O Grupo OdontoCompany vai testar neste ano uma estratégia de operação com unidades próprias. É uma mudança relevante na operação que concentra mais de 2,8 mil unidades das marcas OdontoCompany, Orthodontic e Oral Sin. Todas são franqueadas.
Os testes devem começar no segundo semestre com a abertura de quatro novas clínicas da marca OdontoCompany. Os locais ainda estão sendo definidos, mas é certo que três lojas ficarão em São Paulo e uma no Rio de Janeiro. O investimento em cada unidade ficará entre R$ 1 milhão e R$ 1,2 milhão.
“Quando a unidade é própria, a margem triplica”, afirma Paulo Zahr, fundador e CEO do Grupo OdontoCompany, em entrevista ao NeoFeed, que lembra que a companhia ganha 7% de royalties por cada unidade franqueada. “A grande vantagem disso é a possibilidade de absorver unidades que estão fechando.”
A companhia já vinha estudando o modelo de unidade própria há algum tempo. “As unidades 'do Paulo' sempre foram um piloto, mas agora queremos trazer isso perto da diretoria e para São Paulo”, afirma o fundador, que é proprietário de 40 unidades da OdontoCompany, todas fora de São Paulo.
A estratégia vem em um momento em que a empresa observa a desaceleração de seu modelo de franquias. De acordo com o CEO da OdontoCompany, foram 140 unidades fechadas no ano passado – número que estava dentro do previsto de 6% do total.
O problema é que o ritmo de aberturas diminuiu. Foram apenas 256 novas lojas inauguradas em 2023. A previsão da OdontoCompany era abrir cerca de 400 clínicas no ano passado. “O número de franqueados caiu muito”, afirma Zahr. “O empreendedor vê a taxa de juros e decide não arriscar.”
Essa redução no número de lojas não impediu a companhia de crescer 11% no ano passado. O sell out ficou em R$ 4,5 bilhões. A receita do negócio é de aproximadamente 7% desse número, o que significa que o faturamento girou em torno de R$ 315 milhões em 2023. A expectativa é aumentar o sell out para R$ 5 bilhões neste ano.
Zahr não revela o lucro da operação, mas diz que a margem Ebitda fica em torno de 65%. “A margem trafegava em mais de 74%, mas dimensionamos o atendimento ao franqueado e abrimos contratações”, diz Zahr. O empresário conta que foram mais de 90 contratações feitas somente na OdontoCompany.
Aumentar a receita e o lucro envolve não apenas colocar novas unidades em operação, mas também controlar o fechamento das lojas. Segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF), a OdontoCompany terminou o ano passado com 1.899 unidades em funcionamento, 5,2% a menos do que em 2022.
A marca é a quinta maior em número de franquias do País. Fica atrás somente de Cacau Show (4.216 unidades), O Boticário (3.689 unidades), McDonald's (2.662 unidades) e Ortobom (2.380 unidades) – todas registraram aumento no número de unidades, segundo dados da ABF.
A diferença para os números apresentados pelo Grupo é que a ABF não considera as unidades das marcas Oral Sin (para implantes) e Orthodontic (voltada para tratamento ortodôntico). Juntas, as operações que foram adquiridas em 2021 e 2022, respectivamente, somam cerca de 900 clínicas espalhadas pelo Brasil.
Em relação ao setor, o relatório da ABF aponta que o faturamento das franquias no Brasil somou R$ 240,6 bilhões no ano passado, alta de 13,8% na comparação com 2022. Já o número de unidades aumentou 17,3% no período.
Grande número de empreendedores
O que explica, então, a queda no número de franqueados da OdontoCompany? Um argumento é o desânimo dos empreendedores com o setor. No ano passado, um estudo do Ministério da Saúde realizado com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que menos da metade dos brasileiros vai ao dentista ao menos uma vez por ano.
Esse número pode ser ainda menor de acordo com a classe social. Vale lembrar que a OdontoCompany foca em um público de classes D e C. Para piorar, a disputa por esses pacientes é acirrada. O Brasil é o país que concentra o maior número de dentistas no mundo. São mais de 415 mil profissionais e 78 mil clínicas em funcionamento, segundo dados do Conselho Federal de Odontologia.
Outra questão a ser considerada é o número de franqueados que a OdontoCompany possui. Ao contrário de grandes redes em que as unidades são concentradas na mão de poucos franqueados, a empresa de odontologia possui uma operação mais pulverizada - são mais de 1,8 mil franqueados únicos.
Lidar com um número tão grande de empreendedores se torna um desafio para o Grupo. "Como você reúne os franqueados?", pergunta Zahr, que também lembra que a maior parte dos donos das lojas são micro e pequenos empresários.
Repasse de ações
Avaliada em mais de R$ 3 bilhões, a OdontoCompany passa por um momento de mudanças internas em seu corpo de acionistas. No ano passado, o jornal Valor Econômico noticiou que a gestora L Catterton estava procurando uma saída do negócio. O NeoFeed confirmou a informação com fontes a par das negociações.
A gestora ainda não encontrou um comprador para a sua posição de cerca de 30% do negócio. O restante das ações está dividido entre Paulo Zahr e o Grupo SMZTO, do empresário José Carlos Semenzato.