A gestora americana especializada em ETFs, WisdomTree, com cerca de US$ 97 bilhões sob gestão, chegou ao Brasil em parceria com a Compass Group e quer trazer inovação para o crescente mercado brasileiro com uma proposta de autoindexação, como fez nos Estados Unidos e na Europa.

A gestora desembarca no Brasil com três BDRs de ETF, destinados a qualquer investidor, desde o varejo a sofisticados institucionais. O primeiro deles é Wisdomtree Floating Rate Treasury Fund (BUSF39), que oscila de acordo com as taxas básicas de juros de curto prazo dos Estados Unidos por meio do índice Bloomberg U.S. Treasury Floating Rate Bond.

Depois, vem o Wisdomtree Cloud Computing Fund (BWCL39), que acompanha o índice BVP Nasdaq Emerging Cloud, desenvolvido para avaliar o impacto das empresas públicas de tecnologia de nuvem emergentes dos EUA. E, por fim, o Wisdomtree Yield Enhanced U.S. Aggregate Bond (BAGY39), uma carteira com alocação multisetorial de renda variável.

"Somos uma empresa global e estamos focando agora nossos esforços na América Latina. Estamos muito animados em começar nosso negócio no Brasil em parceira com a Compass, um mercado grande potencial", diz Jonathan Steinberg, fundador e CEO da WisdomTree, em entrevista exclusiva ao NeoFeed.

A intenção era lançar mais ETFs, mas a regulação brasileira impede que a gestora utilize o seu diferencial: criar, de forma original, os próprios índices usando dados históricos de mercado e observando a demanda dos investidores.

A nova regulação de fundos de investimento, a Resolução CVM nº 175, trouxe algumas inovações, mas não em relação a esse ponto. O anexo Normativo V (que trata dos ETF e BDRs de ETF), no artigo 52, diz que o BDR só pode ter como lastro um ETF que respeite as regras domésticas em relação aos índices, o que inclui ter um provedor de índice externo. A ideia por trás da limitação é que a gestora poderia mudar o índice em benefício próprio.

Mas a WisdomTree, junto com a sua parceria Compass, está em conversas com os reguladores e com a B3 para avançar no assunto.

“O selfindex, de uma maneira regulada, só tem como beneficiar o investidor final. Estamos conversando com a Anbima e a B3 e ambos se mostram favoráveis. E queremos junto com eles sentar com a CVM para dar tranquilidade ao regulador e mostrar como é feito lá fora”, afirma George Kerr, partner e country head Brasil da Compass Group.

Na época do lançamento da resolução CVM 175, a autarquia afirmou que tinha interesse em "continuar a receber sugestões relacionadas aos FII, FIP e ETF, com vistas a, eventualmente, incluir projetos normativos dedicados a esses fundos na agenda regulatória da autarquia para 2024".

Para Steinberg, a questão faz parte do desenvolvimento dos mercados e a WisdomTree quer ajudar na educação e na evolução do mercado brasileiro mostrando aos reguladores como a questão é endereçada nos Estados Unidos e como poderia ser feita por aqui.

“Estamos comprometidos no longo prazo com o Brasil, um mercado grande e em desenvolvimento. Queremos não somente trazer inovação e outros produtos para cá, como também criar produtos brasileiros para levar ao resto do mundo. Mas, para isso, precisamos desenvolver a regulação atual”, diz o fundador e CEO da WisdomTree.

Uma história baseada em informação

A WisdomTree foi pioneira na criação de seus próprios índices e é líder de autoindexação. Alguns de seus ETFs mais famosos são o WisdomTree US Quality Dividend Growth Fund, que investe em pagadoras de dividendos nos EUA, e o WisdomTree Japan Hedged Equity Fund, que investe em empresas japonesas pagadoras de dividendos com hedge cambial.

A sua história está intrinsecamente ligada a essa inovação. A empresa nasceu como um veículo de mídia do então jornalista financeiro Jonathan Steinberg, em 1998, que ajudava o pequeno investidor a achar as melhores aplicações financeiras no mercado com relatórios de research e índices.

Quando o mercado global de ETFs tinha apenas cerca de US$ 40 bilhões (hoje são, aproximadamente, US$ 10 trilhões), o jornalista percebeu o potencial que ele tinha para ajudar os pequenos poupadores e transformou a companhia em uma asset management com a ajuda de investidores, como o gestor de hedge fund Michael Steinhardt e o fundo de venture capital RRE Ventures.

O nome da empresa passou a ser WisdomTree e os seus primeiros ETFs foram lançados em 2006. Ela possui capital aberto na bolsa de Nova York desde 2011.

“Percebi que esse veículo era uma grande evolução do que existia. Há transparência, liquidez, eficiência tributária e conveniência. É o futuro do mercado de asset management. E o nosso diferencial foi entender que informação é investimento", diz Steinberg.

A WisdomTree conseguiu permissão dos reguladores americanos para criar os próprios índices, o que revolucionou o mercado, já que os índices tinham outro viés de construção do que o dos provedores tradicionais. Apesar de criarem as metodologias dos indicadores, grandes provedores são contratados para fazer o cálculo de atualização recorrente deles, como Bloomberg, Refinitiv e a S&P.

“Apenas porque somos os donos dos índices temos a flexibilidade para tornar o produto melhor para os nossos clientes, que não são as bolsas de valores como os principais provedores, mas o investidor. Entendemos melhor no que eles querem investir”, afirma Steinberg.

A gestora vende, atualmente, seus ETFs em quase todo o planeta e está agora focando seus esforços na América Latina, e assim no Brasil.

Um mercado em desenvolvimento

O mercado de ETFs no Brasil é recente e representa apenas 0,5% da indústria de fundos brasileira, segundo dados da Anbima. As grandes assets internacionais têm desbravado o Brasil com a listagem de BDRs de ETFs, que seguem o ativo internacional.

Hoje já há mais de 200 BDRs de ETFs listados na B3, sendo a BlackRock o grande player desse segmento com os iShares. Por ter sido um dos primeiros a desbravar e por ter ajudado os reguladores na regulação, dez dos fundos mais negociados nos últimos 12 meses são iShares. Outros grandes players são o j.p. morgan, Global X e First Trust.

Segundo dados da B3, esse mercado hoje possui mais de 16 mil investidores, e a custódia está na casa dos R$ 2 bilhões. Sendo que 91% da custódia está com investidores institucionais. Muitos fundos de pensão gostam desse tipo de ativo porque ele não é considerado pelo regulador um ativo internacional (está listado no Brasil e oferece exposição internacional).

A entrada da WisomTree mostra o grande potencial que o mercado brasileiro ainda oferece para as gestoras estrangeiras. Oportunidade que justifica entraves regulatórios, o baixo apetite atual para o risco e uma disposição de crescer no longo prazo.

Atualmente, as altas taxas de juros atrapalham o crescimento do mercado, pois não vale a pena entrar no risco cambial e de mercado se é possível ter retornos atrativos com a taxa Selic. Mas a grande aposta do mercado internacional é que isso irá mudar. E, quando isso acontecer, é preciso já estar consolidado no Brasil.

“ETFs começaram para o investidor de varejo e hoje ganharam todo o mercado, simplesmente porque são mais eficientes. Hoje, eles crescem acima da indústria de fundos em quase todos os mercados. Sem dúvida, acontecerá no Brasil e queremos fazer parte dessa jornada”, diz Steinberg.