A Wise começa a expandir seu mercado endereçável para além da pessoa física. Depois de se estabelecer como um dos principais vencedores da batalha da conta global no País, tendo como uma das principais conquistas a liderança do ranking de câmbio do Banco Central (BC), a fintech britânica está de olho na pessoa jurídica.

Em ritmo de expansão pelo mundo, a Wise começa o ano com planos para crescer no segmento de pequenas e médias empresas e microempreendedores no Brasil, de olho num mercado que movimentou US$ 2,8 bilhões em exportações em 2023.

“No mundo, o crescimento com certeza será o nosso foco, e no Brasil também”, diz Kristo Käärmann, co-fundador e CEO da Wise, ao NeoFeed, em entrevista exclusiva, durante sua visita ao País. “Temos uma boa base de clientes pessoa física e agora estamos agregando a parte de negócios, nossa principal atenção em 2025.”

A empresa começou a investir nessa frente em dezembro de 2024, quando lançou a Wise Empresas, conta global que permite microempresas brasileiras com necessidades de pagamentos internacionais, podendo receber em 18 moedas e gerenciar transações em mais de 40 divisas.

O foco da Wise Business são microempreendedores individuais (MEIs) e microempresas com um único dono e até dez funcionários. São pessoas e companhias que prestam serviços e trabalham para companhias estrangeiras ou fazem alguns tipos de exportação em pequena escala.

Segundo Enio Almeida, diretor executivo da Wise no Brasil, trata-se de um público de 16 milhões de empreendedores, com muitos deles na própria base da companhia – cerca de 30% dos clientes são donos de negócios. “Temos um enorme mercado a ser explorado no Brasil”, diz ele.

Dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) demonstram que o mercado que a Wise está mirando está cada vez mais se internacionalizando. Segundo levantamento, em dez anos, o número de empreendedores que estão vendendo produtos e serviços para outros países cresceu 120%, enquanto as médias e grandes empresas cresceram 29% no mesmo período.

Para servir esse público, a Wise aposta numa cesta com serviços que grandes bancos oferecem aos seus maiores clientes, como emissão de faturas em múltiplas moedas, cartão empresarial e envio internacional de reais.

Mais adiante, a companhia quer se diferenciar com produtos até então restritos a alguns países. Um deles é o de mecanismos de rentabilizar os recursos parados na conta, seja em títulos da dívida ou no mercado financeiro via ETFs, algo presente para os clientes no Reino Unido, Europa e Singapura.

Pelo fato de a Wise ser uma companhia de capital aberto em Londres, Käärmann não informa projeções de quanto a vertical brasileira pode representar nos resultados. No mundo, os serviços da Wise para empresas foram responsáveis por 24,6% da receita consolidada no ano fiscal de 2024, encerrado em 31 de março do ano passado, de £ 1,2 bilhão (US$ 1,4 bilhão).

A vertical conta com 625,8 mil clientes pelo mundo. Embora sirva companhias maiores, a maior parte são de pequenas e médias empresas, foco que deve permanecer no futuro próximo, considerando as oportunidades.

Segundo Käärmann, a possibilidade de expansão é enorme, considerando quanto a companhia movimenta globalmente. Ele estima que, do fluxo de recursos pelo mundo, a Wise é responsável por cerca de 5% para pessoas físicas e 0,6% para pequenas empresas. A companhia não tem guidance para crescimento.

“Não acho que vamos servir grandes indústrias e grandes companhias no Brasil, que devem receber bons serviços de seus bancos”, diz  CEO da Wise.

Junto com o avanço na parte de PJ, a Wise também está adaptando seus sistemas para atender as características e necessidades locais. Isso inclui concluir a integração do PIX à plataforma, serviço que também estará disponível para estrangeiros que forem usar suas contas Wise no Brasil. A possibilidade de oferecer PIX veio após a companhia obter a licença de Instituição de Pagamento do BC, em setembro do ano passado.

A Wise também pretende trazer produtos na frente de investimentos para os clientes pessoa física, dentro da mesma estratégia da PJ, de ser um mecanismo para rentabilizar recursos, não necessariamente para fins de investimentos.

Ao mesmo tempo, a empresa trabalha para expandir as parcerias com outros bancos, para oferecer os serviços de câmbio. Em abril, a companhia fechou um acordo com o Nubank para oferecer uma conta global para o segmento de alta renda do banco roxinho. A conta PJ ainda não está disponível para os parceiros. Outro acordo é com a Travelex Confidence, firmado no ano passado.

Pelo mundo

Os planos de expansão pelo Brasil vem no momento em que a Wise se estabeleceu como uma das principais fintechs de transferências internacionais, com cerca de £ 118,5 bilhões (US$ 144 bilhões) movimentados no ano fiscal de 2024 e 12,8 milhões de clientes ativos pelo mundo.

Käärmann fundou a Wise, chamada inicialmente de Transferwise, há 14 anos junto com Taavet Hinrikus, em Londres, a partir da dificuldade dos dois, ambos estonianos, em movimentar recursos. Taavet foi um dos primeiros funcionários da Skype, recebia em euros, mas morava em Londres e precisava converter para Libras. Käärmann trabalhava em Londres na Deloitte, mas precisava enviar dinheiro para a Estônia para pagar uma hipoteca.

De um serviço para movimentar dinheiro exclusivamente dentro da Europa, a Wise cresceu, agregando mais de 40 moedas, operando em 160 países, com 6 mil funcionários em 11 escritórios. Em 2021, a empresa abriu o capital em Londres, sendo avaliada em £ 8 bilhões (US$ 9,7 bilhões) – atualmente, seu market cap é de £ 10,8 bilhões (US$ 13,1 bilhões), com as ações acumulando queda de 2,1% no ano.

No Brasil, a Wise conseguiu uma posição de destaque num marcado de contas globais congestionado por nomes nacionais parecidos, como Nomad, passando por concorrentes internacionais como Revolut, fintechs como Avenue, Inter, C6 Bank, e incumbentes, como Bradesco.

Com operação no País desde abril de 2016, a Wise conta com 2 milhões de cartões emitidos, cerca de 18,2% da base global. Em 2023, a empresa liderou o ranking de corretores de câmbio do BC, com US$ 8,7 bilhões. A companhia também ficou em primeiro lugar em quantidade de operações realizadas em dezembro, com 2,7 milhões, superando grandes bancos, como Santander e Itaú.

Käärmann diz que a Wise não oferece dados de receita por geografia, pelo fato de a companhia ser de capital aberto, mas destaca que o Brasil apresenta importância relevante para os resultados da companhia.

“Nossa pegada geográfica é, de maneira geral, 25% Estados Unidos e Canadá, cerca de 20% é Reino Unido, 30% é Europa e 25% é Brasil e Ásia Pacífico”, afirma o CEO. “É um grupo grande de países, mas o Brasil é grande dentro dele.”

Além do Brasil, a Wise está com planos de consolidar operações em outros mercados. É o caso da Austrália, em que também está investindo no mercado B2B.

A expansão para novos países também está na agenda, mas Käärmann não revela quais. A proposta é seguir de forma orgânica, como fez até agora. Até o momento, a companhia não apostou em M&A, mas não é algo descartado.