A Azul chegou a um acordo com seus arrendadores e fabricantes para fortalecer a geração de caixa da companhia e melhorar sua estrutura de capital, de acordo com o fato relevante enviado ao mercado pela companhia.

Com a negociação, a Azul eliminará R$ 3 bilhões do saldo atual de sua dívida, em troca de 100 milhões de novas ações preferenciais de emissão única, que serão destinadas aos donos dos aviões utilizados pela empresa. Esse grupo representava 92% das obrigações de emissão de ações existentes.

Assim, os fabricantes receberão aproximadamente R$ 575 milhões em ações da Azul, com base no valor do fechamento de R$ 5,75 do pregão de segunda-feira, 7 de outubro, quando o acordo foi anunciado.

Na pré-abertura da bolsa de Nove York no dia seguinte ao acordo, o papel da Azul no mercado americano de ações subiu mais de 13,6%. E abriu o dia de negociação com alta de 17%. Na B3, a ação AZUL4 subia 15%.

Para Pedro Bruno e Matheus Sant'anna, analistas da XP, o acordo é positivo. "O negócio implica em uma diluição significativamente menor em comparação com o instrumento conversível em ação e poderia desencadear iniciativas de financiamento adicionais, como dívida incremental, potencialmente aumentando a liquidez de curto prazo da Azul", afirmaram em relatório.

Bruno Amorim e João Frizo, do Goldman Sachs, mantiveram a recomendação neutra para a ação da companhia aérea. "De acordo com nossas estimativas, após a emissão, os arrendadores e fabricantes manteriam até cerca de 22% participação na empresa. Estimamos que, considerando a contagem de 100 milhões de ações e a obrigação de R$ 3 bilhões trocada, isso implicaria em, aproximadamente R$ 13,4 bilhões equity value por 100% da Azul".

Há um ano, a Azul tentou realizar um movimento semelhante. Na época, a companhia aérea fechou um acordo com os arrendadores e fabricantes para entregar US$ 570 milhões em ações, avaliadas a R$ 36, como parte de uma reestruturação.

Porém, a empresa se deparou com queda de mais de 65% nos seus papéis no período, o que levou seu valor de mercado a R$ 1,6 bilhão. Assim, a nova tentativa de negociação se ajusta aos padrões atuais de mercado da companhia.

Agora, o acordo, que já era aguardado pelo mercado, mostra um caminho para a companhia que enfrenta dificuldades para lidar com suas dívidas de curto prazo. Nesse percurso, opções como uma possível oferta de ações e até um pedido de recuperação judicial no molde do chapter 11 foram cogitados, mas nenhum se concretizou.

"Esse acordo com os arrendadores deve facilitar as negociações com outros credores", avaliou o analista do Bradesco BBI, Victor Mizusaki. "Os próximos passos para a gestão de passivos da Azul incluem a captação de capital adicional e possivelmente o alongamento dos vencimentos dos títulos."

A companhia pode se beneficiar da nova injeção de ânimo, já que tem passado por momentos de dúvida no mercado. Em setembro, a Fitch Ratings rebaixou a classificação da Azul para CCC, pensando no aumento do risco de refinanciamento da empresa e em seu fluxo de caixa. Seguindo a mesma linha, Moody’s e S&P também reduziram suas avaliações sobre a empresa no último mês.

Pensando no futuro, a companhia afirmou que as negociações com os detentores dos 8% restantes das obrigações de emissão de ações continuam em andamento, assim como as conversas com outras partes interessadas.