Depois de um "namoro" de quatro anos, a Cloud9 Capital está finalmente embarcando na V360, que atua em gestão de pagamentos B2B para empresas. A gestora de venture capital liderou o aporte de R$ 40 milhões de uma rodada série A, que também teve a participação do fundo Honey Island by 4UM, fruto da parceria entre a gestora 4UM Investimentos e a Honey Island, criada por fundadores do Ebanx. Carpa e Allievo também participaram do aporte.
Esse é o quinto investimento da Cloud9 Capital, gestora fundada por Felipe Affonso, Noah Stern e Rafael Serson, que tem aproximadamente R$ 500 milhões sob gestão e busca empreendedores e empresas que estão fora do radar dos fundos de venture capital. O portfólio inclui ainda Zig, OnFly, Cilia e Clinicorp.
“Decidimos captar oportunidades importantes de crescimento para nos consolidarmos como o principal player em duplicatas escriturais. É um mercado enorme, ainda inexplorado", diz Izaías Miguel, co-CEO da V360, ao NeoFeed. "E a nova regra deve beneficiar todo o ecossistema brasileiro.”
Fundada em 2019 por Victor Campos e Carlos Vetter, a V360, que é um spin-off do grupo Visagio, começou como uma plataforma SaaS para automação do ingresso e gestão de notas fiscais e se transformou em uma solução de gestão de pagamentos a fornecedores, que vai desde antecipação de recebíveis até, agora, a gestão de duplicatas escriturais.
Dessa forma, conquistou mais de 100 empresas de grande porte como clientes, a exemplo de Raízen, Vale, Caixa, Suzano e Stone, além de outros 50 mil fornecedores de pequeno e médio porte.
Seu sistema, com base em inteligência artificial, permite que os assinantes acessem dashboards inteligentes para monitorar notas fiscais inconsistentes e pagamentos em atraso.
Na outra ponta, os fornecedores contratados por essas grandes empresas têm acesso a um portal Web que permite que acompanhem o status de seus pagamentos, sejam notificados sobre divergências nos documentos, agendem suas entregas e antecipem seus recebíveis.
Com os recursos do aporte, o plano da V360 é fazer com que a empresa dobre de tamanho e fature mais de R$ 100 milhões até 2026. Para isso, ela vai começar a explorar o mercado de duplicatas escriturais, que está em fase de regulação pelo Banco Central.
Esse tipo de duplicata, que passa a ser emitida por meio de um sistema eletrônico de escrituração, deve começar a valer em novembro de 2025. Ela permite que títulos e notas fiscais sejam digitalizados e recebam validação de registradoras autorizadas pelo Banco Central.
Na prática, a expectativa é que fornecedores ganhem mais liberdade para negociar seus recebíveis no mercado. E, com isso, passem a ter acesso a taxas menores e maior liquidez. Do outro lado, o risco para o pagador aumenta, já que ele terá a responsabilidade de organizar e automatizar os pagamentos.
A ferramenta desenvolvida pela V360, que já está sendo testada em duas companhias de grande porte, se propõe a realizar a automação completa do ciclo de pagamentos para reduzir riscos de erros e atrasos.
“Estamos bem animados porque esse é um mercado enorme e ainda pouco explorado. O mercado de duplicatas pode movimentar no Brasil cerca de R$ 15 trilhões por ano”, afirma Rafael Serson, sócio da Cloud9 Capital.
O co-CEO da V360 acredita que a nova regulação das duplicatas escriturais poderá promover uma mudança tão significativa quanto a que ocorreu no mercado de recebíveis de cartão, possibilitando a ampliação das negociações.
“Quem tinha uma maquininha X, só poderia antecipar o valor com a empresa da maquininha. Depois da nova regra, o comerciante passou a poder antecipar com bancos e qualquer outro player”, diz Miguel. “A mesma coisa vai acontecer com as duplicatas.”
A V360 vai investir também recursos na expansão da equipe comercial, a fim de atender mais clientes. “Acredito que há espaço para oferecer novos serviços para as companhias que já são clientes e também capturar outras empresas de grupos que já fazem parte do portfólio”, afirma Miguel.
Essa não é a primeira captação da V360. Em 2021, a empresa fez uma rodada seed de R$ 3 milhões, liderada pela Allievo. Dois anos depois, levantou mais R$ 20 milhões, numa captação liderada por Visagio e Carpa.