Não é só o mercado de ações dos Estados Unidos que está surfando a onda de valorização em 2024. Enquanto o S&P 500 acumula mais de 11% de alta no ano, outros ativos desassociados da bolsa também registram crescimento surpreendente, em meio ao cenário de incerteza da economia americana quanto ao início da queda de juros.

O grupo de quatro investimentos sem fluxo de caixa associado – bitcoin, ethereum, ouro e prata, quarteto conhecido pelas iniciais em inglês BEGS – tem valorizado em níveis históricos ou próximos a eles.

Embora cada um desses ativos tenha sua particularidade momentânea que explica essa procura maior, analistas do mercado especulam que o futuro corte de taxas de juros por parte do Federal Reserve (Fed) também esteja por trás dessa valorização dos ativos BEGS.

Mesmo sem relação direta com a política monetária americana, os BEGS em tese se beneficiariam da queda dos juros – pelo simples fato que reduziria o custo de oportunidade de manter um investimento que não paga juros.

Ou seja, é possível que algumas das compras desses ativos estejam ocorrendo de forma especulativa, em antecipação a futuros cortes nas taxas. Quando os juros baixarem, a procura por ativos BEGS deve subir.

A rigor, essa possibilidade de os ativos BEGS estarem valorizando por conta da trajetória dos juros é o único elo em comum entre a maior procura atual por esses investimentos. Mesmo porque, isoladamente, todos vivem um bom momento.

O ouro é um exemplo. Embora seus preços sejam influenciados pelas taxas de juro dos EUA, a recente força do ouro resultou, em grande parte, pela compra massiva desse ativo pela China, onde as opções de investimento são mais limitadas do que noutros países.

A estratégia do Banco Central da China de diversificar suas reservas internacionais e se proteger contra a depreciação da moeda, o yuan - que se desvalorizou em 2% este ano frente ao dólar –, fez aumentar o apetite pelo ouro. Foram 18 meses consecutivos de grandes compras de ouro por parte do governo chinês.

Outro fator para a procura do ouro é o aumento das tensões geopolíticas, o que leva investidores e até governos estrangeiros a buscarem ativos desatrelados ao dólar.

Na segunda-feira, 20 de maio, o ouro atingiu a máxima histórica de US$ 2.450 por onça-troy. Além da China, a grande procura por bancos centrais de outros países por esse ativo, além da perspectiva de cortes nos juros americanos, são vistos como razão para esse recorde.

Ethereum e bitcoin

Outros dois ativos BEGS em alta são o ethereum e o bitcoin. Ambos utilizam a tecnologia blockchain, que permite a transferência de criptomoedas entre indivíduos sem a necessidade de uma terceira parte – como banco ou empresa de remessa internacional – para garantir a transação.

O ethereum atingiu nesta quinta-feira o melhor preço em mais de dois meses em meio à expectativa de que a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) estaria prestes a aprovar, até o final do dia, a criação de dois fundos negociados em bolsa (ETFs) atrelados à criptomoeda.

Ao longo da manhã, a criptomoeda operava em alta de 7%, a US$ 3.935. No acumulado da semana, o ativo digital teve valorização de quase 30%.

A aprovação também pode ser um catalisador para que o bitcoin atinja novos recordes, de acordo com o Standard Chartered. Em dólar, o bitcoin acumula valorização de 158% nos últimos 12 meses.

A prata, por sua vez, atingiu no começo da semana sua maior cotação em 11 anos.

Da mesma forma que o ouro, a prata é vista com um ativo seguro durante crises geopolíticas. A queda da cotação do dólar e sua aplicação industrial também têm impulsionado sua valorização.

A longo prazo, a procura industrial pela prata deve aumentar. No mês passado, um relatório de um instituto internacional do setor projetou um salto de 9% na procura industrial da commodity este ano.

A previsão é que a prata usada na fabricação de painéis solares aumente 20% em 2024, para 232 milhões de onças, enquanto e que a demanda pela indústria de joias cresça em cerca de 4%.