Veterano do mercado financeiro, o americano Brad Liebmann construiu uma carreira de sucesso como empreendedor depois que deixou o Lehman Brothers, em 1999. Mudou-se para o Reino Unido e fundou a Simply Business, uma startup que vendia seguros para pequenos empresários em uma plataforma online.

Em 2017, ele vendeu a empresa para a gigante americana Travelers, por US$ 480 milhões. Decidiu se aposentar e foi para o Caribe. "Mas fiquei entediado e decidi empreender de novo, mas dessa vez queria fazer algo com propósito", conta Liebmann, ao NeoFeed. "Optei pela inclusão financeira. E vi no Brasil um mercado em que podíamos causar um grande impacto."

Foi assim que nasceu a fintech alt.bank, lançada no País em 2018 e que hoje anuncia a captação de US$ 5,5 milhões em uma rodada série A liderada pelo fundo americano Union Square Ventures, que já investiu em empresas como Coinbase e Twitter. Esse é o seu primeiro aporte no Brasil.

A rodada tem ainda a participação dos investidores Taavet Hinrikus, fundador e CEO da TransferWise; Nick Talwar, presidente e CEO da CircleUp; e Iñaki Berenguer, fundador e CEO da CoverWallet.

Talwar e John Buttrick, sócio da Union Square Ventures irão integrar o conselho do alt.bank, ao lado de Michel Goguikian, ex-CEO do Santander na América Latina, e de Thomas Srougi, fundador da dr.consulta. "Srougi é o primeiro brasileiro no conselho. Nossas empresas têm um mindset social parecido", diz Liebmann.

Com os recursos, a empresa vai focar na ampliação do time, hoje com 84 pessoas, especialmente nas áreas de tecnologia e marketing. E vai preparar dois novos produtos, que serão lançados ao longo do ano. O primeiro é uma linha para empréstimos pessoais, e, o segundo, um cartão de crédito tradicional.

Atualmente, a startup oferece uma conta gratuita e um cartão de débito Visa, apelidado de “amarelinho”. Com a pandemia, a startup acelerou também o lançamento de um cartão de crédito pré-pago para facilitar as compras online.

A conta digital dá direito a saques em caixas eletrônicos da rede Banco 24 Horas e permite a transferência via Pix. O dinheiro depositado é remunerado diariamente em 100% do CDI.

A fintech também trabalha com um modelo de rede de indicações. Cada cliente tem direito a um pequeno percentual – não revelado – do volume transacionado nos cartões de outros correntistas que indica. A empresa ganha no volume, recebendo uma pequena taxa sobre cada transação feita no débito e no crédito, por meio das operadoras de cartão.

As indicações são parte importante da estratégia de crescimento da startup, que conta também com campanhas nas redes sociais e atendimento via WhatsApp. O foco reside no público das classes C, D e E, muitos deles desbancarizados.

Um estudo feito pelo instituto Locomotiva apontou que, em 2019, o Brasil tinha 45 milhões de desbancarizados. Segundo Liebmann, ao considerar também a população que é mal atendida por instituições tradicionais, o potencial de clientes chega a 100 milhões.

Brad Liebmann, fundador e CEO do alt.bank

Com mais de um milhão de downloads do seu aplicativo, o alt.bank tem hoje mais de 100 mil clientes ativos. E uma meta ambiciosa. "Queremos chegar a 30 milhões de clientes. Pode levar 10, 20 anos. Mas temos uma visão de longo prazo", afirma Liebmann.

A tarefa, no entanto, não será fácil. Há uma oferta crescente de carteiras digitais no mercado, muitas delas focadas no público-alvo do alt.bank. A lista inclui, por exemplo, a Bitz, do Bradesco, e a iti, do Itaú Unibanco, além de nomes já mais estabelecidos no segmento, como PicPay e Mercado Pago.

Outras empresas também têm olhado com interesse para esse perfil de cliente. O Nubank, por exemplo, lançou um cartão para quem não tem uma conta. E o Banco Pan, agora sob o controle do BTG Pactual, também passou a oferecer uma conta digital com o mesmo apelo.

Para tentar se diferenciar da concorrência, a conta digital do alt.bank também dá direito ao serviço saúde+, uma parceria com a dr. consulta. No modelo, o cliente paga uma mensalidade de R$ 15 e pode solicitar consultas via telemedicina.

Cada consulta custa R$ 40 (abaixo da média de R$ 120 cobrada na rede) e dá direito a um retorno gratuito em até 30 dias. Há ainda descontos entre 10% e 35% na compra de medicamentos nas redes Raia Drogasil e Pague Menos.

Além da intensa competição nesse segmento, há um desafio adicional em alcançar esse perfil de cliente. "A população desbancarizada tem aversão à tecnologia e desconfia de serviços de internet", afirma Cristina Helena Pinto de Mello, economista da ESPM.

Ela aponta ainda outros entraves, como a falta de infraestrutura de internet em muitas regiões do País, a dificuldade de acesso a smartphones mais modernos e a falta de programas de alfabetização digital. "O letramento digital é a nova exclusão social", acrescenta Cristina.