A gestora de créditos estruturados Polígono concluiu a captação de R$ 400 milhões para o Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) dedicado ao Mercado Livre. Com a operação, o patrimônio líquido do fundo da gigante varejista passa a ser de R$ 2,2 bilhões.
Com mais de 200 mil operações de recebíveis processadas por dia, o Mercado Livre, que se tornou a empresa mais valiosa da América Latina, vinha financiando, nesses últimos tempos, grande parte dos seus fornecedores com capital próprio.
Além do risco de crédito ficar todo com a varejista, seu balanço ficava alavancado. Mas com a volta do apetite dos investidores com o FIDC de risco sacado, após a aversão provocada pelo evento Americanas, o Mercado Livre tomou coragem e buscou uma maneira de colocar o financiamento dessas operações em uma estrutura apartada.
“Hoje, todas as empresas querem um FIDC próprio por ser uma estrutura mais barata e mais eficiente de operacionalizar necessidades de crédito”, afirma Edgard Erasmi, CEO da Polígono, em entrevista ao NeoFeed.
Os fundos criados pelas empresas para fomentar a cadeia de fornecedores são uma alternativa ao funding bancário. É uma forma de estreitar os laços comerciais e financiar a produção. Grandes empresas capitalizadas voltaram a apostar nesse tipo de operação em uma engenharia financeira que ajuda na desalavancagem do próprio balanço.
O FIDC do Mercado Livre emitiu R$ 400 milhões em cotas mezanino (risco intermediário entre a sênior e a subordinada), que não foram direcionadas para o investidor de varejo. Um quarto da captação foi feita por FIDCs da própria Polígono que buscam originações feitas em casa. O restante foi absorvido por family offices e investidores antigos, como os que vieram da Captalys, a gestão dos fundos foi absorvida pela Polígono há cerca de um ano e meio.
“Queremos atender a demanda de crédito de forma mais customizada. Com grande foco em tecnologia para processar um grande volume de dados, conseguimos fazer isso de maneira que os bancos não querem ou não conseguem”, diz Erasmi.
No Brasil, cerca de 80% do crédito das empresas é bancário, enquanto nos Estados Unidos, 20%. A aposta da Polígono, que detém R$ 6 bilhões sob gestão, é que o mercado brasileiro chegará a um meio termo, com o mercado de capitais ganhando cada vez mais relevância. Isso mostra o enorme potencial de crescimento para gestoras de FIDCs.
Segundo fontes ouvidas pelo NeoFeed, a estimativa é que os FIDCs de risco sacado já representam entre 12% e 15% do patrimônio de R$ 490 bilhões dos FIDCs. E são as grandes varejistas, como o Mercado Livre, os parceiros que estão sendo bastante explorados pelas gestoras, por possuírem complexas e volumosas operações de crédito.
A Polígono tem no pipeline outras operações nas três estratégias em que atua: com carteiras pulverizadas e proteção na cota sênior (como a dessa operação com o Mercado Livre); crédito massificado, com originação do crédito; e operações bilaterais com grandes empresas, como a feita com a Azul, com cheque de R$ 600 milhões.
Para a gestora, há apetite dos investidores para aumentar o número de operações após as mudanças regulatórias que classificaram os FIDCs, que são entidades de investimentos, como isentos de cobrança de come-cotas.
Na dificuldade de outras classes de investimento baterem o CDI, o FIDC entrega um retorno de CDI + uma rentabilidade fixa com pouca volatilidade e com garantias de proteção, sempre utilizado nas estruturações das gestoras.
O tempo da reestruturação
Joint venture formada pelo BTG Pactual com a gestora Prisma em novembro de 2022, a Polígono projeta dobrar de tamanho até o fim de 2025, chegando a R$ 12 bilhões sob gestão.
A Polígono foi criada para absorver os investidores da Orion, antigo fundo da gestora Captalys que sucumbiu após suas cotas ficarem negativas e desencadear uma crise de confiança nos investidores.
Até o segundo trimestre deste ano, a Polígono trabalhou na reestruturação dos 35 fundos que vieram na operação. Foram criados três veículos novos dois fundos de crédito (Polígono Bravo, para investidores institucionais, e Polígono Alpha, investidores qualificados) e um fundo de previdência.
“Finalmente, resolvemos o legado e estamos olhando para frente, fazendo coisas novas. Estamos muito otimistas com o mercado de FIDCs e com o nosso diferencial de usar tecnologia. Estamos só no começo", diz Erasmi.
A Polígono pretende crescer dentro do mercado institucional, que considera o mais fácil de escalar neste momento. Gestores multimercado estão cada vez se aproximando em busca de incorporar os FIDCs à sua parcela de investimentos de crédito. Além deles, os fundos de pensão, que ainda possuem restrições, devem seguir esse caminho em breve.
Mas a gestora também analisa colocar o pé no varejo no médio prazo. O obstáculo a esse movimento é fazer o produto chegar aos investidores certos, que entendam as suas características e riscos.