Em 2017, quando lançaram a empresa de private equity EB Capital, Eduardo Sirotsky Melzer, Luciana Antonini Ribeiro e Pedro Sirotsky Melzer, captaram dinheiro para os chamados fundos monoativos, aqueles que investem em apenas uma empresa.
A ideia era investir em companhias que tivessem potencial de crescimento, atuassem no middle market e que gerassem algum tipo de impacto para a sociedade. “Além do negócio e do lucro, o nosso objetivo sempre foi construir soluções para o crescimento do Brasil”, diz Luciana Ribeiro, sócia e managing partner da EB Capital, ao NeoFeed.
Daí vieram a BR Supply, empresa de logística que fornece materiais corporativos; e a Sumicity, uma empresa de telecomunicações, que leva fibra óptica para pequenas cidades no interior do Rio de Janeiro. “Cidades periféricas, com 10 mil habitantes, que ficavam largadas pelas grandes empresas”, diz Luciana.
Agora, a EB Capital, que desde abril tem como sócio o executivo Pedro Parente, presidente do conselho de administração da BRF, se prepara para dar novos passos com a criação de um fundo multiativos. A empresa já está captando no mercado e deve anunciar algumas aquisições nas áreas de educação e saúde.
O plano é investir entre R$ 250 milhões e R$ 300 milhões por ano em participações em empresas. “Investimos em companhias que atuam em segmentos imunes a ciclos econômicos”, diz Luciana. Isso quer dizer onde existem lacunas a serem preenchidas e com muito potencial de crescimento.
Empreendedor visionário
O próprio caso da Sumicity ajuda a ilustrar essa tese de investimento defendida pelos gestores da EB Capital. Trata-se de uma empresa que nasceu, em 2004, em Sumidouro, interior do Rio de Janeiro, justamente da falta de atenção das grandes empresas de telecomunicações com as pequenas cidades.
Tudo começou em 2002, quando Vicente Gomes, recém-formado analista de sistemas, se deparou com um problema na loja de sua família, chamada Magazine Rose. Na época, seu irmão, Sérgio Marcelo, criou um sistema de gestão da loja e precisava plugar na internet. A Oi vendia o link, mas era muito caro. “Passamos a dividir com outros moradores para baratear o custo”, diz Vicente Gomes ao NeoFeed.
O segundo entrave apareceu quando a mãe deles, Rose, decidiu abrir uma filial de sua loja na cidade de Carmo, a 20 quilômetros de Sumidouro. “Lá não tinha cabo, não chegava internet”, diz Gomes.
Diante do impasse, desenvolveram a transmissão via rádio e, como havia acontecido em Sumidouro, os moradores de Carmo começaram a solicitar o serviço para eles. Viram que existia uma grande lacuna a ser preenchida e montaram a Sumicity.
A EB Capital entrou na Sumicity, em dezembro do ano passado. A gestora de private equity comprou 60% da empresa por R$ 200 milhões e indicou Fábio Abreu, ex-executivo da Cemig e da Telefônica, para comandar a empresa. “Participamos ativamente da gestão. Ajudamos na estruturação de processos, nas finanças e na governança”, diz Luciana.
Há oito meses, quando a EB Capital fez o aporte, a Sumicity contava com uma rede de 11 mil km de fibra óptica, 92 mil clientes espalhados por 18 cidades e presença no Rio de Janeiro e Minas Gerais. Hoje, já conta com 13 mil km de fibra óptica, 170 mil clientes espalhados por 40 cidades e está prestes a entrar no Espírito Santo. “Nossa meta é chegar a 500 mil clientes até 2022”, diz Gomes.
Apesar de estar fazendo o trabalho como prometeu, a EB Capital ainda tem de provar para os investidores que sua tese de investimento faz sentido e que é rentável. Afinal, a gestora tem pouco mais de dois anos de vida e ainda não vendeu nenhuma de suas participações.
“Vamos quadruplicar a Sumicity em cinco anos e depois pensar na venda dela”, diz Luciana
“Vamos quadruplicar a empresa em cinco anos e depois pensar na venda dela”, diz Luciana. Por enquanto, a Sumicity está analisando a compra de empresas menores e segue apostando no crescimento orgânico.
Depois, poderá avaliar uma venda para uma companhia maior. “A abertura de capital não é a nossa primeira alternativa de saída. Nunca sabemos como a economia estará dentro de cinco anos.”
Cada um no seu quadrado
No total, a EB Capital tem R$ 700 milhões sob gestão. Aí estão incluídas as participações na BR Supply, na Sumicity e na Wine.com.br, este último um investimento feito pelo grupo de mídia RBS, controlado pela família Sirotsky. Esse, aliás, é um ponto que geralmente causa confusão.
O grupo de comunicação começou a investir em startups, em 2012, sob a alcunha e.Bricks Digital. Fez aportes em empresas como Pontomobi, Predicta, entre outros. Mas, em 2013, a empresa encerrou suas atividades sob a batuta do RBS e vendeu suas participações.
Os irmãos Eduardo e Pedro Sirotsky criaram, então, duas empresas de investimentos, com dinheiro de fundos e family offices: a EB Capital, de private equity voltada ao middle market, e a e.bricks Ventures, empresa de venture capital que investe em startups.
A EB Capital conta com investimentos da Península, de Abilio Diniz; a Unbox, da família Trajano; da gestora americana Hamilton Lane, entre outros. A e.bricks Ventures segue o mesmo padrão, com dinheiro de fundos, grandes empresários e family offices como o da família Szajman, do grupo VR.
A e.bricks Ventures já investiu em um total de 28 startups por meio de dois fundos. Um deles, de R$ 100 milhões, criado em 2014, fez aportes em startups como GuiaBolso e Contabilizei. O outro, de R$ 200 milhões, criado em 2016, investiu em companhias como Bcredi e Arquivei.
Agora, a e.bricks Ventures vai lançar um novo fundo de US$ 130 milhões até outubro. “Já captamos metade disso”, diz Pedro Sirotsky Melzer, sócio e CEO da e.bricks Ventures, ao NeoFeed.
O novo fundo fará cheques maiores do que os anteriores. “Oitenta e cinco por cento dos aportes serão em rodadas A e B”, diz Melzer. “Serão investimentos entre R$ 15 milhões e R$ 45 milhões.”
Indagado sobre a sua participação na EB Capital e se há troca de informações entre as duas empresas, Melzer é enfático. “São mundos completamente diferentes”, diz ele. “Sou sócio, mas não participo da gestão da EB Capital e as equipes das empresas também atuam separadamente.”
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