Diante de um cenário que já era turbulento, o mercado de criptomoedas ganhou novos contornos críticos a partir do colapso recente das operações da FTX. Mesmo nesse contexto, há quem esteja disposto a expandir suas operações e a ampliar sua aposta no setor.
Esse é o caso da Ripio. A exchange argentina, que tem entre seus investidores Marcos Galperin, fundador do Mercado Livre, antecipou com exclusividade ao NeoFeed que obteve todas as licenças necessárias para operar nos Estados Unidos. A autorização é a senha para que a empresa desembarque em seu quinto mercado internacional.
A licença permite que a empresa opere nos Estados Unidos sem a necessidade de ter parceiros locais. “Nós vamos poder oferecer toda a gama de serviços, desde a carteira digital até a plataforma B2B”, diz Henrique Teixeira, country manager da empresa no Brasil.
Com cerca de 5 milhões de usuários, a Ripio espera que o mercado americano possa ser um impulso importante para a sua operação. “É um país que tem um potencial muito grande, mas é cedo para afirmar que será o principal mercado para a Ripio”, diz Teixeira.
Além de Estados Unidos, Brasil e Argentina, a Ripio está presente no Uruguai, Colômbia e México. O mercado brasileiro é o segundo maior para a empresa, atrás apenas da terra natal da exchange, fundada em 2013 por Sebastian Serrano, Mugur Marculescu e Luciana Gruszeczka.
Com a licença obtida, a companhia agora está estruturando suas operações físicas nos Estados Unidos, que já conta com profissionais trabalhando em regiões como Califórnia e Nova York. “A tendência é expandir”, afirma Teixeira.
Além do foco em consolidar sua presença no mercado americano, o plano para 2023 inclui expandir o negócio a novas regiões, tendo como principal alvo, a Europa.
Um cobertor no B2B
O chamado inverno cripto vem afetando de forma brusca os resultados financeiros de empresas do segmento. A Coinbase, por exemplo, viu seu valor de mercado na Nasdaq despencar mais de 80% desde o começo do ano e está avaliada em US$ 11,8 bilhões.
A Ripio não divulga os dados financeiros de sua operação. Mas Teixeira deixa claro que a empresa não sairá ilesa desse cenário. “Em termos de receita, foi um ano atípico, por conta da desvalorização das criptomoedas em geral”, diz o executivo.
Considerando apenas o valor do Bitcoin, cada unidade da moeda digital valia US$ 16,6 mil na sexta-feira, 18 de novembro. O valor é 65% menor do que a cifra na qual a moeda era negociada no começo do ano.
O que vem ajudando a Ripio a atravessar esse período mais conturbado é a sua frente de negócios B2B. Além de uma exchange para a compra e venda de criptomoedas e um cartão de crédito com cashback em cripto, a companhia oferece serviços voltados diretamente a clientes corporativos.
Em agosto, a companhia firmou um acordo com o Mercado Livre para lançar o token digital da companhia de comércio eletrônico. Chamado de Mercado Coin e com valor variável, o token pode ser comprado e vendido diretamente pelo Mercado Pago ou obtido como cashback em compras realizadas dentro do e-commerce.
“Essa é uma das áreas que têm apresentado maior crescimento”, diz Teixeira. Ele observa que há conversas em andamento com outras empresas para a criação de novos tokens. “Há um interesse crescente nesta indústria. São empresas que atuam com marketplaces, bancos, serviços de pagamento e indústrias.”
Além da tokenização, a Ripio vem apostando em uma frente chamada de Cripto-as-a-Service, na qual firma acordos para oferecer serviços white label para terceiros. “Há um crescimento muito rápido no B2B”, diz Teixeira. “Eu não me espantaria se a gente visse um crescimento nessa área mais forte no ano que vem.
A Ripio já captou mais de US$ 94 milhões em investimentos nos últimos anos, segundo dados do Crunchbase. Entre os investidores estão FJ Labs, Digital Currency Group, além de empresários como Martin Migoya, da Globant, e Galperin, do Mercado Livre. Não há planos de novas captações no curto prazo.