Em seu primeiro ano à frente do Banco do Brasil (BB), Tarciana Medeiros entregou um lucro recorde, além de retornos acima da média do mercado, um guidance otimista para 2024 e um aumento do payout de dividendos.
O banco registrou um lucro líquido ajustado de R$ 9,4 bilhões no quarto trimestre, crescimento de 4,8% em relação ao mesmo período do ano anterior. No ano de 2023, o lucro líquido ajustado do BB foi de R$ 35,6 bilhões, crescimento de 11,4% em relação ao ano anterior. Para 2024, a expectativa é de um lucro ajustado entre R$ 37 bilhões e R$ 40 bilhões.
O retorno sobre patrimônio líquido (ROE) alcançou 22,5% nos últimos três meses de 2023, ficando acima do registrado por Itaú (21,2%), Santander (12,3%) e Bradesco (10%). O banco não informou guidance para o retorno em 2024. No ano, foi de 21,6%. Em relação aos dividendos, o banco aumentou o payout para 2024 de 40% para 45%
“Completamos um ano de gestão entregando resultados de excelência e ganhos para toda a sociedade”, disse Medeiros na sexta-feira, 9 de fevereiro, em entrevista coletiva. “Conciliamos nossos objetivos comerciais com a nossa atuação pública, apoiando os mais diversos segmentos da sociedade.”
Um desempenho como este deveria ser motivo para um forte desempenho nas ações, mas elas registram uma das principais quedas do dia. Por volta das 13h15, os papéis recuam 1,9%, a R$ 57,42. O valor de mercado do banco soma R$ 163,9 bilhões.
Vale lembrar que as ações do BB vem em trajetória de alta desde o começo do ano e nos últimos 12 meses, acumulando avanços de 5,7% e 47%, respectivamente, com investidores demonstrando otimismo com o desempenho do banco, além de considerar que as ações apresentam um valuation interessante – a XP vê o banco com um desconto significativo, com uma avaliação atrativa de 5,1 vezes o P/L para 2024.
Além do forte avanço dos papéis, alguns analistas destacaram alguns pontos que consideraram negativos dos resultados. Um deles foi o aumento das provisões para crédito de liquidação duvidosa (PCLD) ampliada, que somaram R$ 9,98 bilhões, aumento de 53% em base anual.
Em relatório, o Goldman Sachs destaca que essa linha veio bem acima do esperado por eles, quase 41%. Os analistas do banco americano apontaram ainda que o índice de inadimplência acima de 90 dias subiu 0,1 ponto percentual na base trimestral e 0,3 ponto percentual na anual, a 2,9%. No ano, alcançou R$ 30,5 bilhões, alta de 82,3%.
Sobre o tema da PCLD, o CFO Geovanne Tobias disse que esse foi um tema do setor bancário de maneira geral. No caso do BB, ele afirmou que o aumento do volume de provisão ocorreu porque, em 2022, o banco usufruiu do benefício do excesso de provisão feito durante o período da pandemia.
“Fomos consumindo esse excesso de provisão e com isso a base de 2022 estava bem menor do que seria de uma provisão normalizada”, disse. “Entendemos que esse é um volume de provisão adequado.”
No caso da inadimplência, Tobias afirmou que ela continua sob controle e que não fosse um caso específico no ano passado (leia-se, Americanas), a inadimplência teria aumentado bem menos, com o índice acima de 90 dias seria de 2,75%.
Outro ponto questionado pelos analistas foi o efeito do Banco Patagônia, subsidiária do BB na Argentina, nos resultados. Segundo a Ativa Investimentos, com o efeito da variação cambial na margem financeira da subsidiária, a margem com o mercado cresceu “incríveis” 80,6% em base trimestral, chegando ao patamar de R$ 5,6 bilhões no trimestre.
Quanto a este ponto, Tobias foi mais direto, afirmando que o Patagônia é parte do negócio do BB, e que assim como outras linhas está sujeita à volatilidade. “Essa variação cambial trouxe volatilidade, que poderia ter trazido volatilidade para o mal, mas ela trouxe para o bem”, afirmou.
Ele disse que a expectativa é de ver o Patagônia trazendo resultados mais parecidos com o visto em 2022, com as medidas de ajuste do governo argentino ajudando a controlar o câmbio e que os resultados da subsidiária se beneficiem com a retomada do comércio exterior do país.