Desde que deixou o cargo de ministro da Economia, após a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro, Paulo Guedes fez poucas aparições em público, dedicando-se mais aos seus próprios projetos, como a gestora Yvy Capital e um MBA na área de macroeconomia e portfólio management, em parceria com o influenciador Thiago Nigro.
Nesta quinta-feira, 25 de julho, porém, Guedes tomou o palco do evento Avenue Connection, em São Paulo, para participar de um painel que trataria sobre a importância da diversificação internacional. Em vez disso, em uma fala de pouco mais de duas horas, o ministro fez uma grande análise sobre o panorama atual global e como o Brasil pode, ou não, se beneficiar do momento.
O ex-ministro aproveitou a oportunidade para tecer críticas a respeito da condução da política fiscal pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacando que esse é um tema que pesa há anos, mas que a situação é ainda pior no atual governo, que abriu mão de qualquer tipo de controle dos gastos públicos.
“O novo governo tirou o teto, tirou tudo e decidiu chutar o balde, fazer o que quiser”, disse Guedes, na apresentação. “Isso vai levar a impostos mais altos, crescimento para baixo, inflação subindo.”
Ele não se limitou a criticar o governo atual em relação à política fiscal. Em sua visão, o problema vem desde o fim do regime militar, que se endividou enormemente, passou pelo governo tucano, cujo regime de meta não ajudou a colocar a dívida para baixo, com os resultados sendo insuficientes para colocar ordem nas contas públicas.
Guedes até chegou a demonstrar uma visão positiva sobre o teto de gastos, mas disse que a pandemia mostrou que se tratava de uma solução temporária, uma vez que foi necessário gastar mais para lidar com os efeitos da Covid-19, além de não lidar com a questão dos gastos em tempos normais.
Para ele, o Brasil conseguiu evoluir em uma série de frentes na esfera da economia, como deixar o câmbio flutuar e estabelecer a meta de inflação, mas ainda precisa avançar na parte fiscal. “O fenômeno subjacente [dos problemas do Brasil] sempre foi o mesmo, o excesso de gastos”, disse Guedes.
O ex-ministro voltou a defender um projeto que tentou emplacar no fim do último mandato, de criar metas para o endividamento do Brasil. A ideia é ter uma meta de banda variável para a dívida pública, com gatilhos na parte de gastos para garantir seu cumprimento, de forma a impedir que o governo se endivide para financiar as despesas.
Guedes também aproveitou para defender seu mandato nessa frente, afirmando que apesar da pandemia, conseguiu triplicar o valor do Bolsa Família, então Auxilio Brasil, e reduzir a relação entre dívida e PIB, apostando em desinvestimentos.
Para ele, o Brasil precisa resolver essas questões para “deixar de brigar com si mesmo” para aproveitar as oportunidades que a nova reconfiguração das cadeias globais está apresentando e o crescimento da população global nos próximos 25 anos, com a perspectiva da chegada de mais 2 bilhões de pessoas em países emergentes.
Guedes falou também das oportunidades do Brasil na economia verde, diante da matriz energética limpa que tem, do seu potencial para a indústria local e também para exportação de produtos nessa frente. “Vai ter o greenshoring, e vão ter que conversar conosco”, disse.
Ele apontou ainda a questão da segurança alimentar, afirmando que o País possui uma grande vantagem comparativa, mas que precisa atuar para fortalecer a cadeia produtiva, indo além da exportação de commodities, com o desenvolvimento de uma agroindústria local.
“Nós temos soja, mas por que não temos uma fábrica de óleo do outro lado da rua? A gente importa óleo de soja”, disse. “O mesmo acontece com o minério de ferro.”