste caso, fornecer subsídios significa gastar dinheiro – coisa que Uber e 99 fizeram muito no passado, quando estavam brigando pela preferência do consumidor. A questão que se coloca: a Sity terá fôlego financeiro nessa disputa?
Ângelo diz que negocia um aporte com investidores. Mas não fornece detalhes sobre o investimento, nem o estágio da negociação. O empreendedor espera que com a expansão para as novas cidades consiga conquistar 80 mil motoristas e 2 milhões de clientes até o fim do ano. São recursos e números essenciais para que a corrida do Sity não seja curta.